Microfonando a bateria (Parte 1)

Em uma era repleta de samples de bateria, faixas virtuais, pads eletrônicos e softwares que substituem, afinam e corrigem o tempo da bateria, podemos perguntar: “onde foram parar os microfones e a gravação de bateria?” Ou seja, a gravação real, analógica, como antigamente.

Em caso de dúvida, sempre consulte os especialistas. Para este artigo, convidamos cinco deles. As entrevistas serão publicadas em duas partes, por isso não perca a Parte 2.

São quatro bateristas (Pat Bautz, Chet McCracken, Steve Bowman e David Crigger) que gravam partes de bateria para quem os contrata. Além disso, teremos Dave Martin, que é baixista e proprietário de estúdio e está acostumado a gravar muitos bateristas em seu estúdio de Nashville.

A cada um deles fizemos três perguntas:

  • Qual é a sua configuração de microfone favorita para gravar bateria acústica?
  • Em que estilos de música você usa essa configuração?
  • Por que estes são seus microfones favoritos?

As respostas que recebemos superaram nossas expectativas. As participações entusiasmadas foram repletas de muitos detalhes e conselhos excelentes, e eles fizeram muito mais do que fornecer respostas simples a essas perguntas básicas.

Isso nos mostra que esses profissionais destacados ainda são apaixonados pelo que fazem e estão muito dispostos a compartilhar suas experiências. Agradecemos sua valiosa contribuição.

Pat Bautz

Pat Bautz é engenheiro de gravação, produtor e baterista de estúdio, seja em gravações presenciais ou à distância. Seus sites são realdrumstudio.com e mixyoursongs.com.

Qual é a coisa fundamental para a obtenção de um bom som de bateria? Uma bateria excelente! Isso é de vital importância e repetirei para sempre. Se você deseja obter uma gravação de qualidade em sua bateria, você precisa começar com uma bateria de qualidade.

Conselhos para momentos de dificuldade

Não sei quantas vezes uma banda veio ao meu estúdio para gravar e seu baterista me disse que preferia usar sua própria bateria, que soava mal, apesar de eu ter aqui baterias que estão perfeitamente afinadas e muito bem cuidadas. Argumento que levará mais tempo para que os sons de sua bateria soem mais ou menos decentes e que provavelmente não teremos um ótimo som.

Quando alguém insiste em usar uma bateria ruim, eu tenho um procedimento para isso: substituir as peles, ajustar aros, colocar peças que faltam, trocar pratos quebrados, etc.

Como engenheiro de áudio, é preciso estar preparado para situações como essa. Felizmente tenho peles extras, chaves de afinação, peças extras, etc.

Sempre tenho essas coisas no meu estúdio porque gravo bateria profissionalmente, ou seja, vivo disso. Portanto, é essencial ter algo como um kit de primeiros socorros de bateria. Aqui está uma lista daquilo que você deve ter em mãos.

  • Peles de diferentes tamanhos: 10”, 12”, 14”, 16”. Eu recomendo Remo Coated Emperors porque elas são boas para uso geral, e funcionam muito bem em diversas situações musicais.
  • Feltros para prato
  • Estantes
  • Vários pares de baquetas
  • Chaves de afinação de tambores
  • Óleo WD-40
  • Abafadores de tambor (como Moongel ou outro tipo)

Três kits de bateria

No meu estúdio, tenho três kits de bateria diferentes que uso. Meu conjunto mais versátil é um Yamaha Recording Series com um bumbo de 24″ e tons de 10″, 12″, 13″, 14″, 15″, 16″ e 18″. Tenho tantos tamanhos diferentes para usar combinações conforme o estilo musical exigir.

Eu também tenho um kit Pearl Maple com bumbo de 20″ e tons de 8″, 10″, 12″ e 14″. Eu também tenho um kit WFL Vintage 1948 com bumbo de 24″ e tons de 13″ e 16″.

Além disso, eu tenho várias caixas para escolher.

Veremos a seguir alguns dos estilos de música, microfones e técnicas gerais de gravação que funcionam juntos. Lembre-se de que este é apenas um guia. Você deve experimentar antes de gravar, pois os sons podem surpreendê-lo.

Pop/Rock

Já que estou sempre procurando por ótimos sons de bateria, eu costumo usar baterias maiores para esse estilo de música. Geralmente uso o kit Yamaha Recording Series com alguns tambores grandes do conjunto WFL e uma caixa Hit-Maker.

Bumbo

Coloco um microfone AKG D112 por dentro do furo apontando para a maceta a 3/4 de distância. Um alto-falante usado como microfone de subgraves fica a 2,5cm da pele de resposta (foto 1).

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Figura 1

Caixa

Uso um microfone Shure SM57 na parte superior e outro na parte inferior. O microfone superior fica a 5cm do aro e 5cm acima da pele, apontando para o centro. O ângulo dependerá da configuração de cada baterista.

O microfone inferior fica a 10cm da borda e em um ângulo de 45 graus apontando para a pele a 5cm de distância. É importante verificar a polaridade em relação aos microfones aéreos, bem como a polaridade entre os microfones superior e inferior.

