Estamos vivendo uma nova era emergente de big bands de jazz. Dá pra dizer que se trata de seu 3º grande momento de protagonismo.

O 1º aconteceu na era do swing, com os grupos de Glen Miller, Benny Goodman, Count Basie, Duke Ellington, entre outros, que definiram a música na era pré-II Guerra. O 2º momento surgiu entre os anos 1960 e 70, com as orquestras de free-jazz, o auge de Gil Evans, a formação da Thad Jones/Mel Lewis Orchestra, sem esquecer dos membros da AACM, que redefiniram o papel da improvisação livre.

As big bands atuais, porém, são mais polifônicas e abraçam da música clássica ao free, às vezes em um mesmo tema. Entretanto, elas possuem algumas características que as distinguem umas das outras. A seguir, apresento 3 das melhores big bands de jazz da atualidade.

Miho Hamaza e m_unit

Com apenas 31 anos, esta japonesa de Tóquio chegou com tudo com o excelente Dancer in Nowhere, seu 3º álbum, lançado no começo de 2019.

Seu grupo, m_unit, possui 13 músicos e preza pelo equilíbrio entre cordas e metais (incluindo vibrafone, violinos e tuba), às vezes performando com ótimos momentos de solistas, às vezes ingressando uma via de entrecruzamentos de gêneros musicais, incluindo percussão oriental e clara herança do bop.

Quando se mudou para Nova York, em 2010, Miho já tinha um background de música clássica. Ela recrutou alguns estudantes da Manhattan School of Music e criou uma identidade própria.

Seus temas são esperançosos e evocam um sentimento de positividade. Quando ela provoca momentos de catarse, pense em uma explosão de alegria e, ao mesmo tempo, de serenidade. Essa é a impressão ao ouvir “The Cyclic Number” ou “Il Paradiso del Blues”, em que reinterpreta bop e blues com a pulsação de uma eletrônica orgânica.

Mark Lockheart

Com mais de 35 anos de experiência como bandleader, Mark Lockheart lançou novo disco, Days on Earth, seguindo uma via mais dramática. Ele cria enredos próprios para cada tema, que muitas vezes se preocupam mais em perpassar diferentes estados de espírito do que se ater à estrutura harmônica.

Para seu novo disco, o britânico montou uma orquestra de mais de 30 músicos. Tem muito do Romantismo de Vivaldi, ao mesmo tempo em que latin-jazz e chacona ibérica cuidam de adornar uma música que não esconde a ambição de ser sofisticada.

Seu poder de criação é tão sublime que permite que jazz e música clássica coabitem em um belo trabalho estético, que revaloriza o passado e reinterpreta o presente.

Michael Leonhart Orchestra

Desde criança, o trompetista Michael Leonhart disse que adorava as orquestrações de caras como Quincy Jones, Duke Ellington e da dupla Miles Davis e Gil Evans. Em 1992, ele ficou conhecido ao ganhar um Grammy com apenas 17 anos. Pouco tempo depois, excursionou com o Steely Dan e colaborou em alguns discos.

Só depois de acumular muita experiência como instrumentista que decidiu criar a própria big band. O resultado: o ótimo The Painted Lady Suite, de 2018, em que tem à disposição uma cortina de mais de 20 músicos (com destaque para os metais) que formam complexas paisagens sonoras.

Leonhart é o principal destaque porque não esconde o êxtase de ter uma big band tão polifônica, que traduz o gosto por eletrônica e hip hop com a mesma dedicação em que cria thrillers bem elaborados.

Sobre o Autor

Tiago-Ferreira
Tiago Ferreira
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Editor responsável do Na Mira do Groove, fã de jazz, hip hop, samba, rock, enfim, música urbana em geral.