Essa frase-título muito popular, e até certo ponto emblemática, cada vez mais parece estar perigosamente ficando fora de moda, especialmente em tempos de globalização da informação e do conhecimento.
Eu acredito sim na generosidade, gentileza e troca de conhecimentos, tais atitudes eliminam um pouco a toxidade desse sistema violento e capitalista em que vivemos. Além de ser um bom exercício de autruísmo, e acho até que pode aos poucos nos elevar espiritualmente.
Mas… feliz ou infelizmente vivemos num mundo competitivo e disputado, onde cada um busca meios para se destacar na multidão e garantir o seu espaço na história – ou simplesmente sobreviver e pagar as contas no final do mês, nada mais digno e essencial.
Mas como fazer isso em um mercado cyber-musical onde quase tudo está disponível praticamente de graça?
Vou contar uma rápida história que aconteceu comigo.
Recentemente recebi um “zap” de um quase conhecido que se dizia meu fã, etc e tal. O mesmo me pediu uma dica sobre uma metodologia que uso com meus alunos, chamado método Spivack, sobre o qual em breve falarei em outro artigo. Era apenas uma dúvida simples que respondi prontamente, gentilmente e até – imagino eu – generosamente.
Enfim, o papo continuou um pouco mais e rapidamente virou o seguinte da outra parte: Será que você poderia gravar um vídeo mostrando isso, aquilo e aquilo outro… etc.
Nesse momento eu respondi: Porque não marcamos uma aulinha (paga)? Pois assim posso te mostrar tudo isso detalhadamente, pode ser inclusive pelo Skype caso você more em outra cidade.
A resposta foi: Claro! Entro em contato contigo!… Fim de papo.
E o detalhe um tanto preocupante é que o mesmo, que aparentemente também é “professor”, e imagino deva viver ou pelo menos ganhar algum dinheiro dando aulas em sua escola de bateria, em nenhum momento pensou no tempo, no trabalho e disponibilidade que eu teria que despender para atender as suas necessidades didáticas e ânsia por conhecimento, e tudo isso… gratuitamente.
Mas ele não tem tanta culpa assim, acredito que isso seja simplesmente um sintoma resultante dessa disponibilidade de informação gratuita na internet, que acaba nos fazendo achar natural que o tempo e o conhecimento alheios possam ser solicitados sem nenhum custo.
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Moral da história, estamos ficando muito mal acostumados a dar e pedir de graça tudo aquilo que levamos anos e anos investindo tempo e dinheiro para adquirir. O conhecimento e a experiência simplesmente parecem não ter mais tanto valor.
Apelo então principalmente aos mais jovens e aspirantes a profissão de músico, para que reflitam e fiquem alertas pois talvez, num futuro não tão distante, simplesmente não consigamos mais viver de música ou das habilidades e conhecimentos adquiridos com anos e anos de dedicação.
Ou isso, ou então voltaremos à prática do escambo. Só que numa era onde empresas de gás e luz ainda não aceitam nada em troca de seus serviços além do velho e vil metal.
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Sobre o Autor
Cássio Cunha
Nascido em Recife-PE, Cássio Cunha começou tocando caixa na banda marcial do Colégio Salesiano de Recife. Em 1986 iniciou seus estudos no Conservatório Pernambucano de Música, aonde ficou até 1991. lá estudou com os professores José Gomes ,Severino Revorêdo, Geraldo Leite, Maestro Duda, Maurício Chiappeta e JedielFilho. Ainda durante seus estudos, começou sua carreira profissional tocando em grupos de música instrumental e acompanhando diversos artistas da região. Em1992 mudou-se para o Rio de Janeiro onde lecionou na escola de música In Concert por mais de dez anos. No Rio começou também suas pesquisas sobre música brasileira, lançando os livros IPC (Independência Polirrítmica Coordenada) eARB (Acentos Rítmicos Brasileiros) – Editora Multifoco.
Atualmente acompanha o cantor e compositor Alceu Valença e O Grande Encontro formado por Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.
É também colunista da revista Modern Drummer Brasil e sócio proprietário do estúdio-escola Oficina de Bateria Brasileira em Copacabana.