Chimbal

Microfone AKG C414 (cardióide) ou AKG C430 posicionado a 10cm da borda externa dos pratos, 7cm acima e apontando em ângulo (foto 2).

microfone-no-chimbal
Foto 2

Tons

Gosto de usar o mesmo tipo de microfone em todos os tons porque isso produz um som mais uniforme. Nesse caso, eu costumo usar o Sennheiser MD 421 na configuração M a aproximadamente 5 cm do aro e entre 2,5 e 7 cm da pele, apontando para o centro da pele em um ângulo de 45 graus.

Quero capturar o som da bateria ao vivo como você ouviria se estivesse tocando. Se os tons soarem diferentes em ataque ou timbre, você deve trocar as peles ou afinar novamente. É importante verificar problemas de fase entre esses microfones e os overheads (foto 3).

microfone-no-tom-tom
Foto 3

Overheads

Eu jamais gostei de usar um par de microfones espaçados (spaced pairs) como overheads para este estilo de música. O som dos tambores deve ser muito controlado. Eu geralmente uso um par de microfones correspondentes ou quase iguais em XY, ORTF ou algo semelhante. Um par de microfones Shure KSM27 podem ser posicionados 1m acima da caixa e 1m acima do surdo no centro do conjunto (foto 4).

microfones-overheads
Foto 4

Existem muitos pratos bons, é melhor experimentar de acordo com seu gosto e estilo que você está trabalhando, mas eu recomendo tentar os TRX, porque eles têm uma grande variedade e qualidade muito alta.

Microfones de Ambiente

Como uma onda de 60 Hz é igual a 5,7m de comprimento, geralmente uso um Neumann U47 a 1,4m de distância do bumbo e a 10cm do solo. Isso captura uma forma de onda de 60 Hz no primeiro 1/4 da forma da onda, dando uma boa ressonância. Eu uso um par de microfones AKG C414 (cardióide ou figura 8) posicionados como um par com espaçamento de aproximadamente 40cm um do outro, 2,30m do bumbo e 1,30m do surdo (foto 5).

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Foto 5

Reggae/Ska (Foto 6)

O kit Vintage WFL soa muito bem para esta aplicação, combinado com uma caixa de 12″ Pearl Soprano e pratos TRX. Tenho gravado bateria de maneiras diferentes para este estilo.

Uma delas é usar uma técnica de microfonação semelhante à do estilo Pop/Rock.

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Foto 6

Outra é uma abordagem minimalista semelhante à técnica de Glyn Johns, com apenas um microfone de bumbo, um na caixa e dois grandes condensadores overhead. Um diretamente acima da caixa e outro colocado na direção do surdo, apontando diretamente para a pele da caixa.

Certifique-se de ter ambos os microfones a uma distância igual da caixa para ajudar a aliviar os problemas de fase. Essa técnica depende mais da capacidade do baterista de tocar uniformemente e de maneira controlada nos pratos.

Gosto de ter opções quando mixo, então, se você tem canais suficientes, por que não microfonar e gravar os tons individualmente? Você pode então selecionar quais canais usar.

Bumbo

Eu uso um AKG D112 através do furo, mirando o batedor a 3/4 de distância dele. Eu uso um microfone baseado em um falante (semelhante ao Yamaha SubKick, porém eu mesmo o construí) e o posiciono a 2,5cm da pele de resposta.

Caixa

Eu uso um Shure SM57. Eu posiciono da mesma forma que faço para o estilo Pop/Rock.

Tons

Uso um Sennheiser MD 421. Posicionamento igual ao Pop / Rock. É importante verificar a fase com os overheads.

Overheads

Uso um Neumann U87 em padrão cardioide, 1,10m acima da caixa, um Neumann U47 acima do tom e na mesma distância da caixa que o U87, mirando na caixa.

Ambiente

Eu uso AKG C414, com padrão cardioide, colocado como um par espaçado 30cm de distância um do outro. Eles fornecerão um campo estéreo mais preciso com uma boa ressonância a 60 Hz. É importante sempre verificar a fase.

Metal/Hard Rock

Nesse caso eu uso o kit Yamaha Recording Series, com tambores grandes e menos abafamento no bumbo. Eu uso uma caixa de aço Tama e pratos TRX.

Bumbo

Um microfone Shure Beta 52 através do orifício e posicionado a 3/4 de distância apontado para a maceta. Um microfone de subgraves fica a 2,5cm da pele de ataque.

Caixa

Eu uso um SM57 e um SM81 na parte superior e um SM81 na parte inferior (foto 7). O posicionamento é o mesmo do Pop / Rock. Verifique a fase entre os microfones. Verifique a polaridade entre os microfones superior e inferior.

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Hit-hat

Eu uso um AKG C430. Posicionamento igual ao Pop / Rock.

Tom

Eu uso microfones AKG C414, padrão cardioide, diafragma condensador a 5cm do aro e entre 5 e 7 cm acima da pele (foto 8).

microfone-sobre-a-pele-de-um-tom-tom

Overheads

Eu uso Neumann U 87, cardioide ou Figura 8, dependendo do som da sala, colocados como um par espaçado 40cm de distância, a 2,30m do bumbo, apontado em um ângulo de 20 graus voltado para o meio do kit de bateria. Verifique a polaridade.

