Bem-vindo a outro capítulo sobre “como compor uma música”. Desta vez analisaremos o processo de trabalho de um dos compositores pop mais importantes da história: Phil Collins. O processo que veremos aqui é aquele que Collins usou durante a preparação de seu primeiro álbum solo, intitulado Face Value. Este álbum nasceu quase sem motivo, fortemente baseado na necessidade de expressão e sem nada a ver com uma estratégia de marketing.
A maneira como Phil Collins escreveu aquelas músicas marcou o que seria o resto de sua carreira solo, pois ele continuou usando a mesma maneira de compor em todos os seus álbuns solo subsequentes.
Face Value foi um fenômeno de popularidade e vendas, um evento totalmente inesperado para Collins. E o mesmo poderia ser dito sobre sua carreira solo extremamente bem-sucedida.
Lembremos que, durante os anos oitenta, Phil Collins foi o artista com mais singles no ranking de popularidade dos Estados Unidos. Sua discografia solo já vendeu mais de 150 milhões de unidades em todo o mundo, e isso sem mencionar seu trabalho com o Genesis ou contribuições para filmes e outros projetos.
Em termos de vendas, apenas dois outros artistas se comparam a ele: Michael Jackson e Paul McCartney (devido em grande parte aos Beatles).
Como Collins tornou-se um fenômeno, quase naturalmente e sem fazer força? Tudo parece ter começado com o álbum Face Value. Vejamos.
As canções de Phil Collins
Pode-se dizer sem exagero que Face Value ofuscou tudo o que o Genesis havia feito até aquele momento e lançou a carreira de um dos principais artistas nos últimos 40 anos. Mas… qual foi o contexto, a preparação e a experiência que Phil Collins teve na época em que começou a escrever essas músicas?
Porque uma coisa é sentar-se para trabalhar com a música como amador, e outra é ter gravado e produzido meia dúzia de álbuns e excursionado com sua banda de sucesso ao redor do mundo por uma década e depois começar a compor. E Collins pertence a esta segunda categoria. Mas vamos retroceder um pouco mais.
Sua primeira incursão no mundo das artes veio de sua mãe, que era agente de teatro em Londres e sua função era selecionar crianças para cantar, dançar e atuar em comerciais de televisão. Sua mãe o levou para aulas de locução (para falar da maneira mais clara e articulada possível), atuação, canto e outras.
Chegou ao ponto em que Collins atuava e cantava no musical Oliver em um dos papéis principais. Em outras palavras, quando chegou à adolescência, Phil Collins já possuía treinamento formal e várias oportunidades de trabalho em performances de canto e atuação nos palcos.
Genesis e além
Na mesma época, Collins também tocava bateria em grupos escolares e praticava bastante. Ele continuou a frequentar escolas de atuação e teatro, fazendo comerciais e obtendo vários papéis em peças teatrais.
Em 1970, Collins fez um teste para a banda de rock progressivo Genesis e pegou esse emprego. Como o mais novo membro de uma nova banda em crescimento, Phil Collins era o menos influente dentro do grupo. Seu voto era o menos importante, suas idéias eram as menos consideradas e, em turnê, sempre ficou nos piores quartos.
No entanto, é com o Genesis que Phil Collins aprende a gravar discos, compor em grupo e fazer turnês extensas.
Após a saída de Peter Gabriel, os membros restantes descobrem que Phil é mais adequado para deixar a bateria e ir à frente do palco para cantar. Sem dúvida, sua infância e adolescência de canto e atuação o serviram.
Após mais sucesso com o Genesis, os membros Steve Hackett e Mike Rutherford decidem gravar seus álbuns solo. Este não é um bom momento para Collins.
Após anos de ausência de Collins devido a turnês e compromissos intermináveis, sua esposa decide deixá-lo e mudar-se da Inglaterra para o Canadá com seus dois filhos. É um ponto muito baixo na vida de Phil Collins. Então, ele decide montar um estúdio caseiro no quarto de casal da nova casa que ele havia comprado com sua agora ex-esposa.
É nesse momento e contexto de tristeza, apesar de seu sucesso profissional, que ele começa a gravar suas coisas, apenas ideias. Enquanto os colegas do Genesis lançavam seus álbuns e os promoviam (sem muito sucesso), Collins estava em casa trabalhando na música como terapia, apenas para desabafar, sentindo-se até meio perdido no mundo.
O processo de composição
Collins gavava ideias e as deixava de lado. Ele tocou piano e fez partes rítmicas em uma bateria eletrônica e as deixou para trabalhar mais tarde.
Depois ele cantou em cima dessas demos. Ele cantou o que lhe vinha à mente: incoerências, frases dolorosas, sílabas etc. Depois pegava as gravações cruas e as refinava. Algumas vezes ele simplesmente as deixou como gravou inicialmente. E foi assim que nasceu o mega hit “In The Air Tonight”.
De acordo com Collins, o que ele cantou na primeira passada é 99,9% do que ficou na letra final. E foi com esse processo que ele também compôs outro de seus maiores sucessos: “Against All Odds”.
Essa maneira de compor o acompanhou durante o resto de sua carreira solo.
Conclusão
É impressionante saber como Phil Collins compôs essas obras-primas. Aquelas sessões de 1979 foram uma revelação para ele, pois foi a primeira vez que ele compôs, sem as limitações e julgamentos de seus colegas do Genesis – que não o levaram a sério, pois suas músicas tinham apenas três acordes, ele simplesmente não sabia como compor uma música.
Ironicamente, Face Value alcançou o número um em vários países, algo que o Genesis nunca havia feito.
Como Mike Rutherford afirmou: “Queríamos que Phil fosse bem-sucedido, mas não tanto assim”.
Sobre o Autor
Músico Pro
Originalmente publicado na revista Músico Pro – Traduzido e publicado por Musicosmos com autorização de ©Music Maker Publications, Inc. – Todos os direitos reservados. All rights reserved. Visit musicopro.com