Concentração ou Não Distração?

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[su_label type=”black”]De Roberto Gualdi, da Accordo.[/su_label]

Entre os elementos a serem considerados em sua própria formação como músico, há um decisivo, importante tanto para o desenvolvimento técnico, quanto para a consciência teórica e a sensibilidade musical: a concentração. A concentração permite ao músico expressar sua bagagem instrumental, artística e expressiva com o melhor de suas habilidades sem ter pensamentos ou interferências que não estejam diretamente relacionadas ao que ele está fazendo, a distração pode minar a qualidade de seu trabalho. Roberto Gualdi fala sobre isso.

Delegar o crescimento musical unicamente à prática instrumental e ao estudo teórico não é suficiente. Porque, quando chega a hora de colocar em prática o que foi aprendido tocando ao vivo, no estúdio de gravação ou em ensaios com outros músicos, podem surgir obstáculos que até mesmo excelentes habilidades musicais não sejam suficientes para remediar: distrações, nervosismo, pensamentos. E para obter a vantagem e não permitir que essas intrusões prejudiquem seu desempenho, você precisa ter a capacidade de manter o foco.

Falando em Concentração, há um primeiro grande equívoco que é essencial evitar: muitas vezes associamos a concentração durante uma apresentação a uma espécie de estado de isolamento em que o músico se entrincheira, excluindo a si mesmo, seu instrumento e a parte que está executando, de todo o resto. Desnecessário dizer que, desta forma, a concentração seria prejudicial porque privaria o músico de alguns dos aspectos mais importantes do ato de tocar: ouvir e interagir. A concentração deve ser lida de outra maneira, como não-distração.

Não-Distração é a capacidade de se manter focado ao máximo no que você está fazendo, vivendo aquele momento com unicidade e em sua totalidade, sem pensar naquilo que você terá que fazer – ou pior – naquilo que não foi feito, apenas na coisa mais importante, o que está sendo realizado no momento.

Musicalmente, é muito fácil de explicar: se você está tocando uma música, você não precisa vivenciar um verso, uma introdução, uma ponte como algo preparatório para outra parte da música, talvez mais complexa ou emocionalmente envolvente. Cada parte de uma música, cada canção de um repertório, o momento em que você toca, deve ser vivido como o mais importante e, como tal, enfrentado com a concentração máxima.

Trabalhar, cultivar a capacidade de se concentrar, e não se distrair, também permite que se evolua na consciência de que a capacidade musical de uma pessoa se desdobra em três níveis: um nível físico, um nível mental e um emocional.

O aspecto físico é o que garante fluidez e solidez à mecânica e gestual da execução, sustentando a técnica.

Mas não só: o aspecto físico é também o cuidado com corpo do músico em sua integridade. Um músico que não pratica nenhum esporte ou exercícios de alongamento, após alguns anos começará a sofrer dores nas costas ou tendinites e, nessas dores, encontrará um inimigo terrível para sua concentração.

O nível mental, por outro lado, afeta a capacidade de gerenciar, dominar e retrabalhar o que é tecnicamente possível de se fazer. Um exemplo trivial: sobre uma batida, tocamos a primeira e a terceira semicolcheia, depois a segunda e a quarta. A mecânica do movimento, o gesto físico, permanecerá exatamente a mesma coisa: mas o fato de mover a acentuação, o esforço para pensá-los e executá-los em uma métrica diferente será apenas um trabalho mental. (Veja o vídeo em 03min28seg)

O último aspecto diz respeito ao componente emocional de uma execução, um fator que transcende tanto o componente técnico quanto o mental da compreensão teórica. E é o aspecto que provavelmente dá maior profundidade artística em uma execução.

É esse elemento que faz com que um grande maestro, e os soberbos músicos que compõem a orquestra, tentem ensaiar à exaustão uma obra que vão tocar. Uma situação em que os músicos em questão são de tal estatura e preparação que toda dificuldade técnica ou de leitura já é superada por todos: o que, no entanto, os ensaios devem refinar é unicamente o espírito, a emotividade do desempenho, que deve garantir a alma e o caráter do compositor na interpretação.