Domando a fera: mixando o piano para engrandecer a música

Muitas pessoas amam o piano, até que tenham que gravá-lo. O piano é grande, complexo, tem uma faixa de frequência tão ampla quanto o ouvido humano e há centenas de tipos diferentes. É uma fera que pode ser a coisa mais frustrante em uma gravação, mas penso nisso de outro ângulo. Para mim, é o instrumento com as maiores possibilidades. No entanto, “possibilidades” também significa variáveis e isso pode ser desesperador, então tentarei ajudá-lo a ter por onde começar.

Não vou entrar na história ou na construção de um piano. Vou falar diretamente sobre como microfonar e vou tentar cobrir o máximo de pontos possível. Vou me concentrar principalmente em pianos de cauda, mas também darei conselhos para pianos verticais.

A maneira como penso sobre como microfonar o piano é em primeiro lugar entender o instrumento e a sala onde ele está. Observe todos os lugares onde um microfone poderia ficar e pense em como soará. Costumo ter alguém tocando enquanto coloco minha própria cabeça nesses lugares.

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Em seguida, penso em como o piano pode ser manipulado. Existem quatro estados básicos: aberto, meio aberto, tampa fechada e tampa removida. Onde está o instrumento na sala, a sala em si e o estilo do artista são fatores que levo em consideração. Também considero os “problemas”: pedais barulhentos, habilidade do artista, unhas barulhentas, cliques em teclas, bancos barulhentos, problemas de regulagem etc.

A seguir vem o contexto. É um concerto ou uma gravação? Uma peça solo ou em grupo? Existem outros instrumentos na sala? Clássico? Popular? Rock? Em que faixa da tessitura do piano a maior parte da peça é tocada? Todos esses fatores podem influenciar a escolha do seu microfone.

Finalmente, penso no microfone, no padrão polar. Os microfones dinâmicos raramente são usados ​​no piano, uma vez que o diafragma pesado carece da capacidade de capturar matizes de altas frequências, mas isso não é regra.

Microfones a condensador e de fita com diafragma grande ou pequeno são comuns, geralmente com um padrão omnidirecional ou cardioide. As técnicas são reduzidas ao posicionamento espaçado ou coincidente, e existem vários sabores em cada uma.

Para resumir, temos: posicionamento, instrumento, contexto, microfones. Vou me concentrar no posicionamento e considerar outras variáveis ​​com base nisso.

O microfone da sala

Muitos engenheiros discordariam, mas acho que não há lugares errados para microfonar um piano – depende do que você quer ouvir. Por exemplo, se você deseja um som turvo, pode ir atrás da tampa, mas geralmente o local aceito para microfone de qualquer instrumento fica na frente de onde o som é emitido. Com um piano de cauda, essa área fica em frente à tampa aberta.

Como sempre, quanto mais próximos os microfones estiverem, menor será o som da sala. É importante considerar o contexto.

Em uma gravação de música clássica, é típico colocar um microfone na sala. A distância em que ele é colocado depende da sala, mas teste de meio metro a um metro de distância para ouvir um som relativamente próximo em uma sala decente e, a partir daí, você começa a se afastar para encontrar o lugar ideal. Experimente deixar o microfone na altura da cabeça quando estiver mais próximo ou trace uma linha imaginária ao longo da bissetriz do ângulo da tampa com o piano. Coloque os microfones ao longo de onde seria essa linha, ou seja, mais alto caso você esteja mais longe. Isso pode ajudar na captura de frequências altas, que são refletidas na tampa.

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Figura 1

Com a tampa entreaberta, as altas frequências refletem mais para baixo do que para a sala. Portanto, você não obterá alto brilho e frequências altas com uma tampa entreaberta e microfones na sala, na verdade isso lhe dará um som mais opaco. Ao fechar a tampa e microfonar a sala, você terá um som enlameado. No contexto clássico, geralmente deixamos a tampa completamente aberta.

Microfones a condensador de diafragma pequenos funcionam muito bem. Microfones a condensador de diafragma grande também são impressionantes, mas os de diafragma pequeno têm uma melhor resposta fora de eixo, o que é mais agradável para capturar reflexões. Você pode usar um padrão cardioide mas, se a sala for agradável, um padrão omni pode ser melhor. Mesmo em omni, aponte o microfone para a fonte (para baixo e para as cordas), pois assim sempre haverá alguma coloração fora do eixo.

