Guthrie Govan. O guitarrista total.

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The Aristocrats, o trio no qual Guthrie Govan toca com Marco Minnemann na bateria e Bryan Beller no baixo, tem material novo – eles acabam de lançar You Know What…? Neste verão (no hemisfério Norte), eles começaram a turnê do disco pelos EUA.

Guthrie não parou de trabalhar desde o álbum anterior de The Aristocrats, então foi uma boa ideia conversar com ele para ficarmos a par de tudo.

Olá Guthrie, você acaba de lançar o quarto álbum com The Aristocrats, como tem sido gravar juntos novamente?

Desde o final da turnê de Tres Caballeros, todos nós estivemos ocupados com outros projetos e tarefas, então acho que sentimos uma sensação de alívio quando finalmente pudemos nos reunir novamente e trabalhar em algo novo como uma banda.

Na verdade, fizemos uma turnê européia no final do ano passado e, pela primeira vez, nos encontramos na estrada sem ter que apresentar um novo álbum: tudo o que podíamos fazer era tocar nosso material mais antigo e, apesar disso, tudo parecia muito fresco.

A resposta da plateia foi incrivelmente acolhedora e todos nós nos sentimos muito bem tocando juntos depois do descanso.

Então iniciamos o processo de fazer esse novo álbum muito animados. Foi um trabalho árduo, mas ao mesmo tempo muito divertido.

Já faz muito tempo desde o seu último trabalho mas você não parou de fazer coisas… O que você pode nos dizer sobre esse tempo?

Ultimamente, na verdade, tenho estado mais ocupado do que nunca! Juntei-me à banda de Hans Zimmer, o que significa que acumulei muitas milhas extras nos últimos anos.

Como resultado dessa participação, eu também me vi no estúdio de Hans tocando partes de guitarra em alguns filmes, eu toquei na trilha sonora de Boss Baby, por exemplo, e mais recentemente eu também contribuí com muitos ruídos irritantes para o novo filme dos X-Men.

Eu também tenho feito algumas turnês tocando meu material solo com músicos locais em diferentes partes do mundo. Eu excursionei na Índia com Mohini Dey no baixo e Gino Banks na bateria.

Depois disso, Mohini e eu fomos para o Japão para nos juntarmos a Senri Kawaguchi na bateria e a Akira Ishiguro nas teclas… Mais recentemente, acabei de terminar uma turnê pela Rússia, acompanhado por Anton Davidyants no baixo e Gergo Borlai na bateria.

Todos eles músicos brilhantes! E tem sido muito interessante ouvir como o velho material do Erotic Cakes soa quando interpretado por diferentes combinações de personalidades musicais.

No entanto, é muito bom estar “em casa”, no formato trio com The Aristocrats, nós nos conhecemos muito bem musicalmente e eu realmente acredito que há uma química única e especial nessa formação.

Quando você sentiu que já estava na hora de lançar um novo álbum com The Aristocrats?

Bem… nosso foco com The Aristocrats sempre foi ter uma banda ativa com longevidade real, nunca vimos o trio como um mero “projeto”, então acho que estamos sempre dispostos a fazer as coisas avançarem.

Recentemente, todos nós tivemos que fazer uma pequena pausa para acomodar outros compromissos, mas sempre tivemos a intenção de reagrupar e voltar ao trabalho assim que fosse possível para nós três.

Ao longo da história da banda, acho que temos sido bastante consistentes em nosso ciclo típico de escrever / gravar / lançar um álbum e depois fazer uma extensa turnê para divulgá-lo.

A turnê de Tres Caballeros totalizou 128 shows em todo o mundo, e eu suspeito que vamos acabar acumulando um número similar de datas neste próximo ciclo.

Como sempre, vocês dividem a autoria das músicas entre os três. Como foi seu processo de composição?

Como de costume, deixei tudo para o último minuto e depois me vi diante de um prazo terrível durante o processo de composição deste álbum.

Às vezes, acho que realmente me beneficio da pressão de saber que tenho que entregar uma música nova em uma data específica: isso me obriga a terminar o trabalho e admito que muitas vezes posso ser culpado de abandonar uma composição, se minha agenda não me fornecer uma motivação específica. Em termos de inspiração, minhas três músicas vêm de lugares muito diferentes. “Spanish Eddie” começou como um desejo vago de escrever algo que tivesse “sabores” espanhóis, mas apresentando-se de uma maneira inesperada.

