Latas, copos e pilhas – O Rock in Rio 91, no Maracanã

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[Continuação do artigo anterior] Ao aceitar tocar no “Dia do Metal” nos deparamos com uma situação no Rock in Rio, que eu só superaria com o show do Barão em 2001 – e posteriormente com meus 4 shows solo em 2011, 2013, 2015 e 2017.

Escalação no Maraca :

  • Sepultura
  • Lobão
  • Judas Priest
  • Megadeth
  • Queensrÿche
  • Guns & Roses

Lobão tinha um mau pressentimento.

Nós queríamos – a banda – tocar de qualquer jeito.

Nesse dia Lobão foi com um cinturão de “balas de revólver” pendurado no corpo, além de um capacete da Cruz Vermelha. Ele estava muito elétrico, ansioso. Para piorar, quebrou o praticável de rodinhas de uma das bandas internacionais e então, como consequência, o nosso espaço para colocar os 30 ritmistas da Mangueira que entrariam no meio do nosso show, também não existiria. Não caberia mais.

Apenas uns 10 ritmistas caberiam entre Lobão e o praticável da bateria do Kadu…

Enfraqueceria a ideia toda. Lobão estava puto. Nosso show ia ser desfigurado. Ele queria desmarcar o show durante a tarde.

Não sabíamos o que estava rolando nos bastidores, mas o clima não era bom. Lobão foi convencido a fazer o show.

Resultado: entramos logo depois do show do Sepultura (que eu assisti da plateia) e depois de tocarmos “Canos Silenciosos” e metade de “Vida louca vida” paramos o show, porque caíram copos na bateria e na guitarra do Lobão.

Ele mandou todo mundo tomar no cu – na verdade essa parte da plateia que jogou coisas e ficava exatamente na frente do palco – e saiu.

Mais ou menos uns 90% do público no Maracanã pedia que voltássemos e gritava “Lobão! Lobão! Lobão!”.

Fomos ao camarim que era meio longe. Conversamos sobre voltar, ou não voltar (os 10% da frente do palco, não queriam nossa volta e estava um clima perigoso, pois de uma maneira ou outra eles mandavam no show) e decidimos atender aos 90%.

Tentamos voltar pelos altos gritos da plateia de “Lobão!”. Mas os gringos da parte técnica da produção não deixaram, pois já haviam desconectado os instrumentos e desligado as vias de monitor. Tarde demais. Era assim que funcionava. Tanto pra gente, quanto para qualquer outro artista que demorasse para voltar ao palco e passasse de 5 minutos de espera – seja para a volta de um bis, ou outra situação. Eles simplesmente desligavam tudo.

Nossa ida ao camarim acabou tendo esse efeito.

O staff de montagem do Rock in Rio era todo gringo na época. Não teve jogo. Ivo ainda entrou com a bateria da Mangueira pra tentar dizer que quem mandava ali eram os brasileiros, mas sem microfone de voz, nem microfones para os tambores, caixas, tamborins, etc, a bateria de escola de samba soava como umas pequenas panelinhas, que só quem estava na frente do palco escutava. O resto do estádio não escutava nada e não entendeu também o que era aquilo.

A essa altura já estávamos de volta no camarim. Dia seguinte: Lobão era primeira página de todos os jornais! E a tour bombou!

Carlinhos Brown passaria por esse tipo de situação anos depois, no mesmo festival!

Fomos pra estrada e esquecemos o que passamos!

Mas Lobão entrou num mal momento de vida…


Músicas selecionadas por Rodrigo Santos para esta coluna:

Rodrigo Santos escreveu esta série de textos exclusivamente para o site da Musicosmos. Leia do início, o primeiro artigo: That’s Entertainment!

Sobre o Autor

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Rodrigo Santos
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Há 36 anos contando a história do pop rock nacional, o baixista e vocalista Rodrigo Santos foi durante 26 anos artista do Barão Vermelho (1991/2017) e também tocou com Lobão, Kid Abelha, Leo Jaime, Miquinhos Amestrados, Os Britos, Blitz e Moska.

Santos está em carreira solo há 11 anos, tendo lançado durante esse tempo solo 7 CDs (6 autorais), 2 DVDs e 1 livro – sua biografia, escrita em parceria com o jornalista Ricardo Puggiali. Na biografia, Santos – além de sua história musical – conta como largou álcool e drogas em 2005 e se tornou coordenador numa clínica entre 2006 e 2009, além de fazer palestras/shows em escolas e faculdades.

Hoje em dia, além de fazer 15 shows solo por mês do DVD "A Festa Rock" e estar lançado seu oitavo disco solo "Desacelerando ( canções simples de uma noite fria)" que já está nas rádios e plataformas digitais, Rodrigo montou outra banda, com o guitarrista inglês Andy Summers (The Police) e o baterista João Barone (Paralamas), chamada Call The Police. Estão rodando o mundo com a tour e Rodrigo canta e toca o baixo em todo o show, com repertório do The Police. Santos também está cantando junto de Leila Pinheiro e Roberto Menescal na tour "Faz Parte do Meu Show - Cazuza em Bossa Nova".  Rodrigo Santos se apresentou solo com muito sucesso nas 4 ultimas edições do Rock In Rio (2011/2013/2015/2017) . Além de ter tocado com Barão na edição de 2001 e com Lobão em 91.

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