Dor de cabeça para músicos de gerações mais antigas, a produção musical vem se tornando mais acessível para o profissional a cada dia. Esse processo não é uma novidade, mas apenas algo que vem se aprimorando.
Em outra época, produzir uma música era uma tarefa cara e poucos podiam arcar com os custos. Produzir uma faixa poderia custar próximo à casa de alguns milhares, pois os recursos computacionais ainda eram escassos. O músico tinha que procurar um estúdio próximo, apresentar suas composições e torcer para que o material interessasse ao produtor, para que os custos caíssem.
Com avanço da tecnologia e o desenvolvimento cada vez mais amplo da engenharia eletrônica, com base na física moderna, esse cenário alterou-se completamente. Produtores e músicos independentes começaram a participar mais do mercado com estúdios caseiros, os conhecidos home studios, isso ainda nos anos 1990.
Com a consolidação do áudio digital, as gravadoras viram seu poder diminuir (por mais que ainda tenho influência nas principais mídias e o jabá continue em prática) e os home studios participam cada vez mais do mercado fonográfico. Já há músicos que produzem faixas sem mesmo ter um estúdio, com o computador, softwares e muita garra.
Home studios alcançaram o padrão de qualidade alto fornecido pelas gravadoras. Obviamente, não é ainda tarefa para quem tem pouco dinheiro a investir, mas está longe dos milhares de reais exigidos para produzir uma música.
Um exemplo de sucesso absoluto vindo de home studio é o álbum “Jagged Little Pill”, de Alanis Morissete considerado um dos melhores álbuns dos anos 1990, vencedor de diversos prêmios. Segundo Glen Ballard, produtor do disco, o álbum foi concebido praticamente todo dentro de seu Home Studio, nas palavras do próprio, 75% dele. As composições, a gaita bem presente, as guitarras… as ideias surgiram e foram registradas ali. Depois restou aos outros músicos a gravação das baterias e eventuais floreios, já que instrumentistas de peso participaram do álbum.
Não há mais motivos para rejeição às gravações caseiras, elas podem soar tão profissionais quanto as geradas por grandes estúdios. A seguir apresento alguns dos responsáveis por essa revolução no mercado do áudio:
1) Migração do analógico para o digital
A era analógica era muito mais trabalhosa do que a atual era digital. E essa visão não se restringe ao formato de áudio, à compressão como MP3 ou WMA. Ela é muito mais ampla: praticamente todo o processo da produção de uma faixa tornou-se digital.
Essencialmente analógica ainda é a captação do áudio através do uso de microfones. O tratamento sonoro é essencialmente digital. Em épocas anteriores, o processamento de efeitos se dava de maneira analógica. A voz “molhada” dos anos 1970 e 1980 principalmente, aquelas com bastante uso de delay e reverb eram um tanto trabalhosas no que diz respeito a sua produção. O desenvolvimento de plug-ins transformou essa ação em meros cliques.
2) Gravadores Portáteis de alta qualidade
Estúdio de bolso é o apelido que vêm recebendo esses aparelhos. Com áudio em alta resolução, loopings de baterias já prontos, microfones embutidos muitas vezes e com número razoável de pistas, os gravadores digitais caíram nas graças de muitos músicos. Para quem tem um orçamento pequeno, é uma excelente opção. Além disso, muitos funcionam como placa de áudio.
3) Era dos instrumentos virtuais
Sons de orquestra em alta resolução, módulos de som de pianos conhecidos como o de Elton John… Essas são algumas das possibilidades de Samples que podemos encontrar nas produções fonográficas atuais. Muito usados em trilhas sonoras e músicas eletrônicas, a sonoridade dos instrumentos virtuais é apreciada até pelos mais conservadores com áudio. Bibliotecas de sons poderosas fazem parte dos HDs dos computadores dos estúdios caseiros.
4) Ficheiros MIDI
Por mais que soe estranho citar algo criado em 1983 em pleno 2019, o MIDI é o elemento pioneiro de toda a revolução digital que o seguiria posteriormente. É por meio dele que hoje são feitos sequenciamentos de bateria, programação de instrumentos virtuais e outras aplicações.
Além disso, MIDI é um arquivo muito leve e contém informações de execução apenas. Por mais que a saída desejada ao utilizá-lo seja escutar a execução de um áudio em algum instrumento, o MIDI não transmite áudio. O que acabou se tornando uma alternativa bastante interessante no início da era virtual, quando era bastante complicado ter um fluxo de dados intenso como há hoje.
Arquivos levíssimos, é possível gravar um sequenciamento MIDI em casa e enviá-lo para outro local onde a pessoa poderá abrir essa informação e executá-la em sua DAW, com a saída em outro instrumento virtual diferente daquele onde fora gravado anteriormente, pois é disso que se trata o sequenciamento: Informação binária quase algorítmica, transmitindo dados de dinâmica (pianíssimo, fortíssimo etc), altura da nota e outras coisas relevantes. Não há espaço neste texto para explicar suas diferentes funções, mas é um assunto que merece abordagem futura, cujo estudo é essencial para qualquer músico.
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Sobre o Autor
Eduardo Nepomuceno
Eduardo Nepomuceno, carioca, é músico, produtor musical e escritor. Como músico, começou a aprender guitarra aos 13 anos. Estudou o instrumento na Escola de música Villa Lobos. Além de guitarrista, também aprendeu a tocar teclado e gaita, além de ter aprendido um pouco de baixo e violino. Também interessou-se por canto no fim da adolescência. Já estudara um pouco de técnica vocal na Villa Lobos, quando começou a apreciar coral. Depois estudou canto popular na Escola Elite Musical e depois seguiu sendo treinado pelo cantor Pedro Calheiros, filho de Rinaldo Calheiros, conhecido como "a voz que emociona". Nos treinos também dedicou-se ao canto lírico influenciado pelo gosto do professor por óperas italianas. Estudou produção musical na Escola de áudio Home Studio, do professor e músico Sérgio Izeckson. Passou a utilizar os conhecimentos adquiridos no curso para fazer gravações caseiras e trabalhar com produções de baixo custo para músicos independentes. Já gravou músicos do estilo gospel, vocais usados para dublagens, além de ter trabalhado com canto popular e ensino de teoria musical. Além disso, também licenciou músicas na pequena carreira. Atualmente está se dedicando à gravação do seu projeto solo "O valor do primeiro ensaio", que terá músicas sonoras feitas essencialmente ao piano e com auxílio de guitarras, violão, baixo, orquestras programadas e cordas, mas sem elementos rítmicos como bateria. Também está escrevendo seus dois primeiros livros: "Artes de amor e guerra" e "Ópera das dores do mundo". Na área da escrita, já escreveu redações e colunas para um ramo do PN Record, antigo projeto da emissora. Atualmente publica seus textos no próprio blog. Entre seus assuntos abordados estão políticas de financiamento cultural, análises críticas artísticas e didática de áudio.