Devido ao seu som extremo e letras agressivas, o heavy metal é frequentemente envolvido em sérias controvérsias. Entre os momentos mais contenciosos do gênero, já houve casos de divulgação de blasfêmia, acusações de incentivo ao suicídio e suspeita de culpa por assassinatos em massa nas escolas. Então por que, sendo tão “ruim”, muitas pessoas gostam? E esse gênero musical realmente tem um efeito negativo sobre as pessoas?
Existem muitas razões pelas quais as pessoas se apegam a estilos musicais. Pode ser pelo sentimento de pertencimento, por gostar do som, identificação com os temas das letras, ou elas simplesmente querem parecer e agir de uma certa maneira. Para mim, que fui um adolescente quieto e introvertido, meu amor pelo heavy metal provavelmente era uma maneira de me sentir um pouco diferente da maioria das pessoas da minha escola que gostavam de música popular e ganhar alguma auto-confiança. Além disso, eu amava o som daquilo.
Comecei a ouvir heavy metal quando tinha 14 ou 15 anos, quando meu tio gravou um álbum do ZZ Top para mim e eu ouvi singles do AC/DC e do Bon Jovi. Depois disso, eu passei a ler vorazmente as revistas de música Kerrang!, Metal Hammer, Metal Forces e RAW, e checava o maior número possível de catálogos de artistas. Eu também deixei crescer meu cabelo (sim, eu tive um mullet… duas vezes), usava uma jaqueta jeans remendada (obrigado mãe), e assisti a inúmeros shows de artistas consagrados como Metallica e The Wildhearts, bem como bandas locais de Bristol como Frozen Food.
Ao longo dos anos, houve muitas pesquisas sobre os efeitos do heavy metal. Eu mesmo usei-o como uma das condições em meus próprios estudos sobre o impacto do som no desempenho. Mais especificamente, usei o thrash metal (um subgênero de heavy metal rápido e agressivo) para fazer comparações usando música da qual os participantes gostam e não gostam (com o metal sendo a música da qual não gostam). Esta pesquisa mostrou que ouvir música que você não gosta, comparado à música que você gosta, pode prejudicar a rotação espacial (a habilidade de girar mentalmente objetos em sua mente), e tanto a música amada quanto a não apreciada são igualmente prejudiciais ao desempenho da memória de curto prazo.
Outros pesquisadores estudaram mais especificamente por que as pessoas ouvem o heavy metal e se ele influencia o comportamento subsequente. Para as pessoas que não gostam de heavy metal, ouvir a música parece ter um impacto negativo no bem-estar. Em um estudo, os não-fãs que ouviram música clássica, heavy metal, música que escolheram, ou sentaram-se em silêncio, experimentaram uma maior ansiedade depois de ouvir heavy metal. Ouvir outra música ou ficar em silêncio, por outro lado, causou uma diminuição na ansiedade. Curiosamente, a frequência cardíaca e a respiração diminuíram com o tempo em todas as situações.
Metalheads e headbangers
Observando as diferenças entre fãs de heavy metal e não-fãs, uma pesquisa mostrou que os fãs tendem a ser mais abertos a novas experiências, que se manifestam em preferir músicas intensas, complexas e não convencionais, além de uma atitude negativa em relação à autoridade institucional. Alguns têm níveis mais baixos de auto-estima, no entanto, e necessidade de exclusividade.
Pode-se concluir que este e outros comportamentos negativos são o resultado de ouvir heavy metal, mas a mesma pesquisa sugere que que ouvir essa música tenha um efeito catártico. Os fãs no final da adolescência / início da idade adulta também tendem a ter níveis mais altos de depressão e ansiedade, mas não se sabe se a música atrai pessoas com essas características ou se as causa.
Apesar do conteúdo lírico muitas vezes violento em algumas músicas de heavy metal, pesquisas publicadas recentemente mostraram que os fãs não ficam sensibilizados com a violência, o que põe em dúvida os efeitos negativos previamente assumidos da exposição a longo prazo a essa música. De fato, estudos mostraram que fãs de longa data eram mais felizes em sua juventude e mais bem adaptados na meia-idade em comparação com seus colegas não-fãs. Outra constatação foi que os fãs, quando estão com raiva e ouvem heavy metal, não tem aumento da raiva, na verdade há aumento de suas emoções positivas, sugerindo que ouvir música extrema representa uma maneira saudável e funcional de processar a raiva.
Outras pesquisas fizeram descobertas bastante incomuns sobre os efeitos do heavy metal. Por exemplo, você pode não querer colocar alguém encarregado de acrescentar molho picante à sua comida depois de ouvir essa música, já que um estranho estudo mostrou que os participantes adicionaram mais pimenta à água dos outros depois de ouvir heavy metal do que quando não ouviam nada.
Finalmente, o heavy metal pode promover o pensamento científico, mas não simplesmente por ouvi-lo. Professores podem promover o pensamento científico com seus alunos apresentando alegações de que ouvir certos gêneros musicais está associado à ideias violentas. Ao examinar as acusações de violência e agressão- que envolveram artistas mundialmente famosos como Cradle of Filth, Ozzy Osbourne e Marilyn Manson – os alunos podem se engajar no método científico, explorando falácias lógicas, questões de projeto de pesquisa e preconceitos.
So, you beautiful people, whether you’re heading out to the highway to hell or the stairway to heaven, walk this way. Metal can make you feel like nothing else matters. It’s so easy to blow your speakers and shout it out loud. Dig! [Nota: Deixamos o último parágrafo no original em inglês, para manter as referências]
Nick Perham, Senior Lecturer in Psychology, Cardiff Metropolitan University
Este artigo é republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.