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Imagem de James Farfan Gonzales por Pixabay

Hoje entramos no mundo do desconhecido, dos mitos e lendas. Quantas vezes já ouvimos que “um acabamento de guitarra com laca nitrocelulose soa melhor” do que outro acabamento diferente. Graças a este famoso mito, vamos falar hoje sobre os vários acabamentos que podemos dar ao nosso instrumento, como pintar guitarra ou baixo e como isso afetará seu som.

Em relação ao acabamento de guitarra, baixo ou violão, encontramos diferentes tipos dependendo do material utilizado. Assim, podemos destacar o verniz poliuretano, verniz nitrocelulose, verniz acrílico e óleo. Feito este esboço geral dos materiais, vamos analisar as características de cada um deles.

O verniz poliuretano é feito com 3 componentes e está dentro dos chamados acabamentos reativos, pois necessita de um catalisador para alterar seu estado químico. Seus componentes são o próprio verniz, um catalisador e um solvente específico.

Cada um deles deve ser misturado na proporção adequada e sempre seguindo as instruções do fabricante, caso contrário corremos o risco de obter um mau resultado.

Normalmente esta proporção é de 2 partes de verniz + 1 parte de catalisador + 1 parte de solvente, embora isso dependa do fabricante.

Este verniz deve ser aplicado em duas fases. A primeira corresponde à base ou selagem. Sua função é cobrir e regularizar a superfície porosa da madeira até que a espessura de verniz desejada seja obtida. Isso pode ser feito aplicando diferentes demãos até que, por exemplo, os veios estejam completamente fechados (é o que se faz com os instrumentos de acabamento brilhante ou de cor sólida).

Depois de aplicar o primer e deixar curar (secar) por no mínimo 12 dias, é hora de lixar com uma lixa fina entre 360-400 e depois aplicar o “acabamento” propriamente dito. É um verniz com acabamento de poliuretano, que pode ser acetinado, brilhante ou fosco dependendo do visual que queremos para o nosso instrumento. Deve-se notar que o acabamento de guitarra, baixo ou violão em poliuretano é o mais durável e resistente ao atrito que podemos usar em nosso instrumento e, portanto, torna-se a opção número um se quisermos proteger nosso instrumento por muitos anos.

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Em um segundo grupo, encontramos a laca nitrocelulose. Este tipo de “verniz” não deve ser confundido com o poliuretano, pois possuem naturezas e componentes diferentes. A laca nitro é um acabamento que endurece pela evaporação de seu solvente, e isso faz com que cada camada una-se à anterior.

A sua natureza também é diferente, pois algumas marcas incorporam resinas vinílicas ao verniz para facilitar a sua aplicação, lixar e melhorar sua dureza.

A forma de aplicação do verniz nitrocelulose é mais delicada, pois deve ter um tempo de cura maior entre as demãos antes da aplicação do acabamento final, que também é composto por laca nitro e pode ser natural ou colorido.

No terceiro grupo encontramos vernizes chamados acrílicos ou à base de acrílico. São vernizes que se dissolvem em água, embora não sejam todos, e que são muito fáceis de aplicar por pulverização.

As vantagens ambientais em relação ao resto dos vernizes e lacas são evidentes, mas o inconveniente é que as cores aplicadas com tingimento ou as madeiras com muito desenho natural não ficam tão bem, visto que na superfície deste acabamento há sempre uma camada esbranquiçada, não agradável ao olhar, que embaça o acabamento.

Esse tipo de verniz é mais indicado para móveis do que para a pintura de guitarra ou outros instrumentos musicais, pois com eles podemos estragar, por exemplo, um bom flame maple ou quilt maple por não destacar bem os grafismos por causa daquela camada esbranquiçada.

Em um quarto grupo encontramos os acabamentos a óleo. Este acabamento é o mais fácil de aplicar, pois consiste apenas em limpar bem o instrumento e aplicar a quantidade desejada de óleo em todo o instrumento com um pano. O excesso de material é então removido e deixado para secagem. Pode-se aplicar a quantidade desejada de camadas de óleo e ao final do processo pode-se finalizar o tom do acabamento com cera incolor para dar mais brilho.

Existem muitos tipos de óleos no mercado, como o de limão, noz, linhaça, teka e muitos outros. Mas o melhor que tentamos é o de tung. Esse óleo vem de um arbusto chinês e hoje em dia é fácil de encontrar.

