Gosto de ressaltar a questão, cada vez mais fora de moda, de artistas fazerem boas músicas e/ou bons álbuns como condição básica para terem o direito de avançar na carreira e galgarem espaços merecidos. Infelizmente, no Brasil, promotores chamam artistas para participar de eventos “de ouvir falar” e “porque está esperando faz tempo”, colocando tudo no mesmo saco. Não têm proficiência crítica nenhuma, nem análise própria.
Stones são o que são porque sempre fizeram grandes músicas. Jobim, Beatles e por aí afora também. Não houve truque diferente para chegar onde chegaram.
Álbuns, por outro lado, parece que saíram de moda nas produções atuais, é tudo “single”. Mas pensa bem: faria algum sentido um álbum completo da “música” que se ouve hoje em dia nas rádios e TVs?
A palavra álbum era o equivalente fonográfico da palavra livro, digamos. E aqui falo de literatura. Por um tempo policiei-me muito, afinal o meu pai só ouvia música clássica praticamente e achava Otis Redding (e tudo o que eu ouvia) uma porcaria. Ele estava errado, eu não queria incorrer no mesmo erro. Saudosismo é um problema e um perigo. Mas consegui gostar de coisa dos 40s, 50s aos 00s e ainda gosto de muita coisa que sai em 2018. Durante um período detestei os anos 80, mas como gostar se trata de um fenômeno de compreensão, consegui compreender parte deles um pouco depois. Que bom.
Ultimamente, no entanto, ando muito negativo em relação ao que ouço por aí e me pergunto de novo se é reacionarismo ou se de fato há uma perda enorme de qualidade de conteúdo artístico.
Antes o álbum era pensado como uma sequência, uma história, uma leitura, uma avaliação, alguma coisa que se deglutia e fazia com que dessa imersão se saísse diferente, como toda a arte, na acepção correta do termo. Dá para imaginar isso hoje? Por exemplo, um álbum do “MCG15 Meu Pau Te ama”? Ou MC Kevinho Tumbalatum? Para ficar só por aqui. Antes havia singles também, dos seis anos em diante eu ouvi todos os dos Beatles, nunca tive um LP deles até aos 20, por aí. A questão é: esses singles podem ser equiparados?
Entretanto, mesmo nas “castas” segmentadas mais incensadas pelos meios tradicionais (especialmente jornais e revistas mais especializadas de onde seria de se esperar uma crítica mais consistente) isso também acontece. Há “grandes nomes” por aí, acima de qualquer suspeita, que de fato nunca fizeram um disco ou música médias, sequer. Você pensa no nome sonoríssimo de alguns desses artistas endeusados (alguns apontados como as maiores descobertas depois do pão de forma) e não consegue lembrar-se de qual música eles fizeram. Rádios segmentadas e mídia impressa (teoricamente mais informadas) exaltam-nos como verdadeiros gênios mas não sobram nem disco nem performance que signifique alguma coisa.
É o que chamo do roto e do rasgado. Boa crítica contribui para melhores produções. Crítica fraca é apenas condescendente com a produção deplorável dos tempos atuais. Mas é uma fase, espero. Nascem pessoas talentosas todos os dias, apenas não conseguiram furar o bloqueio ainda.
Abraço a todos!
Nuno.
Sobre o Autor
Nuno Mindelis
Nuno Mindelis teve o primeiro reconhecimento internacional pela Guitar Player Magazine/EUA, a Bíblia mundial da Guitarra, que nos anos 90 o comparou ao lendário Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin. Pouco depois, foi eleito o melhor guitarrista independente de Blues ao vencer o 30th Anniversary Guitar Player Magazine Competition, concurso promovido pela mesma publicação. Gravou e fez turnês com a banda Double Trouble, (banda de Stevie Ray Vaughan) e participou de importantes festivais internacionais , anunciado ao lado de nomes como Prince, Diana Krall, George Benson, Oscar Peterson, Jimmy Vaughan, B.B King e muitos outros.
Foi incluído na lista dos 30 melhores guitarristas brasileiros de todos os tempos da Rolling Stone Brasil.