A revolução do ska ao reggae na voz de Marcia Griffiths

A história da música jamaicana passa necessariamente por dois nomes: o produtor Clement “Coxsone” Dodd e o lendário Studio One, que abrigou nada menos que as maiores estrelas do reggae, começando pelo pioneirismo do ska nos anos 1960 dos Skatalites, passando pelas jovens carreiras de The Wailers e Toots and the Maytals até potencializar a carreira de Marcia Griffiths, uma das cantoras de reggae mais conhecidas do mundo.

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Marcia Griffiths. Foto: Krd / CC BY-SA

Coxsone percebeu que havia potencial na emergente música popular jamaicana quando tocou o R&B da Motown e da Atlantic dos anos 1960 nos chamados sound systems, que faziam as festas nas periferias de Kingston.

Aos poucos ele foi abrigando talentos, muitos deles conduzidos por sua ambição de revelar sucessos radiofônicos. No começo era difícil desafiar o chefe. Mas, com o sucesso de Skatalites, dos Wailers e, no começo dos anos 1970, com a projeção global do reggae por meio de The Harder They Come, o Studio One diversificou seu portfólio à medida que o público acompanhava a evolução do ska e do rocksteady, até conquistar o mundo de vez com o reggae.

Um disco para celebrar o Studio One

Só de conhecer parte dos nomes que passaram pelo Studio One já dá uma boa projeção de seu protagonismo. Porém, poucos se aventuraram a contar essa rica história da forma mais instigante possível: por meio da música.

É aí que entra a rainha Marcia Griffiths, que fez questão de repassar alguns dos melhores singles do lendário estúdio.

A atemporalidade da artista e das canções se confundem no título de Timeless, disco que lançou em junho de 2019.

Marcia fez questão de resgatar preciosidades no disco, a começar por “What Kind of World”, gravada pela primeira vez em 1968 pelo trio vocal The Cables. Neste disco, a canção ganha interessante ar de uma maturidade que não apaga a pureza da juventude.

“Baby Be True”, dos Heptones, ficou ainda mais dançante – aspecto que a rainha do electric-slide conhece bem, quando estourou no mundo com o single “Electric Boogie Song”, em 1982, pouco depois de sair das I-Threes, que acompanhava as turnês de Bob Marley & The Wailers.

Até mesmo uma música barra-pesada de Peter Tosh, como “I’m the Toughest”, passa bem no pente fino da cantora. Ao acrescentar elementos do dub e dar espaço para um delicioso solo de sax, a música adquire uma conotação mais reflexiva.

Todas as expressões musicais que contribuíram para a chegada do reggae são valorizadas pelo canto de Marcia. “Ska Medley” arremessa imagens de uma Jamaica alegre nos anos 1960, com o apoio de Toots and the Maytals; a faixa seguinte, “Rock Steady + This Old Man”, valoriza a influência do jazz e da soul-music que ajudaram a moldar a música jamaicana nos anos 1950 e 60.

Para quem não conhece o trabalho de Marcia Griffiths, Timeless não é só prova de sua capacidade em assimilar as origens da música jamaicana ao seu talento. Tem-se um documento histórico de uma gravadora cujo catálogo de singles revelou uma geração que moldou para sempre a canção popular e conquistou milhões de fãs espalhados pelo mundo.

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Tiago-Ferreira
Tiago Ferreira
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Editor responsável do Na Mira do Groove, fã de jazz, hip hop, samba, rock, enfim, música urbana em geral.