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Figura 2

Você pode escolher entre um único microfone, um par (Figura 1) ou um par coincidente tipo XY (Figura 2). Um par espaçado é direto, mas vem com dois problemas em potencial: fase e “vazio nos médios”. Se os microfones estiverem muito afastados (Figura 3), você poderá ter um buraco no meio do campo estéreo. Você pode aproximá-los um pouco ou tentar adicionar um terceiro microfone no meio. O outro problema potencial é a fase. Se o seu par espaçado é reduzido para mono (o que ainda acontece geralmente em locuções), poderá ser encontrada uma alteração sonora com base em interações complexas de fase. O posicionamento cuidadoso e a verificação em mono podem ajudar, ou você pode alterar sua técnica para um posicionamento XY. Isso criará uma imagem estéreo mais natural e eliminará qualquer vazio nos médios, e sobretudo atenuará os problemas de compatibilidade de fase e mono. Isso faz com que a configuração XY pareça superior, mas sou inclinado a usar um par de microfones espaçados.

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Figura 3

Bem em frente à tampa ou na saída da sala não são as únicas opções para microfonar a sala. Você também pode tentar um posicionamento atrás do pianista. Um XY ligeiramente acima da cabeça do artista, apontando para baixo (na direção das cordas e não nas teclas) é bom, e eu gosto de colocar um par espaçado atrás do artista, a cerca de um metro de distância do piano (Figura 4).

Figura 4

Não há razão para não tentar vários locais na sala ou vários microfones simultaneamente. Você não tem obrigação de usar todas as faixas na sua mixagem. Uma das minhas sessões recentes foi microfonada com quatro microfones a condensador de diafragma pequeno espaçados. Um deles estava a meio metro da borda do piano, o outro estava a um metro atrás, outro estava a 3 metros de distância e o outro estava atrás do artista. O uso das faixas na mixagem variou, mas notei que os microfones mais distantes na sala não adicionavam nada porque a sala era completamente morta, então eu os eliminei. Não tenha medo de experimentar e descartar o que não funciona.

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Microfone próximo ao piano

O microfone próximo do piano é o mais típico na música pop e rock, e é, para mim, mais complexo e interessante. Existem milhões de maneiras de conseguir algo novo com o microfone próximo.

Ao dizer microfonar de perto, queremos dizer que o microfone estará em qualquer local que comece na borda do piano até as cordas. Gosto de um arranjo espaçado ou do tipo XY na borda do piano, onde ela se curva, cerca de meio metro acima da borda. Outra configuração que eu gosto é de uma espaçada usando o AKG C414, um pouco mais profundo no piano, mas 60 ou 90 centímetros acima das cordas. À medida que você avança em direção às cordas, encontrará mais distinções: certas cordas terão mais ênfase. Isso nem sempre é bom, então você deve julgar o posicionamento e pensar onde a música é tocada no piano.

Outra técnica é usar um par XY no centro do piano, usando padrões cardioides. A direcionalidade da captação cardioide nessa situação pode distinguir e capturar as cordas agudas e graves. Recentemente, coloquei um omni 414 dentro do piano, cerca de 15 cm acima das cordas graves e 7 cm atrás dos abafadores, para enfatizar uma linha que cobria somente uma oitava. Essa faixa era em mono, mas havia mais três faixas para misturar: um 414 cerca de 30 centímetros acima das cordas mais agudas e um par espaçado na borda da caixa. Os três últimos foram para overdubs mais acima no piano, mas gravei todas as faixas em três canais.

Todos esses posicionamentos usam a tampa aberta e usei padrões cardioide e omni com ótimos resultados. Com a tampa entreaberta, a colocação dos microfones dentro se torna mais complicada, mas pode ser uma boa opção quando houver outros músicos na sala. Também é comum o uso de cobertores para ajudar a isolar o restante da banda.

Fechar a tampa até a metade altera a acústica dentro do piano, mas não muito. Fechar o piano completamente é outra história. Primeiro, você não pode colocar booms dentro de um piano fechado e, como mencionei, o microfone da sala para um piano fechado não funciona. Uma solução tradicional é usar microfones PZM fixados na parte inferior da tampa. Com cuidado, você pode passar a fiação sem muitos problemas e podemos colocar alguns cobertores para isolamento. O problema de colocar PZMs dentro de um piano fechado é que se cria um som encaixotado. A parte interna do piano é um lugar acusticamente louco com a tampa fechada. Os PZMs fazem um bom trabalho, mas podemos fazer melhor.