Jazz e Blues tadicionais

Nesse caso eu uso a bateria Maple da Pearl, com bumbo de 20″, emudecimento esparso no bumbo, caixa WFL vintage, tons de 10″, 12″ e 14″, pratos TRX Cymbals, peles de fibra sintética.

Bumbo

Microfone Shure Beta 52, a 5cm da parte frontal do bumbo. Microfone Neumann U47 a 1,40m do bumbo e 10cm do solo.

Caixa

Microfones Shure SM57 na parte superior e inferior. O microfone superior a 5cm do aro, 5cm da pele e voltado para o centro. O ângulo dependerá da configuração de cada baterista.

O microfone na parte inferior vai 10cm do centro e em um ângulo de 45 graus apontando para a esteira, a 5cm dela. Verifique a polaridade entre o microfone superior e inferior.

Tom

Sennheiser MD 421 na configuração M, aproximadamente 5cm do eixo, 2,5cm a 7,5cm da pele, com ângulo de 45 graus apontando para o centro do tambor.

Overheads

Microfones Neumann U 87, cardioide ou figura 8, 1,30m acima da caixa, posicionada como uma variação quase ORTF em par. Ajuste o ângulo dos microfones para menos ambiência e som mais direto.

Ambiente

Microfones Neumann U 87, padrão cardioide ou figura 8, posicionados como um par espaçado 60cm um do outro e 1m do solo. Como sempre, não se esqueça de verificar a polaridade.

Uma nota sobre variações RTF

Geralmente começo com uma distância de 17 cm entre os diafragmas e 110 graus entre as cápsulas. Eu reduzo o ângulo se houver muito ruído ambiente. Ou se eu precisar de um pouco mais de som ambiente, aumento o ângulo. Tenha cuidado para não perder o som focalizado da bateria.

Essas configurações de sala são baseadas na minha sala e na sua pode não funcionar. Reserve um tempo para encontrar a localização ideal para o seu ambiente.

Um ingrediente final muito importante para um ótimo som de bateria: um baterista consistente.

Um dos maiores problemas que vejo é quando um baterista sem muita experiência de gravação atinge a bateria de forma inconsistente. Se isso acontecer, você terá que acertar na mixagem ou encontrar boas batidas e usá-las para substituir as notas fracas. Principalmente, divirta-se e experimente.

Chet McCracken

Chet McCraken foi membro da lendária banda Doobie Brothers. Hoje, Chet, dono de um estúdio, é engenheiro e também mixa e masteriza álbuns. Seu trabalho de estúdio pode ser ouvido no hit country de Billy Pierson (Oak Records) “Don’t Get No Sand In It”.

Chet também grava bateria para clientes ao redor do mundo, se apresenta ao vivo na área do sul da Califórnia e é instrutor de bateria no GC Studios em Woodland Hills, Califórnia.

Qual configuração de microfone é a sua favorita para bateria acústica?

No bumbo, uso um microfone Shure Beta 52, apontando para o centro da maceta através do meu “Kickport” (um maximizador acústico).

No topo da caixa, uso um microfone Sennheiser 504 (não o e604), posicionado fora do eixo, apontando para o centro para aquele som compacto. Sob a caixa, uso um microfone Shure 545 apontado para o centro.

No hit-hat, posiciono outro microfone Sennheiser 504 apontado para a parte superior. Por sua vez, no prato de condução uso um microfone AKG C451E, apontando para a cúpula do prato – e perto.

Nos tons, uso microfones Sennheiser e504 angulados nas laterais e apontados para o centro da pele. Para overhead, uso microfones Neumann TLM 102, cada um apontando para os lados esquerdo e direito do kit de bateria, respectivamente, e tentando manter o bumbo e a caixa centralizados.

Como microfones de ambiente, eu uso os modelos Oktava MK-219 com peças eletrônicas Michael Joly.

Em que estilos de música você usa essa configuração?

Eu uso essa configuração em quase todos os estilos de música que gravo aqui no meu estúdio. Ao mixar eu faço com os sons de bateria de acordo com o estilo da música em questão.

Por que esta é sua configuração favorita?

Eu realmente gosto porque, juntos, meu Kickport junto com o microfone Beta 52 me dão um som de bumbo forte e poderoso. Os microfones Sennheiser 504 parecem ser muito direcionais e isso me isola de outras partes da bateria que estão próximas. Por seu lado, o Neumann TLM 102 tem um som fantástico e muito honesto com o som real da minha bateria, bem como com o som da sala. E os microfones Oktavas modificados têm impacto – punch – e oferecem uma versão verdadeira da maneira como sua minha bateria na sala.

Por Lorenz Rychner

Leia a Parte 2.

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Originalmente publicado na revista Músico Pro – Traduzido e publicado por Musicosmos com autorização de ©Music Maker Publications, Inc. – Todos os direitos reservados. All rights reserved. Visit musicopro.com