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Marshall velho de guerra

Imagine um jovem em seu primeiro emprego, um daqueles trabalhos opressores e monótonos, um universo novo e decepcionante – embora necessário, afinal a vida adulta já havia chegado. Dias de luta. É aí que começa essa história com o amplificador de guitarra Marshall MS-2, por mais estranho que pareça.

O tal jovem já arranhava um violão e sonhava em tocar guitarra como seus ídolos, mas os dias passavam rápido demais. Até que um dia, pela janela do escritório, ouviu uma guitarra tocando. Não era uma gravação, era alguém tocando Lenny, de Stevie Ray Vaughan. E era quase impossível alguém tocar tão bem logo ali, tão perto. O jovem passou a tentar ouvir o tal guitarrista de longe, sempre que o chefe abominável não estava por perto. O melhor lugar, logo descobriu, era o banheiro (havia um duto de ventilação que facilitava a audição. É sério). Isso deixou uma enorme vontade de voltar a estudar música, de tocar, de arranhar o violão.

Como encontrar um professor de guitarra?

Naquela época era assim que se procurava um professor de música: comprava-se um jornal de classificados (O Balcão, no caso) e tentava-se achar no meio daquela infinidade de opções o anúncio perfeito. E o impossível aconteceu, não só havia um professor de guitarra disponível, como ele era especializado em blues. Mais do que isso, ele era o guitarrista de uma das melhores bandas do Brasil daqueles dias, cujas músicas tocavam no programa Black and Blues da rádio Fluminense FM. Perfeito demais para ser verdade.

Ligação feita, do escritório mesmo, e aí sim o impossível acontece. O professor tinha vaga, o preço era acessível, horário compatível, pertinho do trabalho.

Se você chegou até aqui, esta é a melhor parte: o tal guitarrista que tocava Lenny pela janela era o o professor anunciado no jornal! O mesmo cara! Morando e dando aulas ao lado do escritório, hipnotizando os garotos das redondezas com seu blues elétrico.

(Se estiver curioso, o guitarrista era o Big Gilson, do Big Allambik)

Foi uma época memorável. O trabalho detestável levou a aulas incríveis com um guitarrista de primeira linha. Nem vou tentar explicar como isso parece uma fábula, com direito a moral da história e tudo.

O som que se ouvia ecoar na quadra da zona sul do Rio saía de uma Gibson SG e um Marshall MS-2, um simples mini amplificador que é o astro da coluna de hoje. Míseros 2 watts e um tamanho minúsculo.

Por influência do professor comprei um, este da foto, e fomos muito felizes durante muitos anos. Hoje em dia a relação anda meio fria e distante, o MS2 anda meio rabugento e ruidoso, afinal ele já é um senhor e nunca foi poupado. São mais de 20 anos de funcionamento, então eu só posso recomendar este pequeno aparelho para quem quer que precise de um mini amplificador de guitarra que dure para sempre.

Naquela época era um milagre um aparelho tão incrível chegar aqui no Brasil, e por um preço razoável – quem diria. E ele foi muito bem recebido, vendeu bastante bem naqueles dias, quando não tinha concorrência.

Não podemos afirmar que a Marshall inventou o conceito de mini amp, mas este foi campeão absoluto por muito tempo. Além disso, cara, era um troço com o nome Marshall escrito, e isso era muito legal.

E o Marshall  MS-2 é bom?

Resposta curta: sim.

Resposta longa…

Não entraremos em detalhes técnicos, mas posso dizer que o pequeno amp captura bem o estilo de distorção que caracteriza o som Marshall. Ele fala alto, para o tamanho, e soa bem – com as limitações de seu minúsculo falante. É o suficiente para ser ouvido na vizinhança sem incomodar, como na história contada lá no início.

Então, ele é bom sim – mas as limitações são evidentes.

Sempre foi meio ruidoso. Seu gabinete plástico vibra em “altos” volumes, entre outras peculiaridades. Hoje em dia a concorrência já o superou e muito. Mas ainda é divertido.

A foto que ilustra este post é do próprio aparelho do qual estamos falando, agora um senhor idoso. Outros mini amplificadores surgiram, mas o MS2 é nosso xodó.

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