O ano era 1969. O Brasil jogava as eliminatórias pra Copa de 70. Tostão e Pelé arrebentando. Eu me lembro de ir com meu pai ao Maracanã nessa época. E foi no ‒ até hoje ‒ jogo mais cheio da história do estádio, em seu maior tamanho. 180.000 pessoas, se não me engano. Vi no último andar, com uma fila de gente à frente, em cima dos ombros do meu pai, o Brasil vencer o Paraguai por 1×0. E o país estava em plena ditadura. Tudo relacionado à arte lá de fora demorava meses, anos, a chegar por aqui.
Era o ano do festival de Woodstock, surgiam Hendrix, The Who, Crosby, Stills and Nash e Joe Cocker. Aqui saíamos da Bossa Nova para a Tropicália, Os Novos Baianos e, em seguida, Secos e Molhados.
Sim, o homem pisava na Lua, mas nós estávamos muito atrasados aqui na Terra Brasil. Torturas aconteciam, alguns tios se escondiam por serem de extrema esquerda, e nós vivíamos escutando histórias de gente que sumia! Eram tempos nublados, apesar da praia no Píer de Ipanema dar altas ondas e virar um point libertário de surfe, maconha e encontros. Minha tia me levava à praia lá. E todos os amigos do meu irmão mais velho e da minha irmã mais velha ali pegavam onda.
Alguns refúgios eram Saquarema, Petrópolis, Búzios, etc. A juventude queria ter sua própria voz, mas não tinha. Então a galera conseguia, em casas de campo ou de praia, fazer coisas que na cidade não podia: se reunir, levar um som, curtir a vida sem ser perseguido. Sempre havia blitz de polícia, gente sendo presa, pessoas assustadas, e não sabíamos quanto tempo duraria aquilo. O país pedia socorro.
E eu era pequeno, tinha meus 5 anos de idade nessa época, quando escutei algo na rádio que mudaria minha vida pra sempre. Não por acaso: “HELP!”
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Sobre o Autor
Rodrigo Santos
Há 36 anos contando a história do pop rock nacional, o baixista e vocalista Rodrigo Santos foi durante 26 anos artista do Barão Vermelho (1991/2017) e também tocou com Lobão, Kid Abelha, Leo Jaime, Miquinhos Amestrados, Os Britos, Blitz e Moska.
Santos está em carreira solo há 11 anos, tendo lançado durante esse tempo solo 7 CDs (6 autorais), 2 DVDs e 1 livro – sua biografia, escrita em parceria com o jornalista Ricardo Puggiali. Na biografia, Santos – além de sua história musical – conta como largou álcool e drogas em 2005 e se tornou coordenador numa clínica entre 2006 e 2009, além de fazer palestras/shows em escolas e faculdades.
Hoje em dia, além de fazer 15 shows solo por mês do DVD "A Festa Rock" e estar lançado seu oitavo disco solo "Desacelerando ( canções simples de uma noite fria)" que já está nas rádios e plataformas digitais, Rodrigo montou outra banda, com o guitarrista inglês Andy Summers (The Police) e o baterista João Barone (Paralamas), chamada Call The Police. Estão rodando o mundo com a tour e Rodrigo canta e toca o baixo em todo o show, com repertório do The Police. Santos também está cantando junto de Leila Pinheiro e Roberto Menescal na tour "Faz Parte do Meu Show - Cazuza em Bossa Nova". Rodrigo Santos se apresentou solo com muito sucesso nas 4 ultimas edições do Rock In Rio (2011/2013/2015/2017) . Além de ter tocado com Barão na edição de 2001 e com Lobão em 91.
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[…] tempo que formei uma dupla de violão com meu primo, comecei a ficar fascinado pela história dos Beatles. Na mesma rua em que nasci, em 05/04/64 (dia cheio de tanques na rua por conta do golpe militar que […]