Usuários gratuitos do Spotify e YouTube já são um desafio maior que a pirataria

O tráfego para sites de pirataria está caindo significativamente, se tomarmos com exemplo os dados mais atuais de alguns países europeus. A tendência de queda em parte é o resultado dos esforços de bloqueio deste tipo de site sites. Ao mesmo tempo em que a pirataria musical está se tornando menos problemática, o grupo italiano da indústria musical FIMI sinaliza problemas de outra natureza – incluindo o desafio de converter usuários gratuitos do YouTube e Spotify em consumidores pagantes de música.

O bloqueio de sites piratas provou ser uma ferramenta bastante eficaz de proteção de direitos autorais em muitos países.

A Itália adotou uma abordagem particularmente ativa. Nos últimos anos, milhares de domínios da internet foram adicionados à lista de bloqueio do país, após inúmeras reclamações de detentores de direitos autorais.

Não são apenas os números que tornam o caso da Itália diferente, o próprio mecanismo de bloqueio também é único. Para ter um site bloqueado, os detentores de direitos podem solicitar à Agcom, responsável pelas telecomunicações locais, que emita uma ordem – sem a necessidade de um julgamento.

Em vez de discutir os bloqueios em um tribunal, a Agcom tem o poder de conceder liminares sem judicializar a causa, poder do qual faz uso com regularidade. Somente no ano passado, 385 ordens de bloqueio foram emitidas pelo órgão de fiscalização das telecomunicações.

Os esforços de bloqueio de sites específicos obviamente reduziram o tráfego para os sites de destino, mas – de acordo com os dados divulgados pela Agcom – o número de visitas a todos os outros sites de pirataria também caiu. Como demonstrado abaixo, o número de visitas a sites piratas diminuiu mais de um terço (35%) entre 2018 e 2019.

pirataria

A tendência de queda do tráfego é visível em todos os tipos de sites de pirataria, mas a queda de tráfego nos sites bloqueados é mais acentuada, obviamente. O gráfico abaixo mostra que o número de visitantes dos sites bloqueados reduz repentinamente após a emissão de uma nova ordem de bloqueio.

Por exemplo, em janeiro de 2019, 2conv.com (linha azul) e flv2mp3.by (linha verde) foram bloqueados e logo em seguida os números de visitantes diminuíram rapidamente.

A Agcom e vários grupos da indústria do entretenimento estão satisfeitos com o impacto geral. Eles acreditam que, depois de muitos anos de tentativas, finalmente conseguiram controlar a pirataria.

O site TorrentFreak conversou com Enzo Mazza, chefe do grupo FIMI, que acredita que uma combinação de bloqueio aos sites e campanhas educacionais valeu a pena.

“O primeiro grande bloqueio foi contra o Pirate Bay em 2008 e o caso foi julgado pela Suprema Corte. Em termos de impacto no mercado, o bloqueio de sites provou ser eficaz em conjunto com o aumento da oferta legal”, diz Mazza.

Embora essa seja uma notícia positiva para a indústria da música, isso não significa que está tudo bem. Mazza nos informa que existem problemas maiores que a pirataria. Ironicamente, esses problemas estão ligados às alternativas legais para as quais mudaram muitos daqueles que antes consumiam pirataria.

“A questão principal aqui não é pirataria. A questão agora é como converter usuários de contas gratuitas do YouTube e Spotify em clientes premium“, diz Mazza. “A Itália é um país onde a cultura da liberdade é enraizada e não é fácil levar as pessoas para um modelo de assinatura paga”.

Quase 90% dos consumidores italianos de música usam o YouTube para ouvir músicas, o que é um problema para o setor. Ao mesmo tempo em que essas pessoas estão curtindo a música legalmente, as gravadoras gostariam de vê-las convertidas em clientes pagantes.

“As taxas de conversão ainda estão baixas e este é um grande desafio para o setor. Estamos pedindo especificamente ao Spotify que faça mais esforço em campanhas promocionais, a fim de atrair novos clientes premium“, diz Mazza.

Portanto, embora os esforços de bloqueio de sites tenham ajudado a reduzir as taxas de pirataria, isso não resulta imediatamente em muito mais receita para o setor.

O próximo passo é converter essas mesmas pessoas em assinantes pagantes. No entanto, isso deve ser feito com cautela, pois o corte das opções gratuitas pode simplesmente levar as pessoas de volta aos sites de pirataria.

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Baseado no trabalho disponível em https://torrentfreak.com/free-spotify-and-youtube-users-are-now-a-bigger-challenge-than-music-pirates-190721/
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