Olá a todos, neste artigo conversaremos sobre diferentes maneiras de resolver a quebra do tensor de um contrabaixo. Não pretendo que este artigo seja um tutorial de reparo para esse tipo de problema, pois para fazer esse tipo de correção é necessário conhecer bem muitos aspectos. Por exemplo, o tipo de tensor que o instrumento tem, o problema que causou a quebra, as soluções possíveis e também seria necessário conhecer as técnicas e materiais de trabalho e ter as ferramentas necessárias.
É prudente deixar o assunto nas mãos de um especialista, caso não tenha conhecimento e controle de todos esses aspectos.
A ideia é ilustrar e explicar de forma simplificada como resolvemos esses defeitos.
Como muitos de vocês sabem, existem instrumentos que têm o tensor instalado pela parte traseira do braço. Guitarras e baixos tipo Fender costumam ter o típico filete no verso do braço, que é uma tira de madeira escura que cobre o canal no qual o tensor é inserido, essa tira geralmente é feita de walnut ou pau-ferro.
Nestes instrumentos, o reparo pode ser feito extraindo o filete de madeira da parte traseira, o que é uma vantagem, pois não é necessário descolar a escala para acessar o tensor, como mostrarei um pouco mais adiante em um reparo feito em um Fender Jazz Bass.
O outro exemplo é um reparo em um baixo Pedulla que tinha o tensor inserido sob a escala, então foi necessário levantar e substituir a escala por uma nova.
Um baixo Fender Jazz Bass
Chegou um Fender Jazz Bass na minha oficina com o tensor partido na parte onde se encaixa a chave de ajuste – ele havia rachado rente à madeira. Pode-se ver na foto como foi a quebra.
Em alguns casos, se o tensor ainda funcionar corretamente, pode ser reparado fazendo com que a haste se projete um pouco para fora da madeira que o circunda e assim o parafuso pode ser enroscado novamente. Mas neste caso – após alguns testes – descobriu-se que certamente a causa da quebra foi um braço bastante empenado, que exigiu tensionamento exagerado da haste para deixá-lo reto, e também o fato de o tensor ter ficado preso ao canal que o abriga – provavelmente devido a um excesso de adesivo. Isso fez com que o tensor fosse cada vez mais apertado, sem resultado, até que no fim a haste quebrou pelo excesso de tensão.
Após separar o braço do corpo e retirar todas as peças do headstock, foi necessário acessar o tensor. Com uma fresadora tipo Dremel eliminamos parte da madeira do filete que cobre o canal do tensor. É uma tarefa delicada, pois em caso de descuido ou se a fresadora ficar fora de controle, podemos danificar a parte traseira do braço – algo difícil de consertar.
É possível ver como fica o braço quando esta tira de madeira é eliminada, a ideia é retirar a maior parte dela e depois retirar com mais cuidado os restos que estão aderidos na lateral do canal.
Uma vez removido, acessamos o núcleo e, como esperado, o tensor estava preso porque o adesivo havia preenchido o canal da haste. Depois de muito esforço, finalmente removemos o tensor.
O próximo passo foi limpar completamente a ranhura e as laterais do canal onde o novo tensor seria alojado e, em seguida, preparar o novo tensor do tipo vintage, que é o tipo simples que tem um placa no final.
Foi necessário também fazer uma nova tira de madeira para substituir a original que havíamos destruído anteriormente para podermos retirar o tensor partido. Com uma lâmina de rosewood calibrada para a espessura necessária, cortamos uma das faces com uma curva côncava, visto que o fundo do sulco no braço é curvo. A ponta que fica mais próxima do headstock foi arredondada para encaixar-se perfeitamente no fim do sulco. Após os devidos testes para conferir o encaixe, estava pronto.
Com tudo já preparado, o próximo passo é colocar o tensor no canal e conferir se está bem encaixado, preparar a tira de rosewood com a cola própria, tomando muito cuidado para não colocar excesso e assim evitar que grude no tensor novamente. A tira é colocada com os grampos de fixação e fica o tempo necessário para que o adesivo seque adequadamente.
Depois de esperar o tempo necessário, os grampos foram retirados e o excesso de rosewood foi lixado até ficar liso e rente à madeira do braço. Nesta operação também lixamos o braço completamente, exceto o headstock na sua parte frontal, a fim de preservar o logotipo original.
Com o braço já totalmente lixado, a escala e o headstock foram protegidos com fita adesiva para que pudesse ser feito o lixamento e aplicação de verniz, posterior secagem, lixamento e polimento, deixando o braço pronto.
Este braço em questão também exigiu o nivelamento dos trastes, já que a deformação da escala foi grande e os últimos trastes estavam elevados e as últimas notas estavam morrendo mesmo com o baixo ajustado com uma ação mais alta. Após o o nivelamento, ficou perfeito. Em alguns casos, o nivelamento do traste não é necessário, pois a escala e a escala podem estar em bom estado.
O contrabaixo Pedulla
O segundo caso a ser analisado é um contrabaixo Pedulla no qual o tensor se deteriorou na ponta, ficando travado. Após tentar todas as manobras possíveis e não obter nenhum resultado, foi necessário tomar a decisão de retirar a escala para trocar o tensor.
Esta operação também é delicada, pois para descolar uma escala é necessário amolecer o adesivo que foi utilizado para a colagem, aplicando calor suficiente para amolecer a cola mas sem empenar o braço.
Com a ajuda de uma espátula fina e muita paciência a escala é descolada, tentando não deformar o braço com o uso do calor.
Uma vez que a escala foi removida, a mecânica de extração do tensor é a mesma do caso anterior, já que o núcleo também tinha uma tira de madeira cobrindo-o, então o processo foi idêntico. O próximo passo é confeccionar uma nova escala, preparar o novo tensor para colocá-lo no lugar e também preparar a tira de madeira de recobrimento. O processo de colocação do tensor e do filete de madeira – e posterior lixamento do excesso – foi semelhante ao do Jazz Bass.
Chegou a hora de colocar a nova escala, fixando-a com a ajuda de grampos para deixar a cola secar por alguns dias. Feito isso, foi feita a revisão do braço do contrabaixo e verificação de seu raio e superfície, para colocação dos novos trastes, nivelamento e envernizamento.
Como você pode imaginar, este segundo caso foi mais complicado e caro de consertar do que o primeiro, mas em qualquer caso este tipo de conserto é delicado já que o braço é uma das partes mais importantes do baixo. Dependendo de como é o braço do instrumento e como funciona o tensor, os ajustes podem ser mais agradáveis para o músico, permitindo que o baixo seja utilizado de forma confortável.
A razão que faz esses reparos serem caros é a quantidade de trabalho que é necessária, pois é preciso muito cuidado e paciência para certas partes do processo, a necessidade de repintura – o que isso significa gasto de tempo – e também em muitos casos a necessidade para fazer a retífica ou troca dos trastes.
Se tudo isso for feito corretamente, o instrumento será o mesmo ou ainda melhor que era quando novo.
Espero que essa matéria possa ajudá-lo a aprender mais sobre nossos instrumentos e entender melhor como eles funcionam, os possíveis problemas que podem surgir, bem como as diferentes soluções que podem ser dadas a cada problema.
Até logo.
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