Após o show do Planetário, resolvemos gravar um disco. Meu pai bancou essa parte. Fomos só até a metade das gravações. Meu baixo era um Giannini e acabei pegando emprestado um baixo do Ben Hur, amigo dos outros da banda, é excelente músico por sinal. Ele e Felipão, outro egresso da Pró Arte, eram os músicos da época. Não lembro o baixo que usei, mas era melhor que o meu. Gravamos umas 6 músicas no estúdio Tok (depois chamado de Retok) com o melhor técnico de som do RJ (Nelson Nuccini, que depois eu viria a trabalhar na década de 90 com o Barão, e que era um grandíssimo profissional. Nelson trabalhou também com Marisa Monte).
As fitas de rolo eram as usadas pra gravação (BASF, geralmente). Tínhamos de tocar direito, e éramos muito bons em estúdio também. Eu e Alonso traçávamos as linhas melódicas das vozes e fazíamos as letras. As instrumentais ficavam a cargo do Valladão, às vezes Kadu. Músicas com nomes horrorosos como “J ao quadrado”.
Os ensaios foram na casa do Kadu, revestida de cortiça no quarto e com uma caixa de baixo imensa que eu usei muito (montada por ele para as festas que ele operava como DJ). O detalhe dessa gravação e que depois resultaria no fim da banda, é que, influenciados por Bacamarte (grupo progressivo brasileiro que tinha a Jane Duboc como cantora front-woman) e por bandas como Yes, Jehtro Tull, Gênesis, Renaiscence e Mutantes, resolvemos chamar uma cantora, um flautista saxofonista louco (Guilherme “Guilli”) e um tecladista bem surreal (Claudio “Caveira”).
Eu chegava da praia pra ensaiar – com o pé cheio de areia, já começando a aprender a surfar – e já não éramos mais um quarteto, e sim um septeto deformado. Assim entramos em estúdio “modo avião-formato progressivo”. Todas as bandas pareciam que tinham de ter por obrigação progressiva, voz aguda, feminina ou masculina (rsrs).
Gravamos e o disco não saiu . A banda acabou logo a seguir. O formato quarteto Beatles havia dado lugar à chata música progressiva e muita gente pra marcar ensaio. Implodimos. O material ficou muito bom, meu pai gastou uma grana, e nada aconteceu. Nada? Não. Foi uma maravilhosa primeira experiência em gravação em um puta estúdio, com fone, click, etc., que me daria uma base ótima depois pra gravar rápido com João Penca, Leo Jaime e Lobão, na sequência dos 80. Fez a diferença pra todos nós e meu entrosamento de baixo e bateria com Kadu nascia ali de forma profissional.
Assim nos tornamos amigos e junto com Valladão, tocamos até hoje em diversos trabalhos, incluindo Front e Kid Abelha entre os já citados.
Sobre o Autor
Rodrigo Santos
Há 36 anos contando a história do pop rock nacional, o baixista e vocalista Rodrigo Santos foi durante 26 anos artista do Barão Vermelho (1991/2017) e também tocou com Lobão, Kid Abelha, Leo Jaime, Miquinhos Amestrados, Os Britos, Blitz e Moska.
Santos está em carreira solo há 11 anos, tendo lançado durante esse tempo solo 7 CDs (6 autorais), 2 DVDs e 1 livro – sua biografia, escrita em parceria com o jornalista Ricardo Puggiali. Na biografia, Santos – além de sua história musical – conta como largou álcool e drogas em 2005 e se tornou coordenador numa clínica entre 2006 e 2009, além de fazer palestras/shows em escolas e faculdades.
Hoje em dia, além de fazer 15 shows solo por mês do DVD "A Festa Rock" e estar lançado seu oitavo disco solo "Desacelerando ( canções simples de uma noite fria)" que já está nas rádios e plataformas digitais, Rodrigo montou outra banda, com o guitarrista inglês Andy Summers (The Police) e o baterista João Barone (Paralamas), chamada Call The Police. Estão rodando o mundo com a tour e Rodrigo canta e toca o baixo em todo o show, com repertório do The Police. Santos também está cantando junto de Leila Pinheiro e Roberto Menescal na tour "Faz Parte do Meu Show - Cazuza em Bossa Nova". Rodrigo Santos se apresentou solo com muito sucesso nas 4 ultimas edições do Rock In Rio (2011/2013/2015/2017) . Além de ter tocado com Barão na edição de 2001 e com Lobão em 91.