É simplesmente dissolvido com essência de terebentina, também chamada de aguarrás puro, na proporção de 10% – e teremos nosso óleo pronto para aplicar tanto no instrumento em geral quanto nas escala da guitarra, baixo ou violão.

Este tipo de acabamento é sem dúvida o mais fácil de aplicar, mas também o que está mais exposto ao desgaste da própria madeira. É um acabamento de guitarra muito delicado e que requer manutenção constante, pois a madeira possui apenas uma pequena camada de óleo que a protege de arranhões. Recomenda-se desmontar todo o instrumento uma vez por ano, lixar bem e renovar o óleo de todo o instrumento.

Depois de termos visto os vários tipos de acabamentos que podemos dar ao nosso instrumento, é hora de falar sobre o mito de “como o acabamento afeta o som do instrumento”. Bem, como todos os mitos, encontraremos parte verdade e parte fantasia, caso contrário, não seria um mito.

Com isso quero dizer que, indiscutivelmente, qualquer tipo de acabamento que apliquemos ao nosso instrumento afetará seu som original, mas o que não sabemos é até que ponto o fará – ou se essa alteração se deve apenas ao verniz ou também entram em jogo outros fatores a serem considerados.

Obviamente, um acabamento de guitarra feito a óleo, que deixa os poros abertos na madeira para que ela respire naturalmente, não será o mesmo que um acabamento em alto brilho, que cobre completamente esse poro. Coloquei esses dois exemplos porque são os dois extremos que podemos encontrar e porque assim entenderemos melhor o que vamos explicar a seguir: se deixarmos os poros da madeira abertos, por ser um material “vivo”, ela vai respirar melhor e vai evaporando a umidade que possa conter em seu interior até atingir uma umidade estável e permanente.

Isso significa que ao longo dos anos esse instrumento terá um som ainda melhor do que quando foi fabricado, o que também ajudará em sua estabilidade.

Devemos lembrar que as vibrações com as quais nossos instrumentos lidam não são boas amigas da umidade e, portanto, quanto mais seco o instrumento for, mais estável será e melhor soará. Se a umidade não se dissipar com o passar dos anos teremos sempre um instrumento com má transmissão de som, pobre e não homogêneo.

Por outro lado, se aplicarmos em nosso instrumento um acabamento que cubra 100% seus poros, por exemplo um acabamento transparente ou colorido de alto brilho, o que fazemos é “plastificar” a madeira e trancar a umidade que eventualmente possa estar em seu interior. Isso faz com que a umidade, se houver, não possa ser liberada, mas também causa um aumento nas frequências altas do instrumento e a supressão de muitas outras, modificando significativamente o som real do instrumento.

Também deve ser perceptível um ligeiro aumento no volume geral do instrumento, pois as vibrações de repente não têm para onde ir devido a essa camada de acabamento e se multiplicam dentro do instrumento.

Em linhas gerais, pode-se dizer que o melhor acabamento para um instrumento é aquele que melhor respeita a natureza dos materiais com os quais ele é feito, mas então não haveria espaço para o mito de “guitarras com laca nitrocelulose soam melhor que as de poliuretano”.

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Não importa o acabamento que utilizemos em nosso instrumento, nenhum é melhor do que o outro, são todos diferentes e cada um tem suas qualidades e desvantagens. Mas o importante sobre eles é que eles modificam o som de acordo com sua densidade e dureza.

Então, da próxima vez que você ouvir aquele mito de que guitarras vintage soam melhor porque têm acabamento em laca nitro, pense que parte desse ótimo som é certamente devido à qualidade e longevidade de suas madeiras e, claro, às mãos dos intérprete.

Desejamos vida longa a mitos como esses, pois sem eles o mundo do luthier não seria tão divertido e fascinante como é.

Xavier Lorita

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Sobre o Autor

Cutaway Revista de Guitarras
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Artigo original de Cutaway Revista de Guitarras. Traduzido por Musicosmos e publicado sob licença de ©Cutaway. Todos os direitos reservados.

1 COMENTÁRIO

  1. 2021 e ainda tem gente que acredita que o verniz utilizado faz diferença no timbre de um instrumento elétrico…. Kkkkk

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