Da série Timbres

O guitarrista Nuno Mindelis fala sobre timbres e seus equipamentos preferidos para tirar o som que deseja.

Kalamazoo
Célebre fábrica da Gibson em Kalamazoo. Kalamazoo Public Library Photograph P-79 [Domínio Público], via Wikimedia Commons

Um monte de guitarristas, jovens, estudantes de guitarra etc. me perguntam sobre timbres. Normalmente pedem dicas sobre amplificadores, guitarras e pedais. Devem achar estranho quando digo que não conheço os montes de pedais e modelos que me informam. Com exceção de wah wah (para mim a melhor invenção em pedais desde sempre) e de um ou outro aqui e ali (um drive para o caso de encontrar um valvulado estragado em alguma cidade) prefiro timbres puros e me parecem os melhores até hoje.

O meu conselho a essa rapaziada é que ache “a guitarra” boa e “o amplificador” bom. Exemplo? Uma boa Fender ou Gibson e um amplificador Fender Twin Reverb, Bassman ou Super Reverb. Ou um Vox. Ou um Marshall Bluesbraker. Não há como errar dessa forma. Plug & Play. Mesmo sem pedais.

E o que é uma boa Fender ou Gibson? Normalmente as antigas. Há quem argumente que isso é lenda e tal, mas tenho algumas e há sim diferenças. Por exemplo as Gibson com captadores PAF ou PAT. Simplesmente está para aparecer algo que reproduza aquilo.

Mas como são caríssimas, indicaria as reedições Custom Shop. Eu sei, também são caras. Mas nessas coisas eu acho que o barato sai mais caro. Relíquias são eternas.

Já perceberam que sou adepto de guitarras antigas, dos anos 50 / 60. Nos 70 a qualidade caiu bastante, exceções feitas a Kalamazoo (fábrica original da Gibson que fez modelos excepcionais até 1974). Depois decaiu, especialmente na fábrica nova, de Nashville. Nos 90 a Gibson voltou a melhorar e consta que há modelos recentes (anos 2000) muito bons de ES335.

A Fender teve o período áureo enquanto Leo Fender estava por lá, ele vendeu a fabriqueta pequena (mas a melhor de todos os tempos!) em 1963 para a CBS. O seu estoque durou até 1965 em relação a alguns modelos com menos saída (caso, por exemplo, dos incríveis amplificadores Vibrolux e Vibroverb de 45w, que eram menos solicitados que os Twins de potência mais alta e que, portanto, duraram mais tempo). Estes, com maior demanda, acabaram mais depressa e começaram a ser produzidos pela CBS. Eram os “Silverface” (os originais do Leo eram os “Blackface”) .

Nuno Mindelis
Nuno em foto de Marcelo Davera

Vejo um monte de gente anunciar guitarras e amplificadores dos anos 70 e 80 como vintage e por preço alto, como se tivessem em mãos verdadeiros Stradivarius. Infelizmente Vintage – que é étimo para vinte (anos) – não significa que seja sempre bom. Pode ser apenas um instrumento médio ou médio-ruim com 20 anos. Como no vinho, é preciso conhecer as safras que foram boas e as que não foram. Esse “Silverface” dos anos 70 da CBS, por exemplo: nunca peguei em um que desse certo. Posso ter tido azar.

Já a reedição do lendário Blackface 1965 funciona sempre. Especialmente os que vinham com falantes Eminence, os meus prediletos na Fender (agora vêm com Jensen, também muito bons, mas eu prefiro os Eminence).

Há um outro fenômeno a assinalar que é a proliferação de “Twins” por aí. O Twin a que me refiro, é o Fender Twin Reverb. Só existe um. Mas como existem modelos “The Twin”, o “Twin Amp” e por aí afora, é comum os técnicos dizerem que têm um Twin à minha espera. Depois de algumas desventuras passei a enviar a foto do modelo exato nos riders de equipamento e peço a foto do que têm à minha espera para saber se é o correto.

Ainda aproveitando esta parte, já fica a dica: se for o Twin Amp, menos mal. O The Twin é que simplesmente não dá!

Isso aí. Abraço, pessoas!

Sobre o Autor

Nuno Mindelis
Nuno Mindelis
Guitarrista | Website | + posts

Nuno Mindelis  teve o primeiro reconhecimento internacional pela Guitar Player Magazine/EUA, a Bíblia mundial da Guitarra, que nos anos 90 o comparou ao lendário Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin. Pouco depois, foi eleito o melhor guitarrista independente de Blues ao vencer o 30th Anniversary Guitar Player Magazine Competition, concurso promovido pela mesma publicação. Gravou e fez turnês com a banda Double Trouble, (banda de Stevie Ray Vaughan) e participou de importantes festivais internacionais , anunciado ao lado de nomes como Prince, Diana Krall, George Benson, Oscar Peterson, Jimmy Vaughan, B.B King e muitos outros.

Foi incluído na lista dos 30 melhores guitarristas brasileiros de todos os tempos da Rolling Stone Brasil.