Se você é um dinossauro amante da música e ainda acha que a produção de discos, em qualquer formato físico ou digital, é uma arte nobre e misteriosa, este livro é para você. Em GRAVANDO! o autor conta sua longa história trabalhando nos melhores estúdios de gravação com os mais grandiosos artistas e alguns desconhecidos gênios dos estúdios.
Phil Ramone foi um lendário engenheiro de som e produtor musical, viveu intensamente a era de ouro desta arte-indústria chamada disco. Para os mais jovens pode parecer algo muito distante, mas se você é apaixonado por música, a probabilidade de ter ouvido muitas vezes algum trabalho produzido por Ramone é gigantesca. Há histórias de Sinatra, Bob Dylan, Paul Simon, entre muitos outros. Não que você vá ler muitas fofocas, e até há algumas, como o decepcionante desleixo de Bob Dylan no seu processo criativo. Mas o tom geral aqui não é esse. O ponto central do livro, originalmente lançado em 2008, está nas muitas passagens em que o produtor conta como surgiu determinada música e de que maneira a gravação (enquanto arte e enquanto técnica) acrescentou novidades à ideia original. Ou seja, como a mágica aconteceu. E houve muitas na vida profissional de Phil Ramone, ganhador de 14 Prêmios Grammy.
Com orelha escrita por Tony Bellotto na versão nacional, o livro começa com a seguinte frase: “A melhor interação do mundo é a interação criativa que ocorre quando se faz música”. E é com essa paixão pelo próprio ofício que o texto se desenrola. Duvido muito que alguém leia este livro e não sinta inveja da profissão do autor, universo tão distante de nós.
Este é um livro para ter em formato físico, coisa antiga, para pegar na estante e reler de tempos em tempos, como antigamente – nos tempos do disco de vinil e dos livros de papel.
Após uma abertura dedicada à gravação do álbum Duets, de Frank Sinatra, os capítulos são chamados de faixas, e são 24 delas. Seria um álbum duplo, pelo menos, se fosse um disco. O único defeito do livro, se é que chega a ser um defeito, é o excesso de atenção dado ao cantor Billy Joel, que não é muito conhecido nas bandas de cá, apesar do sucesso de Uptown Girl. O resultado disso? Acabei comprando os discos Glass Houses e The Stranger, na época em que ainda se comprava discos. Porque este é um efeito inevitável da leitura de Gravando!, você sentirá vontade de ouvir as gravações sobre as quais está lendo, e isso é uma grande viagem. Um livro que faz você ouvir música com atenção é realmente um livro especial. E toda vez que “aquela” música tocar, você poderá fazer um ar de superioridade, típico de quem sabe algo do qual os outros não sabem.
Há também deliciosos detalhes técnicos sobre os equipamentos de gravação e são especialmente saborosas as passagens que relatam uma época em que não existiam programas de computador para gerar qualquer tipo de som que se imagine. Se a música precisasse de algo que não existisse, cabia à Ramone e seus colegas inventar, construir, resolver.
O livro termina com uma enorme discografia selecionada, indo de 1959 a 2007, o que mostra que a carreira deste engenheiro de som nasceu com a indústria fonográfica e terminou em um tempo em que já se vislumbrava o fim. E que venha o streaming.
Phil Ramone morreu em 2013, deixando sua obra para a posteridade. E deixando também uma enorme vontade de que alguém, quem sabe, encontre um segundo volume escrito e guardado em uma gaveta empoeirada, junto a alguns discos arranhados esperando para serem ouvidos novamente.
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