“Terrible Lizard” foi, em termos muito simples, minha tentativa de escrever uma música sobre um grande e desajeitado dinossauro.

Eu não tenho ideia de por que eu queria fazer essas coisas, mas às vezes é melhor não analisar muito.

Enquanto isso, “Last Orders” foi definitivamente o tema mais difícil de terminar. A melodia principal me apareceu completamente formada, quase imediatamente, e não consegui mais tirar da cabeça… mas demorei muito tempo para descobrir exatamente que tipo de música eu estava tentando tocar. Eu a escrevi passando por muitas interpretações estilísticas diferentes, antes de me acomodar (felizmente, eu acho) no formato que você ouve no álbum.

Em termos criativos gerais, o processo foi muito abstrato, como sempre! Eu não consigo escrever “sob encomenda”, então minha abordagem preferida é geralmente permitir que diversas ideias flutuem livremente em minha cabeça enquanto eu tento estar alerta o suficiente para reconhecer quando uma ideia particularmente boa começa a soar como sendo a mais promissora.

Tendo tido um pouco de tempo para “conviver” com minhas três melodias “aristocráticas” mais recentes, eu sinto que elas estão entre as melhores coisas que eu escrevi para essa banda… Eu só espero que os ouvintes concordem!

No verão, a turnê norte-americana começa. Quais são suas expectativas?

Para ser honesto, eu não espero grandes surpresas, toda vez que The Aristocrats lançam um novo álbum, a subsequente turnê mundial sempre inclui uma extensa viagem pelos Estados Unidos, então eu tenho muitas referências baseadas nas turnês anteriores.

Estou particularmente ansioso para ver como o novo material evolui quando começarmos a tocá-lo ao vivo.

Depois umas 20 apresentações com qualquer lote de material novo, começamos a descobrir novas possibilidades nas músicas e geralmente encorajamos esse tipo de evolução contínua, assumindo muitos pequenos riscos musicais todas as noites e depois tentando lembrar quais funcionaram bem… E aqueles nunca devem ser repetidos!

Além disso, suponho que o público responda bem às nossas novas composições. Acho que estamos todos muito felizes com este novo álbum e acho que representa um passo importante para a banda.

No passado, você escreveu alguns livros de técnica de guitarra. Você já pensou em escrever mais alguma coisa?

Em algum momento, num futuro distante, eu poderei considerar escrever novamente, talvez me concentrando mais nos aspectos filosóficos da guitarra e em algumas das ideias que se cristalizaram durante todas as clínicas e masterclasses que fiz durante as duas últimas décadas, mas no momento… não, realmente não.

Enquanto estou em turnê eu geralmente fico muito ocupado, então sempre que eu tenho um tempo de descanso, tenho a tendência de sentir um forte desejo de compor, ao invés de tentar escrever outro livro de didática.

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Quando você trabalha com outras bandas que não são suas, seu enfoque muda?

Minha mentalidade básica é a mesma em todos os casos: gostaria de saber como posso usar tudo o que sei sobre o instrumento para ajudar o compositor a alcançar o som que está procurando.

Quanto à quantidade de minha própria personalidade que devo injetar na música… isso varia de caso para caso. Alguém como Steven Wilson geralmente tem uma ideia bastante específica sobre o que ele quer ouvir na guitarra, enquanto alguém como Hans Zimmer tem expectativas menos detalhadas e parece muito aberto às sugestões dos membros da banda.

Cada tipo de cenário tem seu próprio conjunto de desafios e eu sempre aprendo algo novo com cada experiência, então… Eu gosto do fato de que minha vida musical parece conter um equilíbrio saudável entre fazer o que eu quero e trabalhar para outras pessoas.

Você costuma fazer clínicas, em junho esteve na América Latina. O que você ensina?

Em geral falo muito, demonstro ideias musicais quando necessário e toco ocasionalmente algumas músicas com backing tracks.

Eu sempre tento encorajar que seja feito um bom número de perguntas, com a esperança de que cada clínica se torne algo personalizado e único… embora eu acredite que certas questões pareçam ressurgir quase sempre. Então eu geralmente me vejo explorando alguns dos aspectos mais filosóficos de tocar: o que pensar quando você improvisa, de onde vêm as idéias criativas, como decidir quais aspectos você precisa trabalhar mais, etc.

