Digital ou real? Antes de decidir, vamos falar sobre os fones de ouvido

Como engenheiro de som e guitarrista que também decidiu atuar como professor nessas disciplinas, muitas das perguntas que recebo com mais frequência dizem respeito à configuração e otimização do estúdio caseiro. Decidi selecionar as dúvidas mais recorrentes para abordar o meu ponto de vista sobre estes assuntos.

Não creio que eu possa oferecer respostas definitivas, visto que as soluções que cada um adota para fazer e gravar suas músicas são – e devem permanecer – absolutamente subjetivas. No entanto, acredito que, principalmente os menos experientes, às vezes possam sucumbir sob o bombardeio de informações desencontradas com as quais se deparam, principalmente na Web.

O risco é perder tempo e clareza, afastando-se dos verdadeiros objetivos. Por isso, o intuito de apresentar minhas ideias é encorajar uma abordagem concreta, racional e – acima de tudo – ordenada.

Abordaremos assuntos variados, distribuídos em diversos artigos. Hoje começamos a falar sobre sistemas digitais, microfonação e uso de fones de ouvido.

Microfonar ou gravar em linha?

Já se passaram quase vinte anos desde o aparecimento dos primeiros Pods e plugins como Amp Farm ou Guitar Rig – e desde aquela época começamos a questionar a validade de investir na microfonação de guitarra ou baixo no contexto de um home studio.

Faz sentido comprar um microfone, estante, cabos e criar – ou comprar – uma “isobox” para buscar as melhores possibilidades oferecidas pelo seu amplificador quando você tem a opção de escolher soluções digitais com uma boa relação qualidade/preço, além de uma versatilidade sonora excepcional?

Até porque, em um ambiente doméstico de gravação, a busca pela melhor microfonação (e consequente uso do amplificador) anda – infelizmente – sempre de mãos dadas com a necessidade de não criar atrito com vizinhos e familiares por causa do excesso de barulho. Uma condição que atrapalha a experimentação sonora livre e desinibida, que deveria ser regra em um home studio.

Se adicionarmos a esta restrição o fato de que o músico em questão deve precisar trabalhar em pré-produções rápidas (e, portanto, sua real necessidade é a de uma solução plug and play). Ou ainda, se pretende utilizar suas gravações digitais ao vivo – então a necessidade seria construir trilhas em casa para serem reproduzidos no palco – os sistemas digitais se tornam uma escolha não apenas recomendada, mas quase obrigatória.

Por outro lado, para aqueles que têm o espaço adequado e podem “fazer barulho”, a solução analógica faz sentido, especialmente se o músico também estiver interessado em refinar sua sensibilidade e percepção sonora de modo mais consistente. A experiência de descobrir o verdadeiro som de um amplificador e entender como o microfone é capaz de “fotografar” seu som na gravação são momentos de grande crescimento musical.

É uma experiência verdadeiramente única, se me permitem filosofar, acima de tudo capaz de nos ensinar sobre a sonoridade certa, a pesquisa, a crítica. Uma experiência que também pode nos enriquecer com parâmetros de comparação com o digital, parâmetros que estamos perdendo…

Voltando para o assunto da gravação, trago um exemplo no qual todos podemos nos reconhecer: em nossos DAWs, temos catálogos inteiros de plugins que emulam os mais famosos compressores ou pré-amplificadores históricos e estamos todos (inclusive eu) felizes em poder usá-los em nossas sessões.

Todos, entusiasmados com o bom desempenho, explodimos em comentários como “Parece o verdadeiro!”

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Mas a pergunta que deve ser feita é: nós realmente já ouvimos este compressor ou pré-amplificador em sua versão original? O real, tangível, analógico? Quem pode dizer que sim, honestamente?

Digo isso não para discriminar ninguém, de forma alguma, muito menos para colocar limites no uso de tecnologias digitais; mas para estimular, mais uma vez, a real consciência daquilo que estamos fazendo.

Voltando ao mundo da guitarra, a emulação de um gabinete 4×12 com um cabeçote JCM 800 virtual é um dos presets mais comuns. Mas com quanta confiança e habilidade poderia tal som ser utilizado se primeiro nos confrontássemos, em algumas situações reais, com a maravilhosa distorção que este amplificador com o volume em 9 pode nos dar quando ouvido ao vivo?

Eu mesmo, nos meus anos no estúdio com Paul Gilbert e Steve Vai, experimentei o “trauma” dos volumes insuportáveis ​​nas salas dedicadas apenas a amplificadores microfonados… um choque que no entanto se traduziu em um som maravilhoso quando saiu dos monitores do estúdio: é ouvir para crer.

amplificadores-marshall-valvulados

Os fones de ouvido

Quanto à audição em um ambiente doméstico, nem todos podem se dar ao luxo de ouvir as mixagens a 70-80 dB continuamente. Os fones de ouvido são uma possibilidade decisiva de poder trabalhar em casa a qualquer hora e – virtualmente – em qualquer volume.

Além disso, os fones de ouvido complementam a audição fornecida pelos monitores, garantindo-nos um espectro de avaliação mais amplo daquilo que estamos produzindo.

Esta última consideração me dá o gancho para comentar algo muito simples ligado à escuta com fones de ouvido: em grandes estúdios é comum ter pelo menos 2 conjuntos de monitores (nearfields e midfields) e possivelmente um par passivo e outro ativo; e a estes, um terceiro conjunto na parede é frequentemente adicionado. Este arsenal de monitores permite não apenas monitorar todos os detalhes do som, mas também emular todos os sistemas de audição disponíveis por aí.

Bem, você também pode ter uma abordagem idêntica na escolha dos fones de ouvido. Por que ter apenas um par de fones de ouvido? Por que não tentar ter 2 ou 3 pares, e não necessariamente todos excelentes.

Você pode variar em tipo e arquitetura, escolhendo entre modelos muito diferentes entre si, combinando modelos profissionais com opções mais baratas ou de nível básico.

Trago outro exemplo, desta vez da terra do Sol Nascente, onde um amigo, colega engenheiro de som, mixa há anos com earphones, fones de ouvido de celular, para depois fazer uma correção final no estúdio com os monitores profissionais.

O motivo que o levou a essa decisão é tão prático quanto paradoxal do ponto de vista audiófilo. Mas basta dar uma volta no metrô de Tóquio para entender qual é a principal mídia de audição no país!

Enrico Sesselego

Artigo originalmente publicado em Accordo.it. Traduzido e publicado por Musicosmos sob licença de Accordo. Leia o artigo original. Licença Creative Commons

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