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Miles Davis, o filho mais famoso do Jazz, alcançou o status divino por seu trabalho nos anos 50 – como em Kind of Blue – e mesmo nos anos 70 – como em Bitches Brew. Os anos 80 permaneciam um período duvidoso de sua discografia.

Tutu pôs em cheque essa opinião do senso comum. Embora ainda seja rejeitado por alguns por ser “leve” ou, pior ainda, “pop-fusion“, o álbum, cuja impressionante capa monocromática estilizava a beleza austera, escultural, dos últimos anos do trompetista, tinha algo que capturava a imaginação de muitas pessoas de fora do universo do jazz.

E não era apenas pela história romanceada de ver Davis voltando para a briga, como alguns dos pugilistas em quem ele se inspirou, depois de vários anos nas cordas. Se We Want Miles, de 1982, alardeou a ideia de que ele ainda era relevante para a música, especificamente, e para a cultura de modo geral, Tutu de 1986 era uma prova definitiva de que ele podia tocar as pessoas sem parecer datado. Esse foi o ponto principal.

A gravação refletia o espírito dos anos 80, assim como Rockit (de Herbie) fez. Isso significava que haveria teclados, sequenciamento, efeitos dub, baterias eletrônicas e tonalidades que frequentemente tinham o brilho e a nitidez da era Fairlight, algo que é ainda mais evidente pelo som nítido das reedições.

Marcus Miller foi o arquiteto que construiu as fundações sonoras para Davis, e o mais importante era que ele era tanto um produtor que podia tocar quanto um músico que podia produzir.

Em meio à tapeçaria eletrônica, o baixo e o clarinete baixo marcam presença, assim como o violino elétrico de Michael Urbaniak, a percussão de Paulinho Da Costa e os sintetizadores de Adam Holzman e Jason Miles.

Esses elementos coexistiam em cenários que tinham fortes ecos da música popular negra da época – o brilho de Cameo, o funk ensolarado, os coquetéis eletroacústicos de Prince ou Jam & Lewis e, em menor grau, o angelical soul-reggae que Wally Badarou e Sly & Robbie entregaram para Grace Jones.

Mas Miller trouxe sutilezas harmônicas mais cristalinas à mesa. Combinado com os sopros dos metais de Davis, o resultado foi um trabalho de atmosferas repletas de energia. E ótimas melodias. Nenhuma leve. E algumas definitivamente bem pesadas.

Faixas de Tutu, de Miles Davis

  1. Tutu
  2. Tomaas
  3. Portia
  4. Splatch
  5. Backyard Ritual
  6. Perfect Way
  7. Don’t Lose Your Mind
  8. Full Nelson

Detalhes do lançamento

  • LABEL Warner Bros. Records
  • DATE Sep 1986
  • COUNTRY United States
  • FORMAT CD
  • CATALOGUE #9 25490-2

Kevin Le Gendre

Licença Creative Commons

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