Amplificador ZT Club 12 CLG1S

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Os músicos de jazz – como sabemos – são pessoas curiosas e inconformadas, pelo menos em relação às necessidades de amplificação de sua guitarra. A partir de certo momento, por algum motivo, os sons míticos gravados nos anos 50 e 60 por Wes Montgomery, Barney Kessel, Tal Farlow ou Jim Hall com os amplificadores valvulados da época (geralmente Fender ou Gibson, às vezes Standel ou alguns outros) não eram mais satisfatórios.

No final da década de 1960, uma pequena empresa californiana, a Polytone, chegou ao mercado com o que dizia ser o novo padrão de amplificadores para guitarristas de jazz. Eles eram transistorizados, potentes, mas leves e facilmente transportáveis. Em cerca de dez anos, eles ganharam uma excelente reputação entre os guitarristas de jazz, quase sem publicidade, aproveitando a “vox populi” e o endosso de George Benson (que usou um no mítico Breezin de 76), seguido por muitos outros, incluindo os inesquecíveis Herb Ellis, Jim Hall e Joe Pass.

Pequenos transistorizados de Jazz

Além dos vários transistorizados Roland, Yamaha, Peavey e Fender voltados para o músico de jazz de modo mais específico, nas décadas seguintes chegaram os amplificadores de boutique, com sofisticados recursos de design (tanto quanto possam ser sofisticados os amplificadores de guitarra) e timbres bem calibrados para soar melhor com guitarras archtop: entre estes eu menciono um dos que mais apreciei, o Henricksen Jazz Amp da década de 2000. Pequeno em peso e tamanho, alta potência, ataque forte, som comprimido, resposta aparentemente linear, agudos sob controle e graves eventualmente enfatizados: resumindo, estas são as características básicas para se tocar o coração do jazzista pós-methenyano.

Bem, o amplificador ZT Club 12 sobre o qual vamos nos debruçar teve sua produção encerrada em 2017, mas pode ser encontrado aqui e ali como usado. Ele nasceu como uma evolução no tamanho e no falante do popular ZT Lunchbox com alto-falantes de 6,5″ (ainda em produção) que no Club 12 se torna um falante de 12″.

Agradeço ao meu amigo jazzista Gianluca Lucantonio por disponibilizar o amplificador, permitindo-nos esmiuçar e estudar de perto esta marca americana que ainda é nova, mas conduzida discretamente por um velho conhecido do mundo do áudio.

O grito de liberdade de Ken

A ZT Amplifiers nasceu de uma empresa de Kenneth Kantor, alguém que desde criança compõe, toca e constrói seus próprios amplificadores valvulados. Ele é graduado como engenheiro eletrônico, especializado em alto-falantes e apaixonado por psico-acústica, trabalhou na NAD (New Acoustic Dimension), foi diretor de P&D da Acoustic Research (AR: histórica marca de falantes e sistemas de áudio de Boston) nos anos 80.

Kenneth trabalhou com sistemas baseados em psico-acústica, como o Magic Speaker e processadores para controlar variações de áudio em ambientes. Mais tarde, mudou-se para a NHT, ainda no setor de alto-falantes, mas ainda em psico-acústica. Em 1990, a NHT é vendida para Jensen e Kantor segue em frete. Em 2004, juntamente com Michael Hackworth da Cirrus Logic, fundou a Tymphany Co., que detém a histórica marca dinamarquesa Peerless e está entre os líderes mundiais na produção de alto-falantes avançados direcionados ao consumidor final.

Ao chegar em 2007 Ken formou a ZT Amplifiers, dedicada à produção de amplificadores para instrumentos musicais com projeto americano e construção chinesa. Recentemente foi inaugurada a ZT Custom Shop, que produz na Califórnia, em Benicia, com o máximo de componentes americanos, tanto quanto possível, e acabamentos luxosos. O preço desses modelos pula de algumas centenas de dólares da série normal para 1.300/2.000 dólares. Entre os endossantes está Lee Ranaldo, guitarrista do Sonic Youth e produtor.

