Duas pérolas esquecidas: Marcos Valle e Sebastião Tapajós & Pedro dos Santos

Os álbuns podem não ter nada a ver entre si, mas essas duas reedições do selo Vampisoul demonstram a rica variedade de música brasileira que ainda espera para ser (re)descoberta.

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Sebastião Tapajos & Pedro Dos Santos: Vol. 2

Vampisoul

Hoje em dia, o termo “clássico esquecido” é usado com muita frequência, pois cada vez mais surgem reedições resgatadas de um passado distante. “Esquecido”, esse adorável álbum certamente foi. Originalmente foi gravado em Buenos Aires e lançado primeiramente na Argentina em 1972.

Como sua marca registrada é a delicadeza da interação entre o violão de Sebastião Tapajós e a inventiva percussão de Pedro “Sorongo” dos Santos, é curioso pensar que “Tornei a Caminhar”, uma das duas únicas faixas que poderiam ter estimulado as pessoas a entrar na pista de dança, deveria ter renovado o interesse pelo álbum durante o auge da cena Latin/Jazz/Dance de Londres.

E quanto ao termo “clássico”? Bem… certamente é notavelmente aplicável, à sua maneira silenciosa e despretensiosa.

Sebastião Tapajós toca lindamente por toda parte, lembrando artistas da música brasileira como Toquinho e Baden Powell. Mas a verdadeira estrela do show é Pedro Dos Santos, cuja percussão é discreta e altamente imaginativa.

Em “Ganga”, por exemplo, a acelerada faixa de abertura, ele usa sons de respiração e simulações de castanholas para empurrar o guitarrista. Em seu tour de force solo, “Escola do Samba”, suas faixas sobrepostas permitem que ele construa camadas individuais para criar uma virtuosa escola de samba de um homem só. Se essa é a única faixa que pode ser rotulada como “exibida”, as outras 10 faixas nas quais ele toca sugerem que isso não é feito simplesmente para chamar a atenção.

A faixa solo de Tapajós, “Feitio de Oração”, é o próprio modelo de bom gosto e discrição – duas qualidades que aqui estão por toda parte. Como a maioria das faixas, serve para exemplificar a máxima “Menos é mais”.

Em diversas faixas, são apenas eles dois, com Tapajós tocando uma espécie de linha de baixo na corda mais grave do violão. Em outros momentos, surge um baixo elétrico de quatro cordas, particularmente na já mencionada “Tornei a Caminhar” (que também apresenta um refrão vocal mínimo e até uma pequena seção de metais), e a quase cinematográfica “Emboscada”, que acrescenta, entre outras coisas, uma flauta – usada de forma discreta e bem-vinda no lado B.

Adequadamente, “Sambaden” serve como um breve e minimalista encerramento, deixando a impressão de que, se não chega a ser um “clássico esquecido”, Vol. 2 é uma pequena joia da música brasileira que ficou desaparecida por muito tempo.

Sinceros agradecimentos à Vampisoul por trazê-lo à luz novamente. Agora, procuremos o Vol. 1…

Vol. 2 é reeditado pela Vampisoul.

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Marcos Valle: Marcos Valle (1986)

Vampisoul

Parece que Marcos Valle deve estar em um bom momento. Em 2019, a Far Out Recordings publicou Sempre, para afastar qualquer ideia de que o septuagenário estivesse perdendo sua força.

Depois a Mr. Bongo relançou Braziliance! para nos lembrar de um jovem compositor no início do que seria uma longa carreira.

Agora, em uma discoteca perto de você, este álbum homônimo de 1983, reeditado pela Vampisoul irá demonstrar como os anos passados ​​em Los Angeles na década de 1970 marcaram o groover de meia-idade. E groovy, certamente é.

Tendo trabalhado com artistas como Leon Ware nos EUA, por todo o álbum há sombras do homem que colaborou com Marvin Gaye em I Want You – mas particularmente na adorável atmosfera noturna de “Tapa No Real”, que abre o lado B.

Tomado como um todo, este segundo álbum após o retorno de Valle ao Brasil transporta você de volta ao final da era da discoteca. Era uma época em que produtores como Quincy Jones faziam sua magia com artistas como George Benson e, ao que parece, todo LP de um determinado estilo deveria ter obrigatoriamente uma mistura criteriosa de faixas dançantes e baladas exuberantes.

Este álbum não é exceção. A faixa de abertura, “Estrelar”, co-escrita com Ware, foi o maior sucesso de Valle nos anos 80 e um dos destaques mais duradouros de sua carreira. Parece ter vindo direto do paraíso das discotecas: uma linha de baixo do tipo Whispers, refrões tão nítidos e rápidos quanto os do Earth Wind & Fire, e uma melodia memorável baseada em uma estrutura de pergunta-e-resposta entre o cantor e o coro feminino.

“Para Os Filhos do Abraão” tem BPMs suficientes para deixar o preguiçoso mais preguiçoso no chão. O baixo, diga-se, é tocado com slaps, mas não de uma maneira muito direta, e há um eco da The Players Association, que revirou a música em 79 com a ajuda de um grupo de nomes importantes do jazz da época.

Concluindo o primeiro lado, “Naturalmente” é um dos instrumentais dispersos com a marca registrada de Valle, impulsionados por teclados e baixo synth. “Dia D”, no segundo lado, soa infalivelmente como o EWF com seus companheiros de “Boogie Wonderland”, The Emotions.

As baladas super produzidas incluem outro dos clássicos eternos de Valle, “Samba de Verão”, atualizado adequadamente para a época, e o instrumental “Viola Enluarada”, que fecha os trabalhos e apresenta uma gaita no estilo de Toots Thielemans, muito usado por Quincy Jones.

Vamos relevar a única mancha indelével do álbum, a estranhamente ruim “Tapetes, Guardanapos, Cetins”, na qual Valle parece fazer uma tentativa frustrada de emular Johnny Mathis. Se estivesse pensando com clareza, o artista e/ou produtor teria feito dessa a última faixa, para que qualquer um pudesse levantar o braço do toca-discos ou pressionar “stop”. Deixa pra lá.

Os aficionados por Marcos Valle vão querer adicionar este álbum às suas coleções, pois até agora ela era difícil de encontrar. Os amantes da música brasileira devem conferir se ainda têm um lugar no coração para discos no estilo de Give Me The Night.

Marcos Valle (1983) é reeditado pela Vampisoul.

Licença Creative CommonsO trabalho “Duas pérolas esquecidas: Marcos Valle e Sebastião Tapajós & Pedro dos Santos” de Musicosmos está licenciado com uma Licença Creative Commons – Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em Sounds And Colours
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