O PianoMic

Existe uma solução para esse dilema que eu realmente gosto. É o Earthworks Audio PianoMic. O PianoMic é montado dentro do piano (Figura 5), permitindo que a tampa se feche completamente. Os microfones conectados ao braço ajustável são os microfones de “incidência aleatória”, o que significa que não importa de onde venha o som. Basicamente, eles são “super-omnidirecionais”.

Isso é importante porque o som dentro do piano vem de todas as direções, dificultando a localização de uma fonte específica.

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Figura 5

A Earthworks fez a gentileza de me emprestar um PianoMic para este artigo, e eu fiz alguns testes em um ambiente que não é ideal para gravação: uma sala de exposição tipo showroom. Alex Boggs, do 88 Keys Piano Warehouse aqui em Albuquerque, generosamente me cedeu seu espaço, onde instalei o PianoMic em um Yamaha Baby Grand. A atmosfera era relativamente barulhenta devido ao tráfego na rua e ao ruído do ar condicionado, e fiquei curioso para ver como tudo funcionaria ao fechar a tampa. Eu também testei com a tampa aberta e meio aberta. Ao tocar, o barulho da sala e do tráfego foram cobertos, portanto o isolamento se tornou um problema menor.

Eu realmente gostei do som. Percebi que, com a tampa fechada, a sonoridade era um pouco mais escura e mais comprimida, porém menos do que eu imaginava. O que me impressiona no PianoMic é que ele resolve qualquer dúvida. Os microfones estão localizados em pequenos pescoço de ganso, para que haja alguma flexibilidade (Figura 6), mas realmente não tanto. Isso faz com que microfonar o piano seja menos perturbador. Você sacrifica alguma flexibilidade, mas eu gosto de eficiência. Isso é realmente bom para situações ao vivo e o Earthworks faz uma versão de turnê do PianoMic que se dobra para facilitar o transporte.

Mesmo com microfones grandes, a tampa fechada é o que menos se deseja – mas se for preciso manter a tampa fechada, eu realmente gosto do PianoMic.

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Figura 6

Outras opções

Para a tampa aberta, eu já recomendei configurações espaçadas e de pares XY colocadas na borda da caixa ou no fundo do piano. Tendo a me fixar no artista e tenho posicionado dois C414 afastados com a largura do piano, a 5 cm das cordas, perto nos martelos. Outra opção é unir esse par ou fazer um XY com um par de diafragmas pequenos perto dos martelos mais ao centro. Isso produz um som percussivo com muito ataque. Qualquer uma dessas técnicas pode produzir muito ruído de pedal e, dependendo do pianista e do piano, pode ser demasiado.

Você pode resolver esse problema concentrando-se em um lugar que tende a ser esquecido no piano: o pé. Nathan Rosenberg diz: “Há um lugar maravilhoso na cauda, exatamente onde está a perna posterior, frequentemente por fora da caixa. Ali, os vários registros tendem a se projetar de uma maneira surpreendentemente uniforme.”

Esse é um bom lugar para uma gravação mono também.

Outra técnica aceita é colocar um microfone apontado para o centro do grupo de cordas agudas (em direção à estante para partitura) e colocar um segundo microfone mais em direção ao pé do piano. Normalmente, esses podem ser condensadores em configuração omni.

Outra opção extrema é aquela que o produtor Gus Dudgeon (Elton John) fez: remova a tampa. Isso permite que você pendure microfones sobre as cordas em quase qualquer lugar que desejar. Pode resultar em um som mais brilhante com menos intensidade nos graves, e talvez isso não agrade a todos, mas algumas pessoas adoram essa configuração. Um par de omnis espaçados 60 a 90 centímetros acima das cordas é uma opção interessante.

Obviamente, existem “bocas”, que não são realmente buracos de som como de um violão, mas às vezes produzem alguns resultados interessantes. Uma técnica usa um par XY a meio caminho entre a tampa e a caixa, apontando na diagonal em direção às cordas. Alguns colocam um microfone direcional no furo, em substituição às técnicas mais tradicionais (Figura 7). Essa é a única situação em que um microfone dinâmico pode funcionar. Uma vez coloquei um SM57 no furo do meio, conectei o cabo a dois pedais de guitarra (delay e distorção) e, a partir daí, a um amplificador Fender, amplificando-o como uma guitarra. Coloquei o amplificador em uma cabine de isolamento e fechei a porta – e todavia ele ainda gerava feedback. A questão é que há um grande número de coisas criativas que você pode fazer, como o microfonar embaixo do piano para ajudar a fortalecer sua parte grave ou para um timbre suave.

posicionamento-de-um-microfone
Figura 7

De fato, há uma variedade infinita de configurações de pares espaçados, XY, mono e multi-microfone que você pode experimentar. Falamos principalmente sobre condensadores, porque são os mais comuns, mas em qualquer uma das situações que descrevi, você pode substituir os condensadores por microfones de fita.

