Quando comecei a surfar, alguns amigos de infância acabaram sendo músicos e surfistas também. Caso de André Estrella, irmão de João (personagem principal da história do filme “Meu Nome Não É Johnny”, protagonizado por Selton Mello). Outro grande amigo era Marcelo Serrado (ator e gaitista), que estudava no colégio Souza Leão. Junto a eles, o goleiro-baterista Felipe Moreira Leite, que viria a ser um grande companheiro de futebol, música e vida (Felipe foi o goleiro do time do Barão na década de 90, na primeira edição do primeiro campeonato de músicos peladeiros televisionado, o Rock Gol da MTV, além de ter trabalhado de roadie do Kadu com Leo Jaime). O Prisma era a banda deles. O baixista era Alexandre Moreira (depois BossaCucaNova). Quando Alexandre saiu do grupo, me convidaram pra entrar. Ali a influência da gente já era Dire Straits, Santana, Barão, etc. Mais rock de praia e guitarras. Nito Lima completava o time na outra guitarra. Nito e André tocavam chorinho, MPB e violões de nylon também. Nessa época, eu, André e Nito começamos a ter aulas de regência com o maestro Ugo Marotta. Gravamos um disco com ele, cada um num violão de nylon.
Ao mesmo tempo, eu já havia tido 10 aulas de baixo com meu mestre Nico Assumpção. Todas as bandas tinham o costume de assistir a shows instrumentais no Parque da Catacumba ou no Jazz Mania. Escolhi o professor de baixo que era o melhor de todos. Comecei a ter aulas de canto também com Dona Giannina, uma italiana bem idosa que empregava um grande método e ensinava também a grandes cantoras da época, como Cecilia Spyer, que cantava com Caetano Veloso. Aliás, os shows do Caetano e Gil já eram imprescindíveis, no início dos 80. Eram também nossas escolas musicais músicos maravilhosos, como Arnaldo Brandão, Perinho Santana, Tomaz Improtta, Jorginho Gomes, Dadi, Didi Gomes,Mauro Senise, Ricardo Silveira, Marcos Ariel & grupo Usina, João Batista, Robertinho Silva, Zé Luis Segnieri, e por aí vai.
Comecei a investir nas aulas e cursos, na mesma época em que cursava Administração de Empresas na PUC. Ali eu já tinha uma nova turma de música, surf, futebol, e comecei a jogar squash. Guilherme Fiuza também fazia parte dessa turma, e o Prisma reuniu tudo de bom pra viver. Entrei no lugar do Alexandre (que trocou o baixo por teclado e produções audaciosas e é voltado ao eletrônico-bossa-jazz).
Meu primeiro show com o Prisma foi no sarau do Souza Leão. Lotado. Tínhamos um público bem grande, o pessoal das escolas e da praia. Nesse dia, meu baixo só tinha 3 cordas. E fiz um solo enorme. Na plateia estava um cara que viria a ser grande amigo meu: Sergio Serra (que seria guitarrista de Leo Jaime, Ultraje, Barão, Legião, Cássia Eller, Lobão, entre outros. Serginho adorou o solo de baixo com 3 cordas – loucos como nós, adoramos essas coisas despretensiosas – e veio imediatamente se apresentar a mim. Já ficamos amigos ali. O Prisma foi um sucesso. Enquanto eu e Kadu continuávamos a manter a amizade nas viagens a Petrópolis, etc, eu abria uma nova turma de vida. E Kadu montava o Front, nessa época, banda que já flertava com Police, New Wave, etc., e tinha no baixo Bruno Araujo (depois tocou com Lobão e Legião), Ricardinho Palmeira (depois tocou com Cazuza, além das bandas em que tocamos juntos mencionadas mais a seguir ), e Nani Dias (também tocaríamos juntos com os Britos e outras). O vocal era o Beto Sussman.
O Prisma era “concorrente” do Front, do Desvio Padrão e da Pedra Bonita no circuito carioca de bandas novas. Todos nós éramos amigos de praia, tocávamos em festas bombadas na Zona Sul carioca e viajávamos juntos com nossas namoradas. Fizemos shows na Barraca do Pepê, várias vezes. Fizemos um sarau no colégio São Vicente junto aos Paralamas do Sucesso – já com 2 músicas na rádio Fluminense FM e embarcando nas rádios abertas em rede nacional, como Cidade e Transamérica, aproveitando a brecha do estouro bombástico de Blitz, Ritchie, Herva Doce, Roupa Nova, Rádio Taxi, e Lulu Santos. Kid Abelha invadiria a seguir, e os meninos do Biquini Cavadão também. Aliás, tirei carteira de músico com eles, no mesmo dia. Cantei e toquei no violão “Sapato Velho” do Roupa Nova, e fiz o teste do baixo, com amplificador BAG7 Giannini emprestado pelo baixista do Biquini (Sheik) tocando “Alice”, do Kid Abelha.
Era a hora de um show mais ambicioso para o Prisma ‒ tínhamos 2 músicas entrando também na rádio Fluminense. Portanto, fomos eu e João conversar com o dono do Teatro da Galeria, na rua Senador Vergueiro.
Sobre o Autor
Rodrigo Santos
Há 36 anos contando a história do pop rock nacional, o baixista e vocalista Rodrigo Santos foi durante 26 anos artista do Barão Vermelho (1991/2017) e também tocou com Lobão, Kid Abelha, Leo Jaime, Miquinhos Amestrados, Os Britos, Blitz e Moska.
Santos está em carreira solo há 11 anos, tendo lançado durante esse tempo solo 7 CDs (6 autorais), 2 DVDs e 1 livro – sua biografia, escrita em parceria com o jornalista Ricardo Puggiali. Na biografia, Santos – além de sua história musical – conta como largou álcool e drogas em 2005 e se tornou coordenador numa clínica entre 2006 e 2009, além de fazer palestras/shows em escolas e faculdades.
Hoje em dia, além de fazer 15 shows solo por mês do DVD "A Festa Rock" e estar lançado seu oitavo disco solo "Desacelerando ( canções simples de uma noite fria)" que já está nas rádios e plataformas digitais, Rodrigo montou outra banda, com o guitarrista inglês Andy Summers (The Police) e o baterista João Barone (Paralamas), chamada Call The Police. Estão rodando o mundo com a tour e Rodrigo canta e toca o baixo em todo o show, com repertório do The Police. Santos também está cantando junto de Leila Pinheiro e Roberto Menescal na tour "Faz Parte do Meu Show - Cazuza em Bossa Nova". Rodrigo Santos se apresentou solo com muito sucesso nas 4 ultimas edições do Rock In Rio (2011/2013/2015/2017) . Além de ter tocado com Barão na edição de 2001 e com Lobão em 91.