Review: Contrabaixo Status Serie II de 1987

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Já tivemos a oportunidade de testar há algum tempo sobre um baixo vintage, um Fender Jazz Bass original de 1971, e a verdade é que foi uma experiência interessante para muitos leitores a julgar pelos comentários recebidos.

Instrumentos de outras épocas despertam o interesse de muitos músicos, ora porque os consideramos melhores em qualidade e som do que os atuais (por motivos muito diversos), ora porque simplesmente remetem a momentos especiais na história da música ou da vida das pessoas, e isso gera uma atração bem sustentada na nostalgia.

Estimulados por esta excelente recepção, decidimos fazê-lo novamente na revista Bajos y Bajistas, reproduzida aqui. O instrumento que hoje avaliamos, um contrabaixo Status Série II original de 1987 (não confundir com a atual Série 2), foi emprestado novamente por um dos sócios da Todobajos, Carlos Hervás, que gentilmente nos concedeu acesso à sua coleção de instrumentos, da qual pinçamos este baixo singular e muito especial.

Não há dúvida de que é um instrumento muito diferente do que costumamos ver hoje em dia nas lojas e nos palcos, principalmente devido a dois elementos construtivos: o braço de grafite e a ausência de headstock.

Vamos lá.

1987 é vintage?

Ah, meus amigos… que pergunta difícil! Na verdade, a ortodoxia do mercado (isso existe?) parte do pressuposto de que a partir de 1979 já está ficando difícil aplicar o qualificador vintage a um contrabaixo. Mas, ortodoxo ou não, gostaria de expor minhas razões para considerar este instrumento dentro dessa categoria às vezes tão exageradamente reverenciada.

Em primeiro lugar, o surgimento da Status no mundo dos baixos causou um pequeno terremoto, especialmente na Europa. Os baixos com braços de grafite já estavam fervilhando pela América há alguns anos graças à Modulus (fundada em 1978) e à Zon (fundada em 1981), mas eles mal chegaram ao Velho Continente.

Também havia os baixos sem headstock, sistema adotado pela marca Steinberger, também americana e nascida em 1979.

Como você pode deduzir, muitas coisas estavam mudando no final dos anos 70 e início dos anos 80 no mundo dos contrabaixos.

Seguindo os passos dos grandes e inovadores construtores americanos, liderados pela Alembic e seus cobiçados lançamentos anteriores, os baixistas entraram na modernidade. Era algo como “a Fender está morta, viva as novidades!”

E no meio desse panorama chega Rob Green e se põe a construir em Londres baixos que combinavam tudo: uso de grafite, ausência de headstock, eletrônica ativa – e tudo no mais alto nível de qualidade. E o que aconteceu? Bem, o Status se tornou o contrabaixo da moda a partir de 1985 no cenário britânico.

E se um baixo marcou uma época, se essa época já está distante (mais de 30 anos nos separam), se em sua época ele foi uma verdadeira inovação em construção e som, e se já não é feito da mesma forma (como veremos depois)… O que mais é preciso para um baixo ser considerado vintage e um item de colecionador? No meu entender, nada.

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A evolução do Status

Carlos, seu único dono, disse-me que quando o comprou em 1987 o choque foi duplo, e não é difícil imaginar: “aquilo” era um sonho em termos de funcionalidades e “aquilo” custava um ano de salário.

Por um lado, ele tocava um Precision que comprara em 1979, daqueles que pesavam uma tonelada e tinham ação alta e notas desequilibradas ao longo do braço – e de repente ele colocou as mãos em um braço de grafite que parecia feito de seda, com o melhor equilíbrio tonal entre cordas e entre trastes altos e baixos que já vi (ou melhor, ouvi) em minha vida.

Por outro lado, o bichano custava nada menos que 2.400 euros (em valores atualizados), então imagine o que isso significava há 30 anos.

A Status Graphite, como a marca agora é chamada, sempre me chamou a atenção, e eu mesmo já tive dois baixos dessa marca britânica, um de 4 e um de 5 cordas, ambos sem headstock também. Eu conheço bem a marca, então – e já disse a vocês que a Série II que estamos vendo hoje não é igual aos contrabaixos que eles fazem agora.

Não estou dizendo que é melhor, estou apenas dizendo que é diferente, e isso é algo que o próprio Rob Green reconheceu.

Em várias ocasiões li entrevistas em que Rob explicava a evolução de seus instrumentos rumo a um som mais rico nos médios, com mais definição, porque era o que seus clientes fiéis demandavam.

Certamente, o uso crescente do slap e a forte associação de Mark King (Level 42) com a marca tiveram muito a ver com isso. Mesmo no site da Status, quando os captadores e pré-amplificadores da época são comparados com os de agora, pode-se notar a diferença. Se me permitem a expressão, agora o som está “melhor”, e nos anos 80 era mais “potente”. Claro, sempre sob um denominador comum: timbre hi-fi e de alta qualidade.

Na verdade, em 2014 o próprio Rob decidiu comemorar os 30 anos do nascimento da Série II, construindo 14 instrumentos, uma edição superlimitada, o mais próximo do original que ele era capaz. Consta que demoravam muito pouco para vender, mesmo que por um preço “artesanal”.

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Grafite e madeira

Já conhecemos a marca, seu passado e seu presente. Vamos ver agora o que temos em mãos. Tirar o contrabaixo do estojo e colocar-me em posição de tocar já me deu a sensação de estar diante de um grande instrumento.

