Entre o final da década de 1970 e o início da década de 1980, uma pequena fábrica de guitarras elétricas e violões nasceu em Toulouse, por iniciativa do guitarrista Michel Chavarria e de seu amigo Daniel Delfour. Logo depois, Michel deu à marca o sobrenome da mãe, Lâg, que mais tarde ele próprio adotaria no lugar de Chavarria. A empresa cresceu, mudou a sede e firmou parceria com uma grande distribuidora francesa, a Algam, expandindo a produção.
Mais recentemente, o luthier Maurice Dupont e o guitarrista (e físico) Adrien MamouMani juntaram-se à equipe, direcionando a marca para projetos e tecnologias inovadores, com a produção de violões acústicos e eletroacústicos em fábricas terceirizadas, mas sempre na direção de boas tradições artesanais.
Na última NAMM, foi apresentada a série Lâg HyVibe, que parece ter tido muito sucesso na feira californiana – já solicitamos alguns modelos de teste. Enquanto esperávamos os recém-chegados, o distribuidor italiano Mogar Music nos ofereceu dois violões que submetemos a teste: os modelos T98D, que vemos agora, e o T270 ASCE, ambos da série Tramontane, concebidos na França e construídos na fábrica da Lâg na China.
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Violão Lâg Tramontane T98D ASCE
O Tramontane T98D é um dreadnought cujo braço é fixado ao corpo na altura do 14º traste, de um total de 20 trastes.
Ele é lindo à primeira vista e o preço é surpreendente. O violão é feito inteiramente de mogno Khaya Africano, sendo madeira maciça no tampo e laminado nas laterais e fundo. O braço é feito wm três peças.
A parte superior da mão, a escala e a ponte são em Brownwood, um tipo de pinheiro cultivado na Nova Zelândia de modo sustentável. Após o corte ele é tingido, tratado quimicamente e comprimido para obter um substituto ecológico para o jacarandá (Brownwood) ou para o ébano (Blackwood) de acordo com a cor adicionada.
Se essas coisas soam desagradáveis para os tradicionalistas, devo dizer que pessoalmente acho a solução admirável, especialmente em instrumentos dessa faixa de preço: o meio-ambiente é respeitado e um produto de madeira densa e robusta é obtido, resistente até ao fogo, adequado para as estas partes do violão.
Ao toque, é apreciável sua naturalidade e compacidade, especialmente no ponto mais importante: a escala.
Entre os vários materiais alternativos que já testei ao longo dos anos, de fibra a richlite, este Pinus Radiata tratado me parece o mais natural para uso na luteria. Duvido que alguém adivinhe a origem dessas madeiras em um teste cego.
Vamos nos deter um pouco mais nas madeiras para conversar sobre o lindo tampo aplicado a este violão Lâg de preço médio. Aparentemente é feito de duas belas tábuas de mogno maciças, coladas para tornar a junta quase invisível e conectar a figura natural presente no centro do tampo. A roseta é admirável por sua elegância e modernidade sóbrias. O mesmo cuidado construtivo é encontrado em todo o instrumento.
O interior é limpo, com reengrosso e travessas sem resíduos de cola, de perfil alto e fino. É difícil observar embaixo do tampo, mas é possível ver o bracing em forma de X. Não há rachaduras visíveis nas madeiras internas, que às vezes são um sinal desagradável de um processo de secagem artificial ou acelerado demais.
Braço e ação
O braço é fixado ao corpo com perfeição, sem folgas, por meio de dois parafusos que passam pelo tróculo. O perfil passa a sensação de ser bem encorpado, eu diria que é um C arredondado, muito confortável na mão. Na pestana medimos 43 mm de largura. A escala é muito bem acabada.
Não há marcadores de posição na escala, apenas nas laterais.
O exemplar testado tem um nut de grafite com recortes levemente altos, que, juntamente com o rastilho igualmente alto, não oferecem ação ideal. Não é bem um defeito. Muitos técnicos consideram apropriado oferecer ao violonista uma ação alta por padrão, deixando uma boa quantidade de material para que um luthier de confiança possa trabalhar para ajustar ao gosto pessoal do cliente.
É possível que, junto com a redução da ação, seja necessário uma retífica dos trastes, operações que consideramos necessárias para qualquer violonista sério ou aspirante a tal. O violão Lâg T98D merece esses cuidados!
A entonação deste dreadnought em toda a escala é impressionante, com as oitavas perfeitamente consistentes.
O rastilho tem uma compensação para melhor entonação nas cordas Si e Mi. O encordoamento padrão é um D’Addario EXP 80/20 Bronze 0.012 – 0.053, com um som forte e brilhante.
Violão elegante
Como se pode ver, este violão Lâg Tramontane é um violão sóbrio, mas também muito elegante em design e refinado em soluções: algo como… França encontra Dinamarca! O filete no tampo é preto, como uma linha por dentro da borda. No fundo, o filete é em mogno e oculta a laminação, dando a impressão de madeira maciça.
É lindo o alto relevo no headstock de Brownwood com a marca Lâg em maple claro. Na minha opinião, os botões em formato de tulipa das excelentes tarraxas seladas são surpreendentes: eles são levemente emborrachados ao toque e encimadas por um parafuso serrilhado de cabeça redonda.
O tensor é do tipo bidirecional e é ajustável pela boca do violão.
O acabamento é fino, perfeitamente polido no corpo e acetinado no braço.
A escala do instrumento é de 650 mm. Um pouquinho mais comprida que o comum de 25 1/2″ (mais ou menos 648 mm). É igual ao da maioria dos violões clássicos. Um detalhe de luteria que tem seu peso. Por falar em peso, este violão Lâg pesa 2,05 kg!
Na mesma série também existem violões em formato auditorium e parlor.
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O som do mogno
Ao tocá-lo, o violão Lâg Tramontane T98D é um daqueles instrumentos que satisfazem imediatamente. Leve, bom de empunhar, com um braço confortável e uma resposta sonora imediata, fresca, quente e equilibrada. Não é exagero, este violão Lâg é verdadeiramente bem construído. Fica evidente que a engenharia é primorosa, como se o instrumento tivesse sido projetado em torno dos materiais e técnicas de construção disponíveis para um determinado resultado sonoro e comercial.
A primeira marca que vem à mente nesse sentido, que mudou o que julgou necessário, é a Taylor dos anos 90, marca que esse Lâg lembra um pouco pela facilidade de uso, pela construção aparafusada precisa, pelo uso de maquinaria sofisticada e seu som limpo e equilibrado. Estou falando de um modelo com tampo de mogno, e isso envolve particularidades: ataque doce, graves redondos e macios, médios grossos e presentes, agudos quentes. O som em geral, porém, não é abafado ou exagerado nos médios, muito pelo contrário.
Este Tramontane soa cru em alguns aspectos, talvez o comprimento da escala tenha influência. Deixei a ação como veio de fábrica e foi bom tocar com batidas e arpejos com palheta, muito bom para blues e rock acústico. A força nos médios torna o T98D bastante adequado para fingerstyle. Todos aqueles que tiveram a oportunidade de tocá-lo no período de tempo que ele ficou conosco ficaram impressionados!
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Por Fabrizio Dadò. Artigo originalmente publicado na revista Axe Guitar Magazine nº 16 – Traduzido e reproduzido por Musicosmos com autorização de Edizioni Palomino, Roma (Itália) – © Edizioni Palomino – Todos os direitos reservados.