Em qualquer lista de maiores ou melhores guitarristas da história, geralmente Jimi Hendrix aparece em primeiro lugar. E em qualquer entrevista de um grande guitarrista, seja experiente ou mais jovem, Hendrix é sempre apontado como a sua maior ou uma de suas maiores influências. Além disso, sua imagem e seu nome estão entre os mais influentes no mundo da música em geral. Tornando-o uma lenda.
Muitos se perguntam por que isso acontece, já que ele teve uma carreira tão curta, de apenas 3 anos e meio, e já morreu há tanto tempo atrás. Além disso, houve grandes guitarristas contemporâneos dele e surgiram muitos outros depois dele até agora. Onde reside toda essa singularidade, que o faz ocupar uma posição tão exclusiva e duradoura?
Bem, pra começar, vamos eliminar alguns quesitos que não fazem de ninguém a maior referência em guitarra, apesar de muitos imporem tais requisitos quando querem desqualificar Hendrix e exaltar seus ídolos. Tais quesitos podem ser usados também por leigos, quando o assunto é guitarra.
E no final, apontaremos os verdadeiros quesitos que fazem dele um mito e uma referência incomparável.
Falsos quesitos de um maior ou melhor guitarrista da história:
- Técnica
- Inovação
- Erudição
Nenhum desses quesitos colocaram Hendrix, muito menos colocará qualquer outro guitarrista em primeiro lugar nas listas.
No caso de Hendrix, ele não tinha mais técnica, inovação e erudição do que Jimmy Page, David Gilmour ou Eric Clapton, seus contemporâneos. Aliás, diga-se de passagem, no quesito erudição, Hendrix talvez estivesse abaixo de muitos que agora estão lendo esse artigo, pois ele nunca teve um professor de guitarra e não estudou música.
E se formos falar em técnica e inovação, todos esses já citados, contemporâneos dele, perderiam na lista para os mais modernos: Van Halen, Steve Vai, Joe Satraini e John Petrucci. E não é isso que vemos. Geralmente os mestres da década de 60 aparecem em listas antes do que os mestres mais modernos. Mostrando que eles são mais admirados, mesmo não tendo tanta capacidade de performance e não sendo tão completos musicalmente.
Alguns apontam inovação como algo que coloca Hendrix acima dos outros. Realmente ele inovou em sua época, trouxe sonoridades novas, como o uso da microfonia e da alavanca, técnicas diferentes como tocar com a boca e um estilo novo. Chamou a atenção e colocou a guitarra num patamar acima no cenário musical.
Mas isso foi muito impactante na época. Suas “acrobacias” já foram em muito superadas por inúmeros outros guitarristas talentosos. Tal quesito não deveria influenciar tantos guitarristas hoje em dia, por exemplo. Não, ele não é admirado da forma que é por ter sido revolucionário.
Na verdade, Hendrix é o mais admirado por outros quesitos, que são esses:
- Estilo
- Criatividade
- Sentimento
Estilo
Nesse ponto cabe uma pergunta. Qual era o gênero musical ou estilo de Hendrix? Alguém ousa definir? Não. Porque na verdade o que ele fez foi pegar o que “sentia” em cada gênero e criar um estilo próprio e único, com timbre visceral de Stratocaster.
No seu som percebemos nitidamente Rock, Blues, Funk e Soul, numa salada louca e psicodélica, regada a uma abordagem totalmente própria, livre, selvagem e virtuosa. Tudo isso às vezes destruidor e barulhento – e às vezes doce e suave. Surreal!!!
Veja um vídeo onde demonstro arranjos de Hendrix no meu canal do YouTube.
A resposta para a pergunta sobre que estilo ele tocava está numa frase que sempre digo: “Hendrix tocava Hendrix”. Não se pode enquadrá-lo em um gênero. Ele foi uma espécie de “extraterrestre”, que apareceu, coletou informações, criou algo diferente misturando com seu DNA e foi embora. Kkk
Existe uma nomeclatura para uma maneira de tocar ou estilo que Hendrix criou. “Licks Between Chords”. Em português: “Lambidas Entre Acordes. Ele fazia pequenas frases entre os acordes usando ligados. Daí o nome. Essa maneira de tocar proporciona uma atmosfera guitarrística, sentimental e melódica pras músicas, que é simplesmente irresistível. Tal maneira de tocar inconfundivelmente “Hendrix”, faz parte desse DNA.
