Este livro é uma pequena joia para aqueles que se interessam pelos primórdios do rock brasileiro. Lançado pela editora Nitpress, não é fácil de se encontrar por aí – mas vale a busca. É uma leitura fácil, saborosa e surpreendente. Se você não viveu a época, anos 60 e 70, será irremediavelmente transportado para um Rio de Janeiro de outra época, quase outra dimensão. Embora não tenha este enfoque explícito, este Volume 1 foca em bandas cariocas – resultado das vivências do autor, Nelio Rodrigues, pernambucano que cresceu no Rio.
Nos anos 60 havia a Jovem Guarda, que bebia na fonte do rock anglo americano com um resultado adocicado. Havia também Mutantes e Raul Sexias, flertando com o grande público e com a MPB. Havia outros, com maior ou menor sucesso, mas havia uma turma que se posicionava alguns passos mais para dentro do rock and roll, mais underground, mais barulhento e rebelde. Se os nomes Analfabitles, Faia ou Módulo 1000 dizem pouco ou nada a você, este livro será muito informativo para você, jovem roqueiro.
As histórias variam entre verdadeiros casos típicos do universo roqueiro a pequenas histórias quase simplórias, e ou autor conta tudo com conhecimento de causa e carinho por aquela cena. Vez por outra parece que algumas bandas estão sendo supervalorizadas, mas é preciso entender que o texto se passa em outra era, outro Brasil, outro mundo. Por sorte, muitos dos protagonistas ainda estão por aí, e foram fartamente consultados para a produção deste livro. Alguns deles fizeram carreira na música e você reconhecerá os nomes, outros seguiram a vida por outros rumos, após aqueles anos de sonho juvenil.
A Parte 1 do livro concentra-se em histórias das bandas Os Selvagens, The Cougars, Analfabitles, The Red Snakes, All Stars, Sound Factory, Faia, Karma e Lodo. Na Parte 2, há entrevistas com ex integrantes do Módulo 1000, Vímana, Mutantes e outros.
“Em Copacabana, os Selvagens se apresentaram em um amplo terraço (…). Uma multidão se aglomerou diante da loja, bloqueando inteiramente a calçada (…). Deu-se um nó no trânsito. Buzinas, gritos, aplausos e o som alto dos amplificadores reverberaram como uma massa sonora (…). Caos total.”
Algumas das passagens mais interessantes contam como as bandas divulgavam seus shows apresentando-se nos panfletos como grandes estrelas. Em uma época de pouca informação, às vezes colava, e o público comparecia para ver aqueles rebeldes roqueiros – mesmo sem ter muita ideia de quem eram eles.
Este é o tipo de livro que não é apenas uma curiosidade, mas é também um documento que registra uma história quase apagada e muito pouco divulgada. Para nós que nos interessamos por música, é obrigatório. Nosso exemplar é de 2009 e ainda torcemos por um Volume 2. Para nossa sorte, Nelio publicou alguns anos mais tarde um livro que é uma espécie de continuação e revisão deste pequeno livro, chamado Histórias Secretas do Rock Brasileiro, um livro maior e mais abrangente sobre o qual falaremos no futuro.
HISTÓRIAS PERDIDAS DO ROCK BRASILEIRO, VOLUME 1
de NELIO RODRIGUES
EDITORA NITPRESS, 2009
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