Quando comecei a fazer essas clínicas, recebia muitas perguntas sobre técnica, rotinas de prática, etc. mas tenho que admitir que estou muito mais feliz com o tipo de coisas que as pessoas me perguntam hoje em dia… Eu acho que plataformas como o YouTube devem ter ajudado as pessoas a terem uma ideia mais clara sobre o tipo de guitarrista que eu realmente sou.

Você continua com sua Charvel Guthrie Govan Signature… É a guitarra definitiva para você?

Em muitos sentidos, sim. Passei cerca de dois anos trabalhando nesse projeto com o Charvel e durante esse período eles me encorajaram a pedir qualquer coisa que eu achasse que pudesse fazer com que o instrumento fosse minha guitarra ideal, e eles responderam a tudo que eu pedi para fazerem… se tem algo que eu não gosto da guitarra agora, eu só posso culpar a mim mesmo.

É claro, existem outras guitarras que fazem certas coisas específicas de forma mais autêntica: a Charvel nunca poderia substituir completamente o minha antiga Gibson ES-335, por exemplo. No entanto, minha ideia com a Charvel era ter uma guitarra que pudesse reproduzir meu “som principal” de modo 100% convincente, ao mesmo tempo em que eu poderia lidar com qualquer situação em que me encontrasse. Eu tenho que dizer que ainda não encontrei um desafio musical que esta guitarra não pudesse enfrentar!

Eu posso acrescentar que ela mantém sua afinação notavelmente bem e você pode confiar nela na estrada: o braço é incrivelmente estável, então ele não parece sofrer os efeitos negativos de vários vôos ao redor do mundo… o que definitivamente é uma coisa boa na minha linha de trabalho.

Você ainda toca com a Vigier Surfreter fretless? O que você procura em uma guitarra sem trastes? Está relacionado à afinação, facilitando o slide ou o vibrato?

Sim, eu ainda toco com ela… Eu gosto especialmente do fato de que o braço da Surfreter é feito de algum tipo de liga de metal, então ele oferece muito mais sustentação do que qualquer outra alternativa de madeira (especialmente com ação alta) e parece não se desgastar!

Eu acho que o principal atrativo da guitarra sem trastes para mim é que ela parece familiar e desconhecida ao mesmo tempo: ela é afinada como uma guitarra normal, então meus dedos já conhecem o “mapa” de onde estão todas as notas e, no entanto, navegar de uma nota para outra é sempre uma aventura. Uma vez que você tenha atingido um nível de habilidade para tocar as notas afinadas (e realmente não demorará tanto tempo!), o fato de não haver trastes traz uma nova dimensão de liberdade ao modo como você toca: eu gosto da sensação de liberdade. Fico um pouco perdido, mas não completamente perdido.

Eu adoraria levar a Surfreter para a estrada com mais frequência, mas a natureza peculiar do instrumento é tal que normalmente ela é usada para uma ou duas músicas no set e a logística dos tours com música instrumental significa que você tem que pensar cuidadosamente quais instrumentos você pode realisticamente carregar em um avião. No entanto, eu sempre uso uma quando estou em turnê com Hans Zimmer, parece funcionar especialmente bem quando eu toco em uníssono com o violoncelo durante o tema da Mulher Maravilha, por exemplo!

Que amplificação você usará para a nova turnê com The Aristocrats? Você ainda está com a Victory?

Sim, ainda estou usando amplificadores Victory e meu amplificador oficial para a nova turnê será o novo V30 MK2. É essencialmente o mesmo que a primeira versão do V30, mas tem uma nova voz opcional que eu prefiro para a maior parte do que faço, particularmente quando estou usando o canal limpo. De qualquer forma, este timbre é comutável, para que eu possa facilmente “reverter” para o som MK1 sempre que eu sinto a necessidade de fazê-lo.

Se você tivesse que escolher entre um bom som ou uma boa melodia… como guitarrista, o que você escolheria?

Tenho que admitir que acho difícil responder a essa pergunta, talvez eu não a entenda completamente… Uma parte importante de ter um bom som obviamente vem da sua técnica, não apenas do seu equipamento, então quando você fala de um possível “bom som”, de sacrificar alguma coisa, não tenho certeza se essa troca me deixaria com um equipamento inferior ou com técnica pior.

José Manuel López

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Artigo original de Cutaway Revista de Guitarras. Traduzido por Musicosmos e publicado sob licença de ©Cutaway. Todos os direitos reservados.