Estilo nitidamente exposto nas musicas: Little Wing, Castles Made Of Sand, Bold As Love etc…
Veja um curso gratuito em meu canal no YouTube sobre esse estilo: “Licks Between Chords”. E de bônus: “Como tocar Little Wing”.
Quando ele tocava com a guitarra barulhenta, continuava soando de maneira única. Riffs e levadas rasgadas, com dissonantes e sétimas. Solos altamente penetrantes e cheios de virtuosismo. Ficam bem evidentes nas músicas: Purple Haze, Fire, Foxy Lady, etc…
Na minha opinião, esse é o quesito mais importante dentro da questão sobre ele ser a maior referência. Pois o que mais atrai nele é justamente isso, seu DNA. E não outras coisas que outros guitarristas também tem. É ai que mora toda a sua majestade.
Na verdade, o que acontece é que, querendo ou não, todos acabam injetando na própria veia uma dose desse DNA. Uns mais, outros menos. É inevitável, é algo extraordinário. Parece que existe uma alquimia entre guitarra e o legado de Hendrix, onde há uma ligação que transcende todas as barreiras. Acaba entrando no subconsciente dos guitarristas em geral.
Criatividade e sentimento
Esses quesitos não são tão determinantes como o estilo. Pois outros guitarristas também possuem tais qualidades. Mas vou tentar resumir a criatividade e o sentimento de Hendrix, com apenas uma música, que na verdade une também seu estilo. É uma espécie de síntese de tudo que Hendrix representa. Essa música é Little Wing.
Se alguém me mostrar algo feito para guitarra, que seja mais bonito, profundo, sentimental, melódico, timbrístico, guitarrístico e genial do que esta música, eu retiro tudo que já falei até aqui. (Opinião pessoal minha, questão de gosto, não é uma constatação como as já citadas listas)
Resumindo, o que coloca Hendrix em primeiro lugar nas listas e o que faz dele a maior referência quando o assunto é guitarra são:
Estilo, sentimento e criatividade. E não técnica, inovação ou erudição.
Goste dele ou não, todos tem que concordar que ele é a maior referência.
Veja um documentário sobre Jimi Hendrix no meu canal do YouTube:
E, para terminar, devo dizer que dificilmente isso mudará, pois a guitarra não será reinventada.
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Sobre o Autor
Anderson Paiva
Cantor, compositor, guitarrista, professor de guitarra & violão, colunista de música e produtor de jingles.
Toca guitarra e canta desde os 15 anos de idade. Suas maiores influências sempre foram os grandes mestres da guitarra e as grandes bandas das décadas de 60 e 70.
Toda a influência do Rock Clássico, do Blues e do instrumental, ele trouxe para suas composições, assim como também para seus métodos de ensino.
Participou do Festival de música e ecologia de Ilha Grande em 2019, com a música "É uma ilha, Ilha Grande". (Clipe no canal do YouTube) Composição selecionada entre quase 400 de todo o país para se apresentar ao vivo na categoria "Ecologia".
Ao longo da sua experiência de mais de vinte anos como guitarrista e professor, desenvolveu um método simples e direto de fazer o aluno que já toca guitarra aprimorar a criatividade e o sentimento.
Este método está no curso online 7 Passos para Você Criar Solos Incríveis.
Seu canal no YouTube traz todo um conteúdo aprofundado sobre o universo da guitarra. Com muitos tutoriais, documentários e um curso de guitarra gratuito sobre o estilo do mestre Jimi Hendrix, "Licks Between Chords".
Tem também um trabalho autoral, onde além de compositor, atua também como cantor e guitarrista. Está disponível em todas as plataformas digitais.