A combinação de braço de grafite, escala de madeiras nobres e verniz fenólico sempre foi a identidade da Status, e isso tem mudado muito menos do que a eletrônica. É verdade que houve versões integramente de grafite ou modelos de totalmente de madeira, mas sempre em linhas complementares e quase marginais.

Este exemplar de 1987 tem tampo em madeira cocobolo e corpo em sipo. Como é possível ver nas fotos, trata-se de uma construção inteiriça (neck-through), algo normalmente reservado para baixos de alta qualidade devido à dificuldade envolvida na manufatura e ao aumento do custo que acarreta.

O braço de grafite passa entre as duas metades do corpo em um bloco com madeira em ambos os lados. Tenho certeza que muito de seu timbre maravilhoso vem dessa construção.

O braço é um verdadeiro deleite, macio ao toque, muito rápido para percorrer e, o mais importante, todas as notas soam deliciosamente equilibradas e as transições entre as cordas e entre os trastes são surpreendentemente contínuas, sem notas mortas, sem saltos de timbre. Esta é uma das qualidades que caracterizam os braços de grafite.

Talvez o resultado delas seja um som um pouco mais asséptico do que a madeira, mas também muito mais claro e uniforme. A ação é pura manteiga, com as cordas coladas na escala e sem o menor sinal de trastejamento. Se você olhar as fotos com atenção, verá que o baixo não tem tensor (a partir dos anos 90 a Status o adotou, mas não até então) e seu dono me diz que em todos esses anos ele não se moveu um mícron. Outro bom motivo para valorizar o grafite, sem dúvida.

Sem headstock, estabilidade de afinação máxima

O contrabaixo Status ficou comigo alguns dias e, depois de ir e voltar para diferentes ambientes de teste – como ensaios, estúdio e um show – ainda está afinado como no primeiro dia. O design sem headstock exige cordas de bolinha dupla para retenção nas extremidade do braço e da ponte. A tensão fica muito mais firme e, portanto, virtualmente imune à expansão ou encolhimento da corda com as mudanças de temperatura.

Também não há tarraxas expostas a impactos ou movimento ao colocá-la em repouso ou colocá-la e retirá-la do estojo. O sistema de ajuste com botões giratórios na ponte é absolutamente preciso e estável como nenhum outro.

Eletrônica fabulosa

Os captadores são os clássicos soapbars da época, que chegaram a incomodar os eternos single coils do Jazz Bass ou os splits do Precision. Eles são captadores que cobrem toda as faixas de frequências e têm uma saída imensa, repleta de graves e agudos. Sua clareza de captação é o início da cadeia de fatores que fazem este baixo soar tão bem.

Este sinal de alta pureza atinge um pré-amplificador de 2 bandas com uma potência quase assustadora. Com que enormidade de graves e agudos é capaz de vitaminar o sinal! Pré-amplificadores com somente 2 bandas podem ter uma faixa média que deixa o som muito afundado no centro de uma curva de equalização gráfica imaginária, mas este não é o caso.

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Com o ajuste de frequências centrais em 3,8 kHz para a banda de agudos e 85 Hz para a banda de graves, o espectro sonoro é coberto de modo que os médios são suficientemente protegidos para não enfraquecer a pegada, mas com presença suficiente para que graves e agudos não fiquem em dois extremos muito distantes um do outro. Os controles são 15db de aumento/corte, e como o circuito é alimentado por duas baterias de 9V, a gama de ajuste do timbre é realmente impressionante.

Um botão de volume, balanço de captadores e comutador ativo/passivo completam a seção de controle.

Tocando

Com peso médio, o contrabaixo é extremamente confortável para tocar, tanto sentado quanto em pé. Não tendo headstock, causa a falsa sensação de ter escala curta, mas tem um comprimento normal de 34 polegadas.

Confortabilíssimo é a palavra que define este baixo. O braço tem um perfil perfeito e a escala é percorrida com suavidade.

A ação muito baixa contribui significativamente para isso. O rebaixamento do contorno do corpo na posição do antebraço direito também. E os cortes são tão milimetricamente executados e estudados que o acesso ao último traste (tem 24) é tão simples quanto ao primeiro.

E quanto ao som, basta dizer que é espetacular. Ele faz tudo, e tudo primorosamente: slap, dedilhado, palheta, tapping, enfim, o que você quiser. A versatilidade do EQ, a alta fidelidade do som, a agilidade do braço e o calor da madeira são fatores que compõem um mundo de possibilidades, que vão desde sons cristalinos para baladas com nuances dedilhados até graves massivos como trovão para linhas de baixo em estilos de música onde a contundência for essencial.

Seria impossível descrever aqui todas as descobertas sonoras baseadas em diferentes configurações de equalização e predominância de um ou outro captador, mas não quero terminar sem dizer que um dos pontos sonoros mais espetaculares foi deixar o captador do braço sozinho, abrindo o boost de controles de agudos e graves no máximo e posicionando a mão direita entre os dois captadores – simplesmente glorioso, como eu nunca ouvi em outros baixos, e eu tenho algumas dezenas deles.

Conclusão

Este contrabaixo Status Series II, com número de série 273, é uma verdadeira joia. É verdade que sua estética não é exatamente o que é mais popular hoje em dia, mas como instrumento musical é uma verdadeira relíquia.

Para mim, este é um verdadeiro instrumento vintage – pois além de antigo, é único. Se quiser um destes, se estiver à procura de um original, boa sorte.

Aviso aos navegantes: não é fácil conseguir um no nosso país, mas se procurar nos sites europeus e americanos de venda de usados, seguramente com uma boa dose de paciência, o encontrará por um preço muito inferior ao seu valor intrínseco.

Boa sorte para quem quiser experimentar!

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