Em suma, já deu para entender de que tipo de empresa estamos falando, certo? Muito além de artesanato! Essa introdução pode ter sido entediante para você, mas já nos faz entender algo sobre o amplificador com o qual estamos lidando sem nem mesmo descrevê-lo. Bem, então vamos descrevê-lo agora…

Digital Solid State

O amplificador ZT Club 12 é feito em MDF pintado em cinza prateado; ele é bonito de se ver com os seus cantos arredondados ao estilo das antigas TVs de tubo de raios catódicos, e também é resistente. O peso é de cerca de 10 kg, e as dimensões são compactas: 357 x 235 x 381mm. A construção é praticamente selada, ligeiramente maior que as dimensões do próprio falante, que é protegido por uma grade metálica, e alça plástica resistente. Um conjunto que promete muito em termos de resistência à dura e imprevisível rotina do guitarrista da noite e de estúdio.

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Na parte traseira há uma bela placa de alumínio escovado que fecha o gabinete e acomoda as tomadas de serviço e uma alça de metal para remoção.

A potência declarada é de 200 Watts na classe A/B (na verdade, cerca de 125 contínuos e 200 musicais), mas o que mais importa é a eficiência do cone, com um SPL de 130dB 1W/ 1m.

O circuito é semelhante àquele parcialmente digital do amplificador ZT Lunchbox, do qual o Club 12 se diferencia, além do falante de 12″, por ter controles separados de agudos e graves, loop de efeitos e Plate reverb (digital) em vez do mais modesto Ambience do predecessor.

Os controles estão dispostos em um recesso protetor na parte superior do amplificador: além dos controles mencionados acima, temos Reverb, Volume e Gain, este último regulando um circuito de overdrive de diodo analógico, enquanto um DSP com uma taxa de conversão em 44 bits de 44.1 kHz atua na em dinâmica, equalização, reverberação e presumivelmente… uma dose de “psico-acústica” aplicada que o grande Kantor (lembre-se, ele não gosta de modelagem de amplificação) certamente colocou em sua criação. O sinal é então convertido de volta para analógico e passa ao final.

Bonito por fora, por dentro… hum…

Na parte traseira do amplificador temos um loop de efeitos em série, um soquete para gabinete externo de pelo menos 8 Ohm com seletor interno/ externo, saída para fone de ouvido/ DI com ajuste de volume, entrada estéreo auxiliar com soquete mini-jack, seletor de voltagem 115V / 230V, interruptor de acionamento. No modelo testado, nós reclamamos de um irritante “pop” ao ligar, mesmo com o volume fechado. É um fato comum em muitos amplificadores transistorizados que os projetos mais refinados resolvem com um pequeno atraso entre o momento de ligar e a ativação do áudio. Nos fóruns, a empresa não nega o inconveniente e, no entanto, convida o consumidor a não se preocupar com isso.

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Um olhar por dentro revela a estrutura maciça projetada para ser hermeticamente selada, praticamente a vácuo. Os componentes eletrônicos são colocados sob os controles, enquanto o restante é colocado na placa traseira de alumínio, que é muito espessa e também deve contribuir para o arrefecimento, já que não vemos outra possibilidade no interior. A fonte de alimentação custom da Federal (a única marca visível) está localizada na parte inferior. A fiação revela o trabalho manual e o uso misto de componentes discretos.

O uso de resina epóxi espalhada sobre cavidades, cabos, furos e circuitos é questionável. Entendemos que isso serve para evitar o movimento e a vibração dos componentes, mas imagine levar este amplificador para manutenção um dia e receber uma bronca do seu técnico de confiança! Ele enlouquecerá ao colocar as mãos nele. Partes dos circuitos também são vedadas para evitar olhares intrusivos, enquanto as iniciais dos componentes principais são raspadas. Eu sempre fui muito crítico com relação a estes expedientes. Aqueles que não têm que temer comparações em termos de conhecimento e experiência não devem recorrer a meios semelhantes, mas também entendo que são circuitos fundamentalmente simples, nos quais pequenos insights podem fazer grande diferença.

Bem, agora vamos tocar!

Como soa o amplificador ZT Club 12

A primeira coisa que percebo a respeito do som deste amplificador ZT, mas também sobre outros semelhantes, é a compactação dos médio-altos sob os dedos. As notas são espessas, cheias, ricas em harmônicos graves, mesmo que um pouco comprimidas, com os acordes sendo mais sustentados pelo amplificador do que pelo instrumento.

