A história da música popular está repleta de histórias de disputas internas e influências externas que causam rachas nas bandas ou as levam ao fim. Beatles, Metallica, Stones, Oasis – a lista é longa.

Essas brigas levam a boas histórias e ajudam a vender grandes tiragens das biografias dos músicos mais velhos. Mas o que raramente é falado é o modo como os conflitos podem ter um efeito positivo na qualidade das músicas escritas.

Ob-La-Di, Ob-La-Da, o sucesso de 1968 dos Beatles, certamente foi bem-sucedida nas paradas de sucesso de música pop. Como se lembra Geoff Emerick, engenheiro de som de longa data da banda, a música poderia nunca ter visto a luz do dia se John não estivesse farto da “merda de música de vovó” de Paul e então começasse a bater as teclas do piano em frustração. Isso de repente trouxe a faixa à vida, tornando-se famosa abertura da música.

Avance 25 anos até 2003, quando o Metallica contratou um coach de melhoria de performance, Phil Towle, para estar presente no estúdio enquanto gravavam seu 8º álbum, St. Anger. A disputa interna foi bem documentada no fascinante documentário Some Kind of Monster.

O vocalista James Hetfield era tão controlador que insistiu em trabalhar no álbum apenas quatro horas por dia; o resto da banda não poderia fazer mais nada musical fora desse período de tempo. Isso irritou outros membros da banda, como o baterista Lars Ulrich. No entanto, o álbum chegou ao topo das paradas em todo o mundo.

O filme Some Kind of Monster documentou o conflito dentro do Metallica enquanto era gravado seu 8º álbum.

Quando a parceria romântica dentro de uma banda chega a um fim, as coisas são mais complexas. Ainda assim, até mesmo esses conflitos podem ser uma fonte de grandes feitos artísticos. Pense no Rumours, do Fleetwood Mac – com faixas como The Chain e Go Your Own Way – que vendeu 20 milhões de cópias apenas nos Estados Unidos. Ou o último álbum de Richard e Linda Thompson como marido e mulher, Shoot Out the Lights, que se tornou seu trabalho mais aclamado pela crítica.

Go Your Own Way foi uma música de separação

Claro que nem todos os conflitos internos de bandas terminam com grande arte. Alguns causam apenas uma confusão. Os Smiths se separaram em 1987. Quando o ex-baterista da banda Mike Joyce levou Morrissey e Johnny Marr à justiça em 1996 por causa de reivindicações de royalties, o juiz decidiu a favor de Joyce, que dizia que Morrissey era “desonesto, truculento e não confiável“. The Police, The Clash e The Pixies são outras grandes bandas que não sobreviveram a conflitos internos.

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A banda Oasis se separou em 2009. Foto de Will Fresch [CC BY-SA 2.0], via Wikimedia Commons

Mas raramente ouvimos sobre o momento exato em que as músicas estão sendo criadas, e como o conflito entre os membros da banda pode ser crucial para fazer uma música melhor.

Como professor de música contemporânea, estou frequentemente em uma sala com alunos se aprofundando no processo de composição. Eu enfatizo a importância de uma comunicação respeitosa e construtiva ao colaborar. Mas estou ciente de que em estúdios e garagens ao redor do mundo há bandas cujos integrantes estão atracados na garganta um do outro discutindo se os acordes na ponte são bons ou se o som da guitarra no refrão é certo, ou se a batida soa muito parecida com as últimas cinco músicas.

Na minha própria banda, nós discutimos o tempo todo. Estamos juntos há quase 20 anos e fizemos cinco álbuns. As faixas dos dois últimos discos foram feitas basicamente por três de nós em uma sala discutindo, nossos instrumentos, para criar e refinar idéias.

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Provocação criativa

Nós instalamos uma câmera de vídeo no canto da sala para registrar o processo. Mais tarde, nós assistimos as imagens e encontramos duas seções de 30 minutos de discussões intensas enquanto tentávamos criar uma ponte em uma música. A descoberta mais interessante foi como esses momentos de conflito foram importantes para impulsionar as ideias musicais.

Se ficássemos presos a uma ideia, ou tocássemos algo que um de nós achasse que era fraco, nosso baterista costumava parar e oferecer uma provocação. “Toque algo que não seja música de circo!”, ele dizia. Ou, “isso não é universidade, tem que ser algo que soe bem e tenha um pouco de atitude”. Então nós tentávamos novamente. Este processo funcionou da maneira oposta ao que as provocações fazem no campo de críquete – melhorou nossa performance musical.

É claro que, como banda, temos uma longa história juntos com um bom número de altos e baixos. Eu não recomendaria a abordagem “conflito como estratégia” para uma nova banda, e definitivamente não para um grupo de estudantes.

Leva tempo para uma banda alcançar o que o psicólogo e especialista em criatividade americano Keith Sawyer chama de estado de fluxo de grupo. Ou, como diria o psicólogo britânico Fred Seddon, um estado de sintonia empática. Mas os resultados podem ir além do equivalente contemporâneo de “merda de música de vovó”.


The Conversation

Matthew Hill, Senior Lecturer in Contemporary Music, Southern Cross University

Este artigo é republicado de The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

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