Início
A guitarrista e cantora Lita Ford merece reconhecimento pelo seu pioneirismo em constituir carreira solo dentro do Heavy Metal, um estilo predominantemente masculino, durante a primeira metade da década de 1980. Lita Rossanna Ford nasceu em Londres, a 19 de setembro de 1959 e mudou-se com a família para os EUA ainda em criança. Quando tinha apenas 16 anos, juntou-se à banda feminina The Runaways, que já contava com a presença da guitarrista e cantora Joan Jett. O primeiro disco da banda foi lançado em 1976 e logo as meninas alcançaram fama internacional, Lita Ford era a guitarrista solo e o estilo da banda era hard rock com influência de punk rock. The Runaways se dissolveu em 1979 deixando para a história da música feminina cinco álbuns (quatro de estúdio e um ao vivo) e um filme biográfico, The Runaways, 2010, de Floria Sigismondi, longa metragem centrado na vida de Joan Jett, Cherie Currie (vocalista) e Kim Fowley (produtor da banda).
Lita e a ascensão do heavy metal
Lita Ford deixou a banda The Runaways com a ideia de prosseguir a sua carreira como vocalista e guitarrista de seu próprio projeto autoral. O Heavy Metal no início dos anos 80 estava se consolidando enquanto gênero musical derivado do Rock. Algumas características do estilo podem ser apontadas como a supervalorização da guitarra em sua textura e o virtuosismo de seu músicos, além de aspectos técnicos como two-hands, harmônicos artificiais, trêmulos ou alavancas mais flexíveis e efeitos de distorção de timbres de guitarra. É possível notar a influência de estilos musicais mais remotos como o Blues (tradicionais riffs ou frases curtas bem marcantes) e a música clássica ou erudita (patterns: motivos repetitivos de sequência de notas ou intervalos dentro de uma rítmica pré-estabelecida ao longo de uma escala) atuando no virtuosismo dos solos.
Logo na primeira faixa do álbum de estréia da carreira solo de Lita Ford, Out for Blood, 1983, encontramos exemplos de frases de Blues e patterns como mostra o vídeo.
Outro aspecto do início do Heavy Metal era a composição de baladas, bastante valorizadas pelas mídias da época (rádio e programas de vídeo clip televisivos). No seu terceiro álbum, Lita, 1998, Lita Ford gravou uma composição em parceria com o vocalista Ozzy Osbourne, Close my eyes forever, que alcançou significativo desempenho nas paradas musicais.
Influência de Ritchie Blackmore
Ritchie Blackmore, ex guitarrista da banda Deep Purple e líder do grupo Rainbow influenciou guitarristas de diferentes gerações. Lita Ford assume ter sido influenciada musicalmente por esse músico excepcional e, com muito entusiasmo, relata o dia em que recebeu uma ligação de Blackmore com a intenção de convidá-la para uma excursão junto ao grupo Rainbow, provavelmente para ser a banda de abertura.
A segunda faixa do álbum Lita, Can’t catch me possui o solo em andamento desdobrado. Embora a harmonia (F#m | G Em | F#m| D Em) seja uma sequência de acordes que sugere o modo frígio, uma das influências da banda Black Sabbath, o solo traz lembranças de Blackmore, sobretudo a última frase, repetida também no decorrer da música. Lita faz um trabalho de repetição de notas de forma a criar uma melodia marcante, uma característica de sua personalidade musical.
Parceiros
Nos anos 1980 “Todos estavam enlouquecendo com a coisa do sexo. Veja bandas como Poison. Eles tinham uma sala cheia de garotas depois do show (…) e todos os caras eles podiam escolher várias garotas (…) e elas iam numa boa (…) as garotas adoravam aquilo; elas viviam o momento da vida delas. Eram tempos muito loucos”.
“Quanto a mim, sempre fiquei com rockstars (…) eu saia com rockstars, pois eu era uma das poucas mulheres entre eles (…) Eu excursionava com esses caras e os encontrava em clubes e festas, era fantástico (…). Tive relações com muitos guitarristas e vocalistas”.
A vida particular amorosa de Lita Ford sempre causou interesse por parte da imprensa e fãs. Em suas memórias de 2016, “Living Like A Runaway”, Lita fala sobre sua relação com músicos como Jon Bon Jovi, Nikki Sixx, Richie Sambora e dois grandes guitarristas influentes do Heavy Metal: Tony Iommi e Eddie Van Halen.
Contribuição para a música feminina
Hoje em dia é comum, embora ainda em número relativamente inferior, a presença de mulheres guitarristas no mundo profissional, mas nem sempre foi assim na história do rock e da música em geral. Lita Ford, uma das precursoras da guitarra feminina do Hard Rock, além da discografia com o The Runaways, possui nove álbuns de estúdio enquanto artista solo, discos gravados ao vivo e participações em coletâneas e filmes. Atualmente, ao auge e glória dos seus sessenta anos, ainda mantém viva uma carreira artística de mais de quatro décadas, como mostra a sua agenda de shows publicada em seu site oficial e mídias sociais.
Referências
http://www.litafordonline.com/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Heavy_metal#Rela%C3%A7%C3%A3o_com_a_m%C3%BAsica_cl%C3%A1ssica
Sobre o Autor
Gabi Gonzalez
Natural da cidade de São Paulo, Gabi Gonzalez é guitarrista e mestranda em música pela UNICAMP. Formada em guitarra pela antiga ULM "Tom Jobim" (atual EMESP), é pós-graduada em Educação Musical pela FIC e em Música Popular pela FACCAMP. Graduada e licenciada em História pela USP. Desde 2001 trabalha como guitarrista profissional tocando em diversos projetos de diferentes estilos como Jazz, Blues, Rock, Hip Hop e etc. Atualmente é guitarrista da Jazzmin’s Big Band. Influenciada pelo seu professor Olmir Stocker, começou a compor seus próprios temas instrumentais com forte influência de ritmos brasileiros. Seu primeiro disco autoral instrumental, Morro do Eixo, foi lançado em 2012 no Instrumental Sesc Brasil (Sesc Consolação) . Em 2017, gravou seu segundo disco Com Elas com o grupo feminino Elas Quarteto. É professora de guitarra e violão e pesquisadora na área de musicologia.