Outra coisa surpreendente sobre o amplificador ZT Club 12 é o ataque, quase imediato, envolvendo a nota em seu nascimento. Os controles de timbre são simples de usar e, na verdade, bastante interativos, desenhando equalizações ligeiramente diferentes para cada ajuste relativo. A empresa alega ter sido inspirada pela emulação de um vintage (4×12 “stack”). Em qualquer caso, não parece possível obter nada menos que sons quentes deste amplificador.

Comparando o amplificador ZT Club 12 com outros transistorizados (temos Roland Jazz Chorus 77, Polytone Mini-Brute e Fender Sidekick 35), permanece uma impressão estranha, provavelmente devido ao fato de que no ZT há um coração de algoritmos, algo tão eficaz quanto prazeroso para o usuário que se limita a desfrutar de sua profundidade, espacialidade e riqueza tonal-harmônica. O espaço ocupado pelas frequências, sua própria composição, tão completa nos médios, leva a uma percepção muito diferente da obtida com os outros amplificadores de guitarra. De certa forma, me lembra o som do Gibson LAB dos anos 70, projetado por Dan Pearce quando ele estava na Moog (mais tarde ele começou o seu próprio negócio e hoje é um designer sênior da Bose), apreciado por B.B. King e Ty Tabor: som grande, limpo e comprimido.

Impressiona a projeção espacial e a reserva de som limpa do Club 12, mesmo que a potência de transistorizado seja aparentemente “menos poderosa” que a de um valvulado: um 200W com válvulas derrubaria as paredes, enquanto este amplificador ZT é perfeitamente utilizável, mesmo na sua sala de estar. A resposta dinâmica está sempre sob controle, sem borrões e alterações de volume indesejadas.

Não toque no falante

Nas entrevistas, Ken Kantor afirma que considera o alto-falante – sua especialidade como projetista – o elemento mais importante para os propósitos do amplificador. Eu não me comparo a ele, mas também acho que pelo menos 50% do som de um amplificador depende, para melhor ou para pior, de seu falante. No caso do Club 12, é evidente que os componentes eletrônicos foram projetados em torno do alto-falante personalizado de 12″, e Kantor diz com orgulho: “Boa sorte se você acha que pode substituí-lo por um melhor!” E tudo realmente funciona muito bem com este alto-falante.

O controle de ganho funciona tão bem quanto o controle de volume, permitindo que o nível e a plenitude do som sejam ajustados mesmo sem distorção. O crunch induzido pelo controle do ganho tem mais da distorção britânica do que o overdrive do Texas; agradável e controlado nos agudos, tem timbres bem “scofieldianos“.

Deve ser dito que, apesar daquele ruído pop, o Club 12 é extremamente silencioso.

O reverb é uma simulação decente de plate reverb, abre o som um pouco e é bem controlado nos picos; para aqueles que querem mais, há sempre o loop de efeitos a ser explorado.

ZHÔNG TÎNG

Em última análise, o ZT Amplifiers Club 12 deste teste permitiu-nos entrar em contacto com um conceito de amplificação de guitarra inovador, em que um design especializado e misto supera a soma das partes envolvidas. É uma dimensão um tanto diferente do usual, quase um desafio para o guitarrista escolher comparando entre as referências conhecidas, Tweed ou Blackface por exemplo. Ele pode gostar ou não, mas é uma marca que deve ser testada, certamente não deve ser comprado com a caixa fechada. Existe uma versão custom shop do Club 12 com um custo muito alto.

Uma curiosidade sobre o nome ZT: falam sobre Zero Tolerance ou Zero Tubes, mas ainda assim Kantor, em uma entrevista, confessa que queria uma marca facilmente pronunciável em todas as línguas, incluindo chinês. Para isso, ele decidiu por ZT, como a pequena empresa de seu bisavô. “Esses americanos, tudo são negócios e sentimentos…”

Fabrizio Dadò

Originalmente publicado na revista Axe Guitar Magazine nº 13 – Traduzido e reproduzido por Musicosmos com autorização de Edizioni Palomino, Rome (Itália) – © Edizioni Palomino – Todos os direitos reservados.