O álbum homônimo que Beyoncé lançou como surpresa em 2013 deu enorme relevância ao que acontece no universo pop, e isso se estende até 2018. Talvez a música “God is a Woman”, de Ariana Grande, seja o melhor exemplo recente dessa linha do tempo.
Altas cifras mais uma vez têm movimentado a carreira de Drake, e embora as brigas com o rapper Pusha T tenham revelado uma foto antiga do rapper canadense como blackface – e de certa forma rebatido em Kanye West – não se pode dizer que foi um ano ruim para ele.
Primeiro, claro, veio Scorpions, disco beneficiado por uma propaganda exaustiva do Spotify. O single “In My Feelings” e a participação em “Sicko Mode”, de Travis Scott, foram dois dos melhores momentos musicais de Drake, mas a grande sensação foi o clipe e a música de “Nice For What?”.
Os fãs estão cada vez mais impacientes com as atitudes de Kanye West, mas 2018 deu ótimas provas de como ele permanece como um dos melhores produtores de nossos tempos. Ele produziu o disco novo de Nas, soltou a prometida parceria com KiD CuDi, em KIDS SEE GHOSTS, deu nova roupagem ao álbum K.T.S.E., de Teyana Taylor, deixou DAYTONA, de Pusha T, sombrio e complexo, além de lançar o disco Ye.
Novo momento para o rock
Os novos discos de Arctic Monkeys e The 1975 foram alguns dos mais comentados ao longo de 2018 pela nova abordagem sonora, mas nenhum deles ousou confrontar a política do país de origem como What a Time to Be Alive, do Superchunk.
Musicalmente, a estrutura pouco mudou. Mac McCaughan e companhia continuam acelerando as guitarras entregando um misto de rebeldia e sedução, mas quem ainda acha que é preciso ser adolescente para ouvir Superchunk tem que prestar mais atenção em What a Time. Trata-se de um álbum punk, que critica as “nuvens de ódio” da polarização política dos Estados Unidos e o frágil sistema de saúde de seu país (vide “I Got Cut”).
U.S. Girls, projeto de Meg Remy, também lançou um dos melhores álbuns de rock com críticas sociais bem elaboradas. In a Poem Unlimited fala sobre o poder de fala da mulher nos círculos sociais e critica a simbologia do homem enquanto força dominante da sociedade, passeando por diversas escolas do rock, do indie ao avant-garde, desconstruindo riffs e poesias com a assertividade de quem pretende desconstruir preconceitos.
Outra banda que surpreendeu foi a dinamarquesa Iceage. O quarto disco, Beyondless, tem o peso do sludge, a agressividade do hard-rock, riffs e solos de guitarra em chamas… e até mesmo a participação da cantora pop Sky Ferreira em “Painkiller”, uma das mais cativantes do disco. Vale destacar também “Catch It”, que começa lenta e progressiva até tornar-se massivamente sedutora – na minha opinião, a grande música de rock de 2018.
Política na música brasileira
Aqui no Brasil, o Mundo Livre S/A mais uma vez surpreende com sua ironia política. Em A Dança dos Não Famosos, a proposta é mais direta: traçar o perfil de uma sociedade que acredita em mensagens falsas e cultua figuras bizarras. Com uma proposta mais biográfica, Maria Beraldo entregou um dos álbuns mais políticos em 2018: Cavala fala sobre como é ser lésbica em um país intolerante com homossexuais.
Se isso não é político, bom, é preciso ficar mais antenado ao noticiário e interpretar as notícias a redor antes de qualquer prejulgamento artístico. Porque, se tem uma máxima que interliga tudo o que saiu de relevante no mundo artístico em 2018, eis aqui: informe-se, antene-se, conteste. Um cidadão crítico terá discernimento para desfrutar as melhores músicas e discos que saíram, e nem precisa pesquisar tão a fundo para isso.
Sobre o Autor
Tiago Ferreira
Editor responsável do Na Mira do Groove, fã de jazz, hip hop, samba, rock, enfim, música urbana em geral.