Review: Fender Broadcaster 1950 (com áudio)

Estamos em 1950, nos Estados Unidos. Tudo parece possível, a energia atômica, a corrida espacial, os aviões a jato… neste contexto quase visionário, algumas pessoas estão trabalhando e criando coisas que moldarão o futuro. Dentro do que é a história da guitarra elétrica – e da música, portanto – Leo Fender é um deles. A ideia de construir uma guitarra de corpo sólido, com o braço separado e fixado com parafusos, sua tocabilidade fácil e sua posterior produção em massa são fundamentais nessa mudança que se aproxima.

Entre o outono de 1950 e até fevereiro de 1951, a Broadcaster abriu caminho como uma pioneira entre as guitarras de corpo sólido. Na Cutaway tivemos o prazer de analisar uma dessas Broadcasters, nomeadamente o número de série 0081, que pertence a Nacho Baños da Tex-Mex Guitars, uma autoridade no assunto e autor de Blackguard, um livro que é uma referência absoluta.

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Sabemos que na Fender os números de série nem sempre são coerentes, esta Broadcaster é quase igual a uma guitarra Esquire com corpo de pinho que foi feita para Hal Hart no final do verão de 1950, esta tinha incrustações de metal no corpo e braço sólido, sem um tensor ajustável e seu número de série é 0087, então comparando as características de uma e outra, podemos supor a data de outubro de 1950. Vamos sempre analisar a guitarra sem dogmas, a visão estilo Cutaway.

Braço e headstock

O headstock é o usual da Broadcaster e nele uma série de peculiaridades são observadas, a principal e mais significativa é que o filete que cobre a haste do tensor é feito de maple, não de nogueira, também há arruelas nas tarraxas que são não o próprio modelo da Fender, então provavelmente são as que a Gibson usava. O logotipo é o tipo espaguete da Fender, prata com bordas em preto e o nome do modelo. As tarrachas são Kluson Deluxe da chamada “single line“.

A pestana de osso marca o início do braço de maple, com perfil em forma de “V” e de tamanho considerável, daí a discussão que Leo Fender e Don Randall tiveram sobre a conveniência de instalar um braço ajustável, em parte pela real necessidade, em parte porque a patente sobre o mecanismo que a Gibson poderia ter.

A escala também é maple com raio de 7,25 polegadas e os marcadores de posição são pontos pretos nos locais usuais, ela abriga 21 trastes – que neste exemplar 0081 não são os originais.

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Corpo e eletrônica

O corpo desta guitarra é típico da Broadcaster com um cutaway na parte inferior e apresenta algumas particularidades. No momento em que decidiam se iriam instalar ou não o tensor ajustável nos instrumentos, já haviam sido fabricados corpos que não possuíam canal na madeira para inserir a chave de fenda e ajustar o tensor, de modo que um orifício foi feito toscamente depois.

Os canais para conectar as cavidades dos captadores também tem um acabamento um pouco grosseiro, portanto, presumivelmente, foram feitos à mão, ou pelo menos não com máquinas bem ajustadas.

O escudo é de baquelite preto, uma espécie de fibra vulcanizada, revestida com laca. A ponte é a clássica de três carrinhos e tem uma fenda porque em alguma ocasião instalaram um B-Bender ao repintá-la seriam vistos dois furos no corpo pelo mesmo motivo, embora agora não sejam perceptíveis.

É bem provável que quando o B-Bender foi instalado os carrinhos tenham sido trocados porque, sendo uma das primeiras Broadcasters, deveriam ser de aço. Os que estão instalados atualmente são de latão, também dos anos 50, colocadas pelo atual proprietário. No verso nota-se que os furos por onde passam as cordas estão desalinhados, provavelmente porque o processo de instalação era manual, daí a falta de precisão.

No que diz respeito à eletrônica, os captadores são enrolados com bobinas de fios 43 AWG em vez de 42, isso é um pouco mais fino e dá um pouco mais de saída. Eles medem oito, quase nove K, um pouco mais altos do que os da produção posterior.

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Os controles são os mesmos de uma Telecaster, mas sendo anterior a 1952, o sistema que usado é o chamado “blend control“, onde o potenciômetro de tone não funciona corretamente como tal, mas na verdade é um mixer entre os dois captadores.

Na posição da ponte, quando retiramos os agudos, o que realmente se faz é colocar o pickup de braço na mixagem, se fecharmos totalmente (todo para baixo) soam ambos os captadores misturados e se, ao contrário, abrirmos tudo soará apenas o captador da ponte. Com o switch na posição do meio, apenas o pickup de braço é ativado – sem ação do controle de tone.

Na posição frontal, o pickup de braço com condensador produz sons de slap bass, que oferece sonoridades densas quando tocadas em acordes. Esta combinação viria a mudar dois anos depois, com a introdução de um potenciômetro de tone tradicional, embora elimine qualquer possibilidade de mixagem entre captadores e permanecerá com um condensador até 1967.

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Timbres e conclusões

A guitarra soa muito bem em geral, o fato de ser um instrumento com toda essa massa, com um braço grosso e o captador com mais saída, tudo gera um som mais escuro que o habitual em uma Telecaster, mas também mais cremoso, um pouquinho mais cheio. Os áudios que acompanham este artigo esclarecem um pouco mais a definição do som da guitarra, que na época tinha o objetivo de fornecer sons de country ou bigband – que mais tarde se mesclaria perfeitamente com o blues e o rock.

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Áudio Nº 1
Áudio Nº 2
Áudio Nº 3
Áudio Nº 4

José Manuel López

Sobre o Autor

Cutaway Revista de Guitarras
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Artigo original de Cutaway Revista de Guitarras. Traduzido por Musicosmos e publicado sob licença de ©Cutaway. Todos os direitos reservados.