Ainda não terminamos. Não falamos sobre o par Mid-Side (M-S), que pode ser uma ótima maneira de usar microfones de fita.

Uma matriz M-S usa dois microfones para criar três faixas. O Microfone 1 – Mid – é um cardióide, apontando para a fonte. O Microfone 2 – o Side – deve usar um padrão de figura 8. O microfone Side é perpendicular ao Mid, portanto a Figura 8 está orientada da esquerda para a direita da fonte. Depois de gravada, a faixa Side do microfone é duplicada e a fase é invertida. Essas duas faixas são divididas no pan em esquerda/direita e o Mid é colocado no centro. A partir daí você pode misturar ao seu gosto. O M-S pode ser muito bonito em um piano e é perfeitamente compatível com mono, pois as duas faixas laterais são canceladas quando somadas.

A colocação de um par Mid-Side eficaz no piano é semelhante a outros posicionamentos: existem muitas possibilidades. Outro dia, montei um par M-S na borda da caixa (Figura 8), exatamente onde normalmente eu teria um par espaçado. Adorei o resultado. Também gostei do resultado quando o engenheiro de Houston, Rock Roman, me gravou com uma configuração M-S de fita colocada próxima ao centro do piano, com o cardioide apontando para a minha direita.

No entanto, acho que a configuração do M-S pode dar errado mais fácil do que outras técnicas. Recentemente, experimentei uma matriz experimental de M-S que foi colocada perto da borda da caixa um pouco mais alta do que o habitual, e recebi pistas que careciam de profundidade e caráter. Acabei não usando a duplicação da pista lateral e paneei o meio para o lado esquerdo e o original para o lado direito para salvar a tomada.

Figura 8

Isso nos leva a um ponto importante sobre a mixagem. Pode parecer que não há espaço para experimentar ao mixar um piano, mas isso não é verdade. Especialmente se você usar vários microfones, há muitas maneiras de experimentar e ajustar. Por exemplo, panear de um XY gravado bem próximo é sempre uma opção. Um par espaçado começará a mudar demais o som ao lidar com o pan (devido a problemas de fase), mas essa mudança de som pode ser algo que você goste. Assim como não há maneiras erradas de microfone o piano, não há maneiras erradas de mixá-lo.

Piano vertical

Os pianos verticais (ou piano de armário) não são gravados com tanta freqüência quanto os pianos de cauda e o motivo é simples: eles não soam tão impressionantes. Mas não significa que isso nunca aconteça.

Alguns conceitos gerais ainda se aplicam. Os microfones a condensador e os microfones de fita geralmente funcionam melhor, os pares espaçados têm mais problemas de fase do que os pares XY, e o microfone próximo da fonte produz menos som ambiente do que quando é afastado. No entanto, um piano vertical é fisicamente diferente. Então, onde colocamos os microfones?

Existem três possibilidades básicas: dentro ou acima da parte superior (com a tampa aberta), na frente do piano e embaixo das teclas ou ainda atrás do piano. Os pianos verticais costumam ser colocados contra uma parede, e provavelmente é melhor não fazer isso. Também é melhor remover os painéis dianteiro e traseiro, para proporcionar um melhor acesso acústico à caixa de ressonância e às cordas. Minha preferência pessoal seria um par espaçado de condensadores cardioides, a meio metro do chão, emparelhado com qualquer um dos lados do banco e com o painel removido. Uma vez, usei um microfone dinâmico barato em um piano de 100 anos e o resultado foi magnífico… à sua maneira.

Você já deve ter a noção de que microfonar o piano é uma tarefa complexa e variável, com muito espaço para criatividade. Cobri tudo o que pude, deixando uma grande possibilidade: som surround. Essa é uma tarefa muito complexa, por isso acho que merece seu próprio artigo. Falar sobre microfone de piano não é algo simples, e isso não é o que você esperaria de um instrumento tão complexo, mas espero que você tenha pelo menos obtido neste artigo algumas referências para começar e, na melhor das hipóteses, uma boa ideia do que esperar.

Por Aaron J. Trumm

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Originalmente publicado na revista Músico Pro – Traduzido e publicado por Musicosmos com autorização de ©Music Maker Publications, Inc. – Todos os direitos reservados. All rights reserved